Artigo De Opinião Sobre Brumadinho?
Artigo : O crime de Brumadinho O rompimento de mais uma barragem, em Minas Gerais, não é a repetição de uma tragédia, nem de um erro da Vale, terceira maior empresa do país. É a reincidência de um crime
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Como está a luta dos moradores de Brumadinho?
‘Nunca mais’ – “Mariana, nunca mais.” Estas foram as palavras do CEO da Vale, Fabio Schvartsman, em um discurso em um auditório da empresa para colegas no dia em que tomou posse da empresa, em maio de 2017. Dois dias depois do desastre de Brumadinho, ele prometeu novamente em uma entrevista na televisão que trabalharia para “isso nunca mais acontecer”.
Moradores de Minas Gerais e Estados como o Pará, onde a empresa explora boa parte de seus minérios, e procuradores do Ministério Público estão céticos, já que esta não é primeira tentativa de colocar a Vale nos eixos. Eles reconhecem que levar uma empresa tão grande e influente a assumir responsabilidades não costuma acontecer de forma rápida ou simples.
Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Reunião entre moradores e representantes da Vale foi tensa Mas, até o momento, alguns juízes e políticos parecem estar mais atentos. Decisões judiciais já suspenderam algumas das operações mais rentáveis da Vale e congelaram R$ 12,6 bilhões (ou cerca de US$ 3,2 bilhões) em ativos da empresa.
- Vale lembrar que ainda não houve destinação para estes valores – e bloqueios semelhantes aconteceram após episódio de Mariana.
- No final da semana passada, outros oito funcionários da Vale, incluindo dois executivos, foram presos provisoriamente.
- Mandados de busca também foram servidos para quatro representantes da alemã TÜV SÜD.
Na última sexta-feira, após quase três anos engavetado, o Projeto de Lei 3.676/16, conhecido como ‘Mar de Lama Nunca Mais’, foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais por unanimidade. O texto, que contou com mais de 55 mil assinaturas da sociedade civil, traz mais etapas para processos de licenciamento ambiental e fiscalização e proíbe a construção de estruturas próximas a comunidades no Estado.
De volta a Brumadinho, a luta dos moradores por justiça e a reconstrução de suas vidas está apenas começando. Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Muitas das pessoas presentes estavam vivendo em abrigos temporários Sob uma enorme marquise branca, erguida como parte do esforço de resgate, mais de 400 pessoas esperaram sentadas pela chegada de representantes da Vale aparecerem.
Por semanas, muitas dessas famílias têm vivido em abrigos temporários, sobrevivendo de cestas básicas e água engarrafada, tudo financiado pela empresa. Com muitas escolas locais ainda fechadas, 30 ou mais crianças jogavam futebol na parte de trás da marquise.
Uma sala de aula improvisada foi criada por voluntários de igrejas, que oferecem pinturas faciais, um canto para leitura e um espaço com almofadas para descanso. Por gerações, a Vale tem sido a principal fonte de renda e estabilidade para as pessoas que moram aqui. Mas as mais de 300 vítimas e outros milhares de desabrigados e desempregados trouxeram aos moradores um misto de raiva e temor por impunidade.
Depois de quase uma hora de espera, três representantes da empresa aparecem. Mas o debate sobre compensações de emergência, abrigos e cadastros rapidamente escala para gritos e acusações. “Para matar, vocês são rápidos”, grita uma mulher no meio da multidão.
“Vocês mataram meu irmão em 10 segundos e agora vão esperar quantos meses para aliviar o que minha mãe está sentindo?” Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Respostas de representantes da Vale irritaram os moradores A resposta da Vale é burocrática e desperta lágrimas em uma plateia abalada e impotente.
“Neste momento, não podemos nos responsabilizar por algo que ainda está sendo avaliado. Primeiro, precisamos entender a extensão do problema “, diz um dos representantes da empresa. “Ainda não temos informações suficientes para responder a essas solicitações.” Semanas depois, quase um mês após o desastre, a Vale finalmente concordou em pagar renda de emergência às famílias.
O acordo prevê que todos os adultos que vivem em Brumadinho e em comunidades no entorno receberão um salário mínimo mensal (R$ 998), enquanto todas os adolescentes receberão metade de um salário (R$ 499) e as crianças terão direito a um quarto do salário: R$ 249,50 mensais. Os valores serão pagos por um ano, retroativos até a data da tragédia – 25 de janeiro.
Como os moradores, o município ainda aguarda esclarecimentos. Dias depois do desastre, o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, recebeu jornalistas na prefeitura e disse que a cidade “vive do minério”. “Cerca de 60% ou mais de nossa receita vem de royalties pagos pela mineração de minério de ferro.
- E a maior parte é paga pela Vale”, disse.
- Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, ‘Ainda não temos informações suficientes para responder a essas solicitações’, disseram representantes da Vale Segundo Barcelos, a cidade “pararia” sem os recursos.
- Vai parar o comércio, vai parar quase tudo na cidade.
Nós temos hoje 26 postos de Saúde da Família, temos hospital, Unidade de Pronto-Atendimento, temos as escolas, que nós dá o material escolar, tudo de primeira qualidade, nós não vamos ter como atender isso mais”, afirmou. “Infelizmente essa é a realidade e a gente vai cobrar da Vale.” Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Moradores fizeram pedidos durante a reunião, mas não foram atendidos Edmundo Netto Junior é um procurador federal que trabalha na força-tarefa que investiga a tragédia.
Ele passou todos os dias do ultimo mês visitando famílias que perderam – ou ainda procuram os corpos de – parentes. Uma das famílias incluía o pequeno William, de sete anos. A tia do garoto mostrou ao procurador um desenho feito por William naquela manhã. No centro da imagem está um helicóptero brilhante pintado de azul e branco.
Mas, pendendo da parte inferior da aeronave, uma linha comprida representa uma das redes usadas pelas equipes de salvamento para recolher corpos na lama. “Ele deu este desenho para um dos bombeiros e pediu para encontrarem seu avô”, conta Netto Junior.
- Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, William, de sete anos, desenhou helicóptero dos bombeiros durante resgate A pintura de William também mostra um traço vertical forte, desenhado logo atrás da rede dos bombeiros.
- A imagem lembra uma cicatriz escura cortando a paisagem.
- Isso é muito forte”, diz o experiente procurador.
“Esta é uma comunidade que foi marcada para sempre.” Para ele, as tragédias deveriam ensinar aos municípios que é necessário diversificar fontes de renda e emprego. “É preciso construir um modelo menos dependente, em que outas atividades econômicas sejam prestigiadas.
- A mineração ocupa áreas enormes que também poderiam estar produzindo outas coisas – sejam plantações, indústrias, seja comércio e serviços.” Para ele, Mariana e Brumadinho deveriam ter imposto um modelo de mineração sustentável ao país.
- Uma mineração menos lucrativa.
- As tragédias nos mostraram que empresas como a Vale lucram a partir dos riscos que impõem às comunidades.
O mesmo risco que reduz custos quando uma barragem é feita no modelo a montante permite a Vale um processo de mineração mais barato e rentável – mas também custos mais caros para a sociedade “, continua Netto Junior. “Esses custos foram escondidos sob o tapete por muito tempo, mas após a tragédia os prejuízos para a sociedade ficam cada vez mais claros”.
O desenho de um menino de apenas 7 anos seria um dos exemplos. “A comunidade esta traumatizada. E vai levar esses impactos psicológicos para a vida toda.” Crédito, Getty Images Legenda da foto, Esta é uma comunidade que foi marcada para sempre, diz procurador Reportagem: Ricardo Senra, com colaboração de Camilla Costa, Amanda Rossi e Nathalia Passarinho Produção: Claire Press Fotos: Derrick Evans Imagens adicionais: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Mariana Rocha, Marcelo Camargo/Ag.
Brasil, Getty Images, Google Maps, DigitalGlobe
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Qual o salário mínimo em Brumadinho?
‘Nunca mais’ – “Mariana, nunca mais.” Estas foram as palavras do CEO da Vale, Fabio Schvartsman, em um discurso em um auditório da empresa para colegas no dia em que tomou posse da empresa, em maio de 2017. Dois dias depois do desastre de Brumadinho, ele prometeu novamente em uma entrevista na televisão que trabalharia para “isso nunca mais acontecer”.
Moradores de Minas Gerais e Estados como o Pará, onde a empresa explora boa parte de seus minérios, e procuradores do Ministério Público estão céticos, já que esta não é primeira tentativa de colocar a Vale nos eixos. Eles reconhecem que levar uma empresa tão grande e influente a assumir responsabilidades não costuma acontecer de forma rápida ou simples.
Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Reunião entre moradores e representantes da Vale foi tensa Mas, até o momento, alguns juízes e políticos parecem estar mais atentos. Decisões judiciais já suspenderam algumas das operações mais rentáveis da Vale e congelaram R$ 12,6 bilhões (ou cerca de US$ 3,2 bilhões) em ativos da empresa.
Vale lembrar que ainda não houve destinação para estes valores – e bloqueios semelhantes aconteceram após episódio de Mariana. No final da semana passada, outros oito funcionários da Vale, incluindo dois executivos, foram presos provisoriamente. Mandados de busca também foram servidos para quatro representantes da alemã TÜV SÜD.
Na última sexta-feira, após quase três anos engavetado, o Projeto de Lei 3.676/16, conhecido como ‘Mar de Lama Nunca Mais’, foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais por unanimidade. O texto, que contou com mais de 55 mil assinaturas da sociedade civil, traz mais etapas para processos de licenciamento ambiental e fiscalização e proíbe a construção de estruturas próximas a comunidades no Estado.
- De volta a Brumadinho, a luta dos moradores por justiça e a reconstrução de suas vidas está apenas começando.
- Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Muitas das pessoas presentes estavam vivendo em abrigos temporários Sob uma enorme marquise branca, erguida como parte do esforço de resgate, mais de 400 pessoas esperaram sentadas pela chegada de representantes da Vale aparecerem.
Por semanas, muitas dessas famílias têm vivido em abrigos temporários, sobrevivendo de cestas básicas e água engarrafada, tudo financiado pela empresa. Com muitas escolas locais ainda fechadas, 30 ou mais crianças jogavam futebol na parte de trás da marquise.
Uma sala de aula improvisada foi criada por voluntários de igrejas, que oferecem pinturas faciais, um canto para leitura e um espaço com almofadas para descanso. Por gerações, a Vale tem sido a principal fonte de renda e estabilidade para as pessoas que moram aqui. Mas as mais de 300 vítimas e outros milhares de desabrigados e desempregados trouxeram aos moradores um misto de raiva e temor por impunidade.
Depois de quase uma hora de espera, três representantes da empresa aparecem. Mas o debate sobre compensações de emergência, abrigos e cadastros rapidamente escala para gritos e acusações. “Para matar, vocês são rápidos”, grita uma mulher no meio da multidão.
Vocês mataram meu irmão em 10 segundos e agora vão esperar quantos meses para aliviar o que minha mãe está sentindo?” Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Respostas de representantes da Vale irritaram os moradores A resposta da Vale é burocrática e desperta lágrimas em uma plateia abalada e impotente.
“Neste momento, não podemos nos responsabilizar por algo que ainda está sendo avaliado. Primeiro, precisamos entender a extensão do problema “, diz um dos representantes da empresa. “Ainda não temos informações suficientes para responder a essas solicitações.” Semanas depois, quase um mês após o desastre, a Vale finalmente concordou em pagar renda de emergência às famílias.
