Artigo Cientifico Sobre Lutas Marciais? - [Assessoria jurídica]

Artigo Cientifico Sobre Lutas Marciais?

Quais são as características das lutas marciais?

POLÊM!CA Revista Eletrônica A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DAS ARTES MARCIAIS NA REDUÇÃO DA AGRESSIVIDADE EM ADOLESCENTES, NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA RENAN LEMOS PACHECO é Graduado em Educação Física (Licenciatura) pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH (PPGEnfBio/Unirio) desde Março/2012. Resumo: Diante de um dos maiores problemas em nossa sociedade, a violência, e suas implicações dentro da escola, este estudo teve por objetivo encontrar a relação entre prática de artes marciais e redução da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de educação física escolar. Fora investigado, através de revisão da literatura existente na área, a utilização das artes marciais para a formação benéfica do caráter e da personalidade de adolescentes. Participaram deste estudo 15 adolescentes praticantes de artes marciais. Os dados foram obtidos através de um formulário semi-estruturado, com perguntas “abertas” e “fechadas”, em que poderiam fazer comentários e exemplos sobre os temas tratados. Através da análise dos resultados obtidos, pode-se verificar que é na situação do jogo em que ocorre maior incidência de manifestação de comportamento agressivo nas aulas de educação física. E a prática de artes marciais pode auxiliar na redução na ação/reação agressiva por parte dos adolescentes durante as aulas. Contribuindo, assim, para o autocontrole dos alunos e para sua formação como cidadão. Palavras chave: Agressividade, Artes Marciais, Educação Física Escolar, Adolescentes. EL PODER DE LA PRACTICA DE LAS ARTES MARCIALES EM LA REDUCIÓN DE LA AGRESSIVIDADE EM LOS JOVENES EN LAS CLASES DE EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR Resúmen: Delante de un de los mayores problemas em nuestra sociedad, a violéncia, y sus provocaciones en la escuela, há hecho de este estúdio un objetivo para encontrar la relación en la práctica de las artes marciales y la reducción de la manifestación de comportamiento agresivo en jovenes en las clases de Educación Física Escolar. Fuera indagado a travéz de la revisión de la literatura existente en el campo, la utilización de las artes marcialespara para la formación favorable de carácter y de la personalidad de los jovenes. Tuvieron participación en este aprendizaje, quinze jovenes que practican las artes marciales. Las informaciones llegaron por planilhas organizadas com las perguntas “abiertas” y “cerradas”, donde podrián hacer anotaciones y darejemplos de los assuntos cuidados. Podremos mirar la situación del juego, em que hay la mayor zuantidad de la manifestación del comportamiento agresivo em las clases de Educación Física. Y la práctica de las Artes Marciales pueden auxiliar en la redución de la acción/reación agresiva por los jovenes, haciendo la contribuición para el autocontrol de los alumnos y para la formación de cidadones Palabras Principales : Agressividad, Artes Marciales, Educación Física Escolar, Jovenes INTRODUÇÃO A violência e a agressividade são um dos temas mais vistos na mídia nos dias de hoje. Sempre se podem ver tais atitudes em estádