Artigo Sobre Informatica E Sociedade? - CLT Livre

Artigo Sobre Informatica E Sociedade?

Artigo Sobre Informatica E Sociedade
As transformações em direção à sociedade da informação,em estágio avançado nos países industrializados,constituem uma tendência dominante mesmo paraeconomias menos industrializadas e definem um novoparadigma, o da tecnologia da informação, que expressa aessência da presente transformação tecnológica em suasrelações com a economia e a sociedade.
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Quais são as implicações metodológicas da informática?

7. Conclusão – Ao longo desse texto nós recorremos algumas vezes ao modo de viver dos povos originários do Brasil porque eles apresentam uma imensidão de exemplos de compreensões de mundo que foram construídas e sobrevivem de forma independente das categorias modernas (divisão em áreas de conhecimento, disciplinas etc.) e das prerrogativas modernas de construção do saber (neutralidade, universalidade, dentre outras).

Essas visões de mundo nos ajudam a escapulir de uma repetição reiterada de agir e fazer ciência que fortalece a perspectiva única hegemônica e jogam na invisibilidade qualquer outra maneira de pensar. Observe que não estamos afirmando o descrédito e a rejeição da ciência, como fazem as manifestações negacionistas que fecham os olhos às evidências, desde as alterações climáticas à forma arredondada da Terra.

Seguimos a proposição de que uma outra ciência é possível () em que todo o processo de racionalização científica (da observação, formulação de hipótese à reprodução do experimento e validação), bem como as noções de verdade, objetividade, certeza, rigor sejam amparadas em perspectivas historicamente situadas.

  1. Isto significa admitir uma compreensão pública da ciência, ou seja, admitir que seja entendida, rastreada, acompanhada e regulada por não-especialistas.
  2. Tanto quanto a ciência, também queremos argumentar que uma outra educação é possível, e para não sucumbir nas práticas educativas autoritárias às quais fomos submetidos é necessário termos em mente, mundos que não queremos repetir.

Esse capítulo, amparado por não-objetivos, propõe uma compreensão da informática-sociedade não-neutra, não-universal, não-pura, não-linear, não-autoritária. O que teremos depois de tantos nãos? Uma compreensão do mundo como uma rede dinâmica, que acolhe e gosta das diferenças, que se ajusta e acompanha a vida.

  1. Portanto, não apresentamos conclusões carregadas de positivismo que possam levar a proposições gerais.
  2. No lugar disso, vamos como : cabeça nas alturas, porque arte, liberdade de criação, e respeito à imaginação são necessários, pés no chão, para não perder de vista os rastros que amparam as nossas falas, e mãos à obra, em nosso tempo, em nossa vida, tecendo nossas redes.

Para evitar o contato com a radiação consequente do em 1986, o governo Ucraniano decretou a criação uma zona de exclusão, uma área esvaziada de humanos, em um raio de 30 km em torno do local do acidente. Instituiu-se um “vazio de vida”, já que fauna e flora também foram destruídas pela radiação.

Estimou-se que o local só estaria seguro para a presença humana 20 mil anos após o acidente. Mas, espantosamente após 30 anos, foi constatada a presença de javalis, lobos, alces, veados, ursos, e a paisagem de florestas e prados ressurgiu. Levando em conta as imensas proporções dos acidentes naturais causados pela ocupação humana (destruição da camada de ozônio, descongelamento das geleiras, destruição da Floresta Amazônica, etc), a reconstituição da vida em Chernobil levantou a hipótese de que,

Hoje, o isolamento social necessário ao controle da pandemia COVID19, parece também confirmar esta hipótese. Temos nos surpreendido, Seria a presença humana nociva ao meio ambiente? Os povos que já habitavam o Brasil antes da invasão do colonizador não confirmam essa hipótese.

Em manifestação na Assembléia Constituinte, em 1987, Ailton Krenak deixou claro: Ailton Krenak – Discurso na Assembleia Constituinte Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=TYICwl6HAKQ O povo indígena tem um jeito de pensar. Tem um jeito de viver. Tem condições fundamentais para a sua existência e para a manifestação da sua tradição, da sua vida, da sua cultura, que não coloca em risco e nunca colocaram a existência sequer dos animais que vivem ao redor das áreas indígenas, quanto mais dos seres humanos.

(, 5 min 40 seg) A hipótese de que o ser humano é nocivo ao meio ambiente só se sustenta sob a narrativa hegemônica, ou seja, o pressuposto universalista de que qualquer ser vivo merecedor do adjetivo “humano” vive sob as mesmas condições produtivistas e consumistas da sociedade moderna.1) Em outra entrevista, Krenak fala da concepção de mundo como um organismo vivo, inteligente, o que, no ambiente científico se chama Teoria de Gaia.

Ele conta que as pesquisas científicas embasadas nessa teoria foram silenciadas na década de 1970 sob a acusação de rejeitarem o evolucionismo darwinista, de modo que no final da década de 1990, já não havia mais nenhuma pesquisa nesta linha que fosse financiada. Mas, agora, nos últimos digamos 5,6 anos pra cá com o agravamento da crise climática, com a questão do planeta fervendo, e com todas as evidências, esses cientistas começaram a declinar da posição cética deles e estão querendo entender a Teoria de Gaia.

Ora, a Teoria de Gaia é pra explicar pra incrédulos, porque quem já ouvia a voz das montanhas, dos rios e das florestas, não precisa de uma teoria sobre isso. Toda teoria é o esforço de explicar pros cabeças duras a realidade que eles não enxergam. (, 6 min 30 seg) A partir desta entrevista, concedida no momento da pandemia de COVID19, reflita sobre as intolerâncias da ciência hegemônica em considerar explicações consideradas por ela como não científicas, e como uma situação de catástrofe ou emergência obriga a reverter essa atitude.

  • Estudar a informática tomando como base em seus “impactos” sobre a sociedade ou os “impactos” da sociedade sobre a informática pressupõe separar esses domínios (informática e sociedade) como se tivessem fronteiras bem definidas e arbitrar uma hierarquização onde um domínio age sobre o outro.
  • A implicação metodológica é que os entrelaçamentos entre eles são negligenciados.

Dinâmica, plasticidade, aceleração, efemeridade que percebemos nas configurações da sociedade com a informática são descuidados. Propomos aqui uma abordagem onde informática e sociedade são estudadas como um enredamento. Para isso, recusamos as noções de neutralidade e universalidade da Informática através de uma narrativa dirigida por não-objetivos,

  • Essa abordagem oferece possibilidades de contribuições efetivas à compreensão das configurações contemporâneas e é o ponto de partida para o enfrentamento dos desafios que a informática pretende superar na educação ou na sociedade em geral.
  • Neste texto, Ivan da Costa Marques reforça o argumento de que a baixa participação nas atividades de concepção, projeto e planejamento estabelece uma desvantagem comparativa para os brasileiros na reconfiguração das oportunidades de trabalho e de agregar valor nas novas cadeias produtivas mais informacionalizadas.

() Desde o seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, e m 1987, quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Ailton Krenak se destaca como um dos mais importantes pensadores brasileiros.

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  7. Fernando Gonçalves Severo () Possui graduação em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense (2006), mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016) e doutorado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistema e Computação da COPPE/UFRJ (2017), na linha de pesquisa Informática e Sociedade.

Henrique Luiz Cukierman () Possui graduação em Engenharia de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1977), mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), doutorado em Engenharia Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e doutorado sanduíche junto ao Program In History and Philosophy of Science da Stanford University (2001).

Atualmente é professor associado da UFRJ, onde atua na graduação como professor do curso de Engenharia de Computação e Informação e nas pós-graduações do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da COPPE/UFRJ e do Programa de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia. Dedica-se principalmente aos seguintes temas: redes sociotécnicas, histórias das ciências, histórias da informática, abordagem sociotécnica da Engenharia de Software.

Publicou em 2007 o livro “Yes, nós temos Pasteur – Manguinhos, Oswaldo Cruz e a história da ciência no Brasil”, editado pela Relume Dumará/FAPERJ. Foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt e selecionado em 2019 pela Comissão Fulbright para ocupar a UT-Fulbright Chair in Brazilian Studies (Austin).

Foi Superintendente Acadêmico de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ (2015-2016). Isabel Cafezeiro () Possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Federal Fluminense (1992), mestrado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1994), doutorado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000) e pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ.

É professora Titular da Universidade Federal Fluminense, professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, da UFRJ. Atua na área de Ciência da Computação, com ênfase em Lógicas e Semântica de Programas, focando principalmente nos seguintes temas: linguagens de programação e especificação formal de sistemas.

  • Atua na área de Sistemas de Informação focando principalmente nos seguintes temas: Computação e Sociedade e Abordagens Sociotécnicas em Sistemas de Informação.
  • Atua na área de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, focando principalmente a História da Computabilidade e investigações sobre o trabalho acadêmico.

Atua em ensino de graduação na Universidade Federal Fluminense desde 1994 e coordena projetos de extensão desde 2005. Participou do processo de concepção e implantação do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da Universidade Federal Fluminense.

  1. Ivan da Costa Marques () Ph.D. e M.Sc.
  2. Em Engenharia Eletrônica e Ciência da Computação (EECS) pela Universidade da California, Berkeley; Engenheiro Eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) com curso de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.
  3. Professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE), e Professor Colaborador dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia de Sistemas e de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.

Trabalhou três anos como Coordenador da Área de Política Industrial da CAPRE/Ministério do Planejamento (1977-1979), seis anos como empresário privado (Presidente da Embracomp-EBC de 1980 a 1985), e quatro anos como dirigente de empresa estatal (Presidente da Cobra de 1986 a 1989).

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Visiting Research Fellow na New School for Social Research, Nova York, de 1990 a 1992. Desde 1992 dedicou-se ao desenvolvimento dos Estudos CTS no Brasil. Presidente da de 2012 a 2018. Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ (2015-2016). Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ.

CAFEZEIRO, Isabel; MARQUES, Ivan da Costa; GONÇALVES, Fernando; CUKIERMAN, Henrique. Informática é Sociedade. In: SANTOS, Edméa O.; SAMPAIO, Fábio F.; PIMENTEL, Mariano (Org.). Informática na Educação : sociedade e políticas. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2021.
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Quais são os desafios na construção de sociedades da informação?

DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DE SOCIEDADES DA INFORMAÇÃO Exageros especulativos à parte, é preciso reconhecer que muitas das promessas do novo paradigma tecnológico foram e estão sendo realizadas, particularmente no campo das aplicações das novas tecnologias à educação. Educação à distância, bibliotecas digitais, videoconferência, correio
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Quais são as promessas da Sociedade da informação?

Partindo de um conceito que ressalta as características do novo paradigma técnico econômico e critica as concepções deterministas e evolucionistas da mudança social, apresentam-se as promessas da sociedade da informação que justificam o esforço da sociedade na sua construção.
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Qual a diferença entre educação e Informática?

1. O desnudamento dos mundos e o inevitável embaralhamento de categorias: técnico, social, político e práticas educativas – Em primeiro lugar, faço questão enorme de ser um homem de meu tempo e não um homem exilado dele, o que vale dizer que não tenho nada contra as máquinas.

  • De um lado, elas resultam e de outro estimulam o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, que, por sua vez, são criações humanas.
  • O avanço da ciência e da tecnologia não é tarefa de demônios, mas sim a expressão da criatividade humana.
  • Por isso mesmo, as recebo da melhor forma possível.
  • Para mim, a questão que se coloca é: a serviço de quem as máquinas e a tecnologia avançada estão? Quero saber a favor de quem, ou contra quem as máquinas estão postas em uso Uma pergunta política, que envolve uma direção ideológica, tem de ser respondida politicamente.

Para mim os computadores são um negócio extraordinário. O problema é saber a serviço de quem eles entram na escola. Será que vai se continuar dizendo aos educandos que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil? Que a revolução de 64 salvou o país? Salvou de que, contra que, contra quem? Estas coisas é que acho que são fundamentais.

  1. A década de 1980 marcou a entrada da antropologia nos laboratórios quando a “tribo” dos cientistas passou a ser estudada a partir de suas práticas cotidianas.
  2. De lá para cá, foi ganhando espaço uma compreensão que privilegia o fazimento dos conhecimentos técnicos e científicos, ou seja, o estudo da ciência em ação (e não mais somente da ciência já pronta), da ciência enquanto é feita, enquanto ainda não há certezas, mas apenas apostas.

Observar cientistas em ação permitiu elaborar uma compreensão dos fatos científicos e artefatos tecnológicos como objetos, ou melhor, como entidades que se estabilizam em configurações de redes de elementos heterogêneos. Referências seminais dos chamados “Estudos de Laboratório” são,,, e,

  1. Esta última referência foi republicada em 1986 retirando a palavra “social” do título.
  2. Na figura, a capa da edição brasileira da primeira referência citada acima:,
  3. Compreender a atividade científica como um enredamento de objetos e sujeitos coloca em xeque as chamadas “análises de impacto social”, para as quais a imbricação informática-sociedade deveria ser estudada apenas a partir de uma coleção de “impactos da informática na sociedade”.

Em tais análises, a informática é “técnica” e a sociedade é “social”. Segundo esses entendimentos, os computadores são objetos puros que saem dos laboratórios e invadem o território da sociedade, atravessando-o como vagões que podem ser esvaziados e/ou carregados de conteúdos.

  • É notável que essa interpretação do mundo a partir dos impactos da ciência sobre a sociedade também tem seus efeitos na educação.
  • Quando se entende a informática como uma ciência ou atividade exclusivamente técnica e a educação como uma ciência ou atividade integralmente social, fica estabelecida uma demarcação que divide, por exemplo, algoritmos, linguagens, circuitos e ferragens de um lado, e pessoas e organizações de outro.

Ao tratarmos a informática entrelaçada, ou melhor, enredada com a sociedade, estamos por efeito fazendo um movimento de conciliação entre a informática e a educação. É possível enxergá-lo no caso em particular da educação em informática: se parte importante dela reside na habilidade em manipular abstrações formais, essa conciliação obriga a não tomar essas abstrações apartadas dos artefatos em operação, seus comportamentos, ou sua inserção em um mundo feito de pessoas e atividades.

Embora o movimento de entrada da antropologia nos laboratórios tenha ocorrido na Europa e nos EUA, aqui no Brasil a década de 1980 trazia questionamentos ressonantes. Ainda nos anos 1970, Paulo Freire publicava a sua “Pedagogia do Oprimido”, resultado de reflexões sobre propostas educativas para o Brasil que haviam sido interrompidas pelo golpe militar de 1964, e a efetivação de algumas destas propostas no Chile, em tempos de exílio.

Nesta obra Paulo Freire descreve a educação como um sistema bancário, onde os alunos recebem depósitos de conhecimentos, como vasilhas a serem enchidas pelo educador: “quanto mais vá ‘enchendo’ os recipientes com seus depósitos, tanto melhor o educador será.

  • Quanto mais se deixem docilmente ‘encher’, tanto melhores educandos serão” (, p.33).
  • Assim como os antropólogos europeus, Paulo Freire percebeu e denunciou o inevitável imbricamento entre o sistema social e político e as práticas educativas.
  • Daí, a impossibilidade de pensar uma proposta educativa eficaz que se fundamente sobre uma separação entre dois mundos, o “mundo da técnica” (não somente no que diz respeito às tecnologias da informática, mas também aos conceitos estabilizados e abstratos que se apresentam no campo da pedagogia, por exemplo) e o “mundo social”.

É sobre essa separação que reside a concepção de “impacto”: de um lado a sociedade, de outro a técnica em uma perceptível diferença em favor da técnica: ela sobrepõe-se e exerce seus impactos sobre a (dócil!) sociedade. Pois bem, não é esse o entendimento que oferecemos neste capítulo.

  1. Fonte: “Pedagogia do Oprimido”, obra do pedagogo pernambucano Paulo Freire (), primeira edição em 1968, é a terceira mais citada em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento feito no – ferramenta de pesquisa dedicada à literatura acadêmica.
  2. O professor associado da London School of Economics (LSE), Elliott Green, analisou as obras mais citadas em trabalhos disponíveis na ferramenta, criada em 2004, que é desde então uma referência crescente para pesquisas, graças a sua acessibilidade.

Segundo ela, Freire é citado 72.359 vezes, atrás do filósofo americano Thomas Kuhn (81.311) e do sociólogo, também americano, Everett Rogers (72.780). Ele é mais referido do que pensadores como Michel Foucault (60.700) e Karl Marx (40.237). Fonte: Nós partimos da percepção de que o mundo da vida, o mundo em que trabalhamos e gozamos, em que suamos, amamos e odiamos nem é separável do mundo em que pensamos, nem é o mundo dos conceitos ou das chamadas abstrações.

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Mesmo se constrangidos a pensarmos conceitualmente em computadores e bancos de dados, e por extensão em informática, e em consumidores, cidadãos, eleitores e autoridades, e por extensão em sociedade, certamente não temos como evitar a constatação que teclamos, clicamos, olhamos, tocamos e escrevemos em telas ou papel, e que nos juntamos encarnados em Fernando, Henrique, Isabel e Ivan para escrever este capítulo — uma situação muito diferente de considerar que aqui nós teríamos saltado para um mundo de abstrações puras e apartado das nossas vidas.

Esta percepção nos leva a compartilhar com você que nos lê visões não abstratas de informática-sociedade. A informática e a sociedade, além de formarem um “tecido sem costura”, são sempre concretas, materiais, encarnadas, isto é, localizadas e situadas, inextrincavelmente misturadas com o onde, o quando, o quê e o quem.

  • É nesse sentido que nos afastamos da ideia de “objetos puros”, ou de “conceitos abstratos”, que, sem a materialidade dos artefatos e a corporeidade dos humanos, acabam por esconder as condições do lugar, do momento, do porquê e do por quem foram concebidos.
  • Pelos mesmos motivos, nos afastamos das abordagens ditas “globais” (; ), onde objetos e conceitos são apresentados como se não pertencessem a lugar nenhum ou, dito de outro modo, como se pudessem pertencer sem modificações a qualquer lugar.

Em vez disso, buscamos verificar que objetos e conceitos, quando adentram o mundo da vida, estão sempre carregados de localidades, e daí a importância de uma perspectiva historicamente situada da informática-sociedade, um agora que abraça passado e futuro, no qual se percebe o percurso de co-construção de objetos/conceitos e sociedades.

Ao mesmo tempo, também verificamos que esses objetos ou conceitos — computadores, bancos de dados, linguagens de programação, profissões, consumidores, trabalhadores, eleitores — sempre carregados de localidades, agem nas redes onde são postos em uso, provocando reconfigurações e rearranjos tanto em si próprios como também nas redes.

Para compreender esse intrincado movimento, como sugeriu Paulo Freire, é preciso estar sempre perguntando em cada lugar e cada momento “em benefício de quem ou de quê?”. Isto permite esclarecer os novos vínculos e compromissos que os objetos/conceitos assumem na (quadro a seguir).

Com o cuidado de não fixar uma noção de igualdade geral como se “índio” significasse uma categoria homogênea, podemos recorrer às compreensões de mundo dos povos originários do Brasil para elaborar a proposta de uma perspectiva historicamente situada, que vem a contribuir no nosso caso, para compreender a informática-sociedade e suas práticas educativas.

Pelo fato de viverem em comunidade, e orientarem suas práticas cotidianas pela cooperação e construção de coisas coletivas, muitas culturas indígenas brasileiras formaram compreensões de mundos diferentes daquela que vigora na cultura hegemônica, esta última, dirigida pela construção de “sujeitos produtivos”, aqueles que alimentam e fazem mover os mecanismos de consumo.

Podemos observar uma distinção entre o conceito de tempo difundido pela cultura europeia (linear e irreversível) e a forma como várias etnias e aldeamentos indígenas organizam o mesmo conceito, por ciclos e mudanças. A “canoa do tempo”, que faz parte da tradição oral e memória dos Guaranis consiste em “uma noção de sequência, um antes e um depois, mas isso não implica em uma sequência demarcada entre passado e futuro, que, em vez de separados pelo presente estariam dentro do agora.

Um presente que se recria constantemente pela inclusão de outras temporalidades, como demonstra a sabedoria do arco e flecha, que se lança ao futuro pelo recuo ao passado”. Uma perspectiva historicamente situada pode ser pensada como o agora que abraça passado e futuro.

  1. Passado porque nossas coisas e conceitos foram construídos com/na vida.
  2. Futuro porque as redes de relacionamentos vão se estabelecendo na configuração do que está por vir.
  3. O video a seguir é sobre a construção da exposição: Exposição Dja Guata Porã (traduzindo da língua Guarani para o português, Caminhar bem, caminhar juntos) Museu de Arte do Rio (MAR), 2017, que marcou a presença indígena no Rio de Janeiro Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=HJcxYBLiDUE&t=171s Vamos aqui então abordar a Informática a partir de um espaço de mistura e enredamento das categorias que são usualmente adotadas em separado (o técnico x o social, o abstrato x o concreto, o local x o global, o passado x o presente x o futuro).

Essas misturas não surpreendem quando tomamos a experiência vivida (e não as categorias e classificações já estabilizadas pelas disciplinas e áreas de conhecimento) como referencial de estudo. Paulo Freire diria: “é o desnudamento do mundo, a sua transformação” (), é um processo que nos leva a perceber a necessidade de escapar da abordagem linear com que nos habituamos a compreender nossos objetos e conceitos para perceber recorrências, retrocessos, intercorrências e interferências de múltiplos caminhos.

Entretanto, essas múltiplas possibilidades estarão sempre distantes de uma conclusão totalizadora, de uma explicação exaustiva e generalizante. E como figura o computador nessa abordagem? Desde muito antes da construção do computador, os matemáticos já sabiam da impossibilidade de construir uma máquina generalizante, que desse conta da totalidade de problemas, ou seja, de uma máquina que fosse de propósito geral no seu sentido amplo.

Diante das evidências de que não haveria esse dispositivo generalizante, a vida foi trilhando seus caminhos pela incompletude, mostrando outras e novas possibilidades que se materializaram nos sistemas que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Portanto, assim como qualquer outra tecnologia (quadro negro e giz, arco e flecha, telefones celulares), o computador acompanha vidas, pensamentos, matemáticas e máquina (ver ).

Ao rejeitar a tradicional separação entre ciência/tecnologia e sociedade, este capítulo se desenvolve na contramão das noções muito fortemente almejadas pelas concepções científicas da era moderna. Aqui entendemos que as tecnologias não são puras, não são neutras, não são universais, não são lineares e não são totalizantes.

Uma vez despojados destas prerrogativas modernas, permanecem conosco nossas vivências, nosso tempo, nosso lugar no mundo, e a partir desses elementos abraçamos uma abordagem situada da informática e da educação na sociedade para verificar que informática é sociedade.

Vamos em frente, como disse Boal em seu discurso de abertura do : “com a cabeça nas alturas, os pés no chão e mãos à obra!” Aprendendo com Boal | FSM 2009 (parte 1) Fonte: Aprendendo com Boal | FSM 2009 (parte 2) Fonte: No discurso de abertura do Fórum Social Mundial de 2009, realizado em Belém do Pará.

Boal trouxe assuntos do mundo para serem democraticamente discutidos e, como numa praça pública, inevitavelmente, sua fala veio carregada de localidades, questões do Brasil, questões importantes naquele ano de 2009. Elementos das usuais categorias sobre as quais que estamos acostumados a estruturar nossas falas, discursos, textos acadêmicos aparecem no discurso de Boal como uma rede: educação, política, cultura e arte, sem separações.
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