O acordo prevê que todos os adultos que vivem em Brumadinho e em comunidades no entorno receberão um salário mínimo mensal (R$ 998), enquanto todas os adolescentes receberão metade de um salário (R$ 499) e as crianças terão direito a um quarto do salário: R$ 249,50 mensais. Os valores serão pagos por um ano, retroativos até a data da tragédia – 25 de janeiro.
Como os moradores, o município ainda aguarda esclarecimentos. Dias depois do desastre, o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, recebeu jornalistas na prefeitura e disse que a cidade “vive do minério”. “Cerca de 60% ou mais de nossa receita vem de royalties pagos pela mineração de minério de ferro.
- E a maior parte é paga pela Vale”, disse.
- Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, ‘Ainda não temos informações suficientes para responder a essas solicitações’, disseram representantes da Vale Segundo Barcelos, a cidade “pararia” sem os recursos.
- Vai parar o comércio, vai parar quase tudo na cidade.
Nós temos hoje 26 postos de Saúde da Família, temos hospital, Unidade de Pronto-Atendimento, temos as escolas, que nós dá o material escolar, tudo de primeira qualidade, nós não vamos ter como atender isso mais”, afirmou. “Infelizmente essa é a realidade e a gente vai cobrar da Vale.” Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, Moradores fizeram pedidos durante a reunião, mas não foram atendidos Edmundo Netto Junior é um procurador federal que trabalha na força-tarefa que investiga a tragédia.
Ele passou todos os dias do ultimo mês visitando famílias que perderam – ou ainda procuram os corpos de – parentes. Uma das famílias incluía o pequeno William, de sete anos. A tia do garoto mostrou ao procurador um desenho feito por William naquela manhã. No centro da imagem está um helicóptero brilhante pintado de azul e branco.
Mas, pendendo da parte inferior da aeronave, uma linha comprida representa uma das redes usadas pelas equipes de salvamento para recolher corpos na lama. “Ele deu este desenho para um dos bombeiros e pediu para encontrarem seu avô”, conta Netto Junior.
- Crédito, Derrick Evans/BBC Legenda da foto, William, de sete anos, desenhou helicóptero dos bombeiros durante resgate A pintura de William também mostra um traço vertical forte, desenhado logo atrás da rede dos bombeiros.
- A imagem lembra uma cicatriz escura cortando a paisagem.
- Isso é muito forte”, diz o experiente procurador.
“Esta é uma comunidade que foi marcada para sempre.” Para ele, as tragédias deveriam ensinar aos municípios que é necessário diversificar fontes de renda e emprego. “É preciso construir um modelo menos dependente, em que outas atividades econômicas sejam prestigiadas.
- A mineração ocupa áreas enormes que também poderiam estar produzindo outas coisas – sejam plantações, indústrias, seja comércio e serviços.” Para ele, Mariana e Brumadinho deveriam ter imposto um modelo de mineração sustentável ao país.
- Uma mineração menos lucrativa.
- As tragédias nos mostraram que empresas como a Vale lucram a partir dos riscos que impõem às comunidades.
O mesmo risco que reduz custos quando uma barragem é feita no modelo a montante permite a Vale um processo de mineração mais barato e rentável – mas também custos mais caros para a sociedade “, continua Netto Junior. “Esses custos foram escondidos sob o tapete por muito tempo, mas após a tragédia os prejuízos para a sociedade ficam cada vez mais claros”.
O desenho de um menino de apenas 7 anos seria um dos exemplos. “A comunidade esta traumatizada. E vai levar esses impactos psicológicos para a vida toda.” Crédito, Getty Images Legenda da foto, Esta é uma comunidade que foi marcada para sempre, diz procurador Reportagem: Ricardo Senra, com colaboração de Camilla Costa, Amanda Rossi e Nathalia Passarinho Produção: Claire Press Fotos: Derrick Evans Imagens adicionais: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Mariana Rocha, Marcelo Camargo/Ag.
Brasil, Getty Images, Google Maps, DigitalGlobe
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Qual é o risco de ruptura de Brumadinho e Mariana?
Ameaça iminente – Duas semanas depois do desastre de Brumadinho, sirenes tocaram no meio da noite em duas outras barragens de Minas Gerais, anunciando um possível colapso. A Vale é dona de uma delas, próxima a cidade de Barão de Cocais, a mais de 120 km de Brumadinho.
- A outra, próxima à Itatiaiuçu e a apenas 30 km de Brumadinho, é controlada por outra mineradora, a ArcelorMittal.
- Da noite para o dia, 700 pessoas foram evacuadas para ginásios e hotéis.
- Dias depois, mais um alarme, novamente em uma barragem da Vale, soou em Nova Lima, a 40 km de Brumadinho.
- Mais 100 pessoas tiveram que deixar suas casas.
A cidade de 93,5 mil habitantes é rodeada por nada menos que 26 barragens de mineração. A sequência de alertas, logo após a tragédia, parece ter finalmente chamado atenção para a escala do problema no país. Legenda da foto, Fonte: Agência Nacional de Mineração, Agência Nacional de Águas.
Mapa criado com Carto Há pelo menos 790 barragens de rejeitos em todo o Brasil, muitas delas localizadas logo acima de vilarejos ou cidades, como era o caso do Córrego do Feijão. Todas elas foram classificadas por seus potenciais de risco. A escala não estima as chances de ruptura, mas o estrago que cada uma delas seria capaz de gerar.
Mais de 200 foram classificadas como “alto potencial de estrago” – ou seja, estão acima de povoados ou próximas a grandes rios e ecossistemas. Tanto Brumadinho quanto Mariana haviam sido classificadas como “baixo risco de ruptura” por inspetores do governo, mas “alto potencial de estrago” por conta de sua posição geográfica.
- Legenda da foto, Fonte: Agência Nacional de Mineração, Agência Nacional de Águas.
- Mapa criado com Carto Em Minas Gerais, a situação é mais dramática.
- O Estado produz 53% de todo o minério de ferro brasileiro e reúne a maior quantidade de minas e barragens do país.
- Itabira, onde a Vale foi fundada em 1942, tem 120 mil habitantes e 19 barragens.
Em alguns bairros, os jardins das casas estão diretamente virados para as montanhas de rejeitos. As cinco barragens mais próximas abrigam um total de 423 milhões de metros cúbicos de material tóxico – 33 vezes o volume lançado no mês passado pela barragem de Brumadinho.
Já em Mariana, atingida em novembro de 2015, uma população de 60 mil pessoas é circundada por 15 barragens. Nos arredores da cidade, no vilarejo de Bento Rodrigues, 600 pessoas vivem no ameaçador caminho de 5 barragens. Dois meses após se eleger, em dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro prometeu relaxar as leis ambientais, argumentando que elas “trazem problemas intermináveis” e “impedem que prefeitos, governadores e presidentes construam” projetos de infraestrutura.
Procurado pela BBC News Brasil, o governo não comentou as frases do presidente e informou que, após o desastre, anunciou a proibição de novas barragens de rejeitos do modelo de Brumadinho. As 87 que estão atualmente em operação – 10 delas de propriedade da Vale – serão desativadas até 2021.
- Mas mesmo depois de uma mina ser desativada, as inspeções de segurança devem continuar, já que a lama tóxica ficará para sempre dentro da barragem.
- O governo também disse que pressionaria as empresas para garantir que as fiscalizações sejam mais rigorosas, mas não fez comentários sobre o número de inspetores contratados para este serviço.
Assim, essas verificações diárias ainda dependem do sistema atual, pelo qual as empresas efetivamente monitoram suas próprias atividades. Crédito, Marcelo Camargo/Ag. Brasil Legenda da foto, Fabio Schvartsman, CEO da Vale, havia afirmado que uma tragédia como a de Mariana não se repetiria
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Quantos metros cúbicos tem a barragem de Brumadinho?
Ameaça iminente – Duas semanas depois do desastre de Brumadinho, sirenes tocaram no meio da noite em duas outras barragens de Minas Gerais, anunciando um possível colapso. A Vale é dona de uma delas, próxima a cidade de Barão de Cocais, a mais de 120 km de Brumadinho.
A outra, próxima à Itatiaiuçu e a apenas 30 km de Brumadinho, é controlada por outra mineradora, a ArcelorMittal. Da noite para o dia, 700 pessoas foram evacuadas para ginásios e hotéis. Dias depois, mais um alarme, novamente em uma barragem da Vale, soou em Nova Lima, a 40 km de Brumadinho. Mais 100 pessoas tiveram que deixar suas casas.
A cidade de 93,5 mil habitantes é rodeada por nada menos que 26 barragens de mineração. A sequência de alertas, logo após a tragédia, parece ter finalmente chamado atenção para a escala do problema no país. Legenda da foto, Fonte: Agência Nacional de Mineração, Agência Nacional de Águas.
- Mapa criado com Carto Há pelo menos 790 barragens de rejeitos em todo o Brasil, muitas delas localizadas logo acima de vilarejos ou cidades, como era o caso do Córrego do Feijão.
- Todas elas foram classificadas por seus potenciais de risco.
- A escala não estima as chances de ruptura, mas o estrago que cada uma delas seria capaz de gerar.
Mais de 200 foram classificadas como “alto potencial de estrago” – ou seja, estão acima de povoados ou próximas a grandes rios e ecossistemas. Tanto Brumadinho quanto Mariana haviam sido classificadas como “baixo risco de ruptura” por inspetores do governo, mas “alto potencial de estrago” por conta de sua posição geográfica.
Legenda da foto, Fonte: Agência Nacional de Mineração, Agência Nacional de Águas. Mapa criado com Carto Em Minas Gerais, a situação é mais dramática. O Estado produz 53% de todo o minério de ferro brasileiro e reúne a maior quantidade de minas e barragens do país. Itabira, onde a Vale foi fundada em 1942, tem 120 mil habitantes e 19 barragens.
Em alguns bairros, os jardins das casas estão diretamente virados para as montanhas de rejeitos. As cinco barragens mais próximas abrigam um total de 423 milhões de metros cúbicos de material tóxico – 33 vezes o volume lançado no mês passado pela barragem de Brumadinho.
- Já em Mariana, atingida em novembro de 2015, uma população de 60 mil pessoas é circundada por 15 barragens.
- Nos arredores da cidade, no vilarejo de Bento Rodrigues, 600 pessoas vivem no ameaçador caminho de 5 barragens.
- Dois meses após se eleger, em dezembro do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro prometeu relaxar as leis ambientais, argumentando que elas “trazem problemas intermináveis” e “impedem que prefeitos, governadores e presidentes construam” projetos de infraestrutura.
Procurado pela BBC News Brasil, o governo não comentou as frases do presidente e informou que, após o desastre, anunciou a proibição de novas barragens de rejeitos do modelo de Brumadinho. As 87 que estão atualmente em operação – 10 delas de propriedade da Vale – serão desativadas até 2021.
- Mas mesmo depois de uma mina ser desativada, as inspeções de segurança devem continuar, já que a lama tóxica ficará para sempre dentro da barragem.
- O governo também disse que pressionaria as empresas para garantir que as fiscalizações sejam mais rigorosas, mas não fez comentários sobre o número de inspetores contratados para este serviço.
Assim, essas verificações diárias ainda dependem do sistema atual, pelo qual as empresas efetivamente monitoram suas próprias atividades. Crédito, Marcelo Camargo/Ag. Brasil Legenda da foto, Fabio Schvartsman, CEO da Vale, havia afirmado que uma tragédia como a de Mariana não se repetiria
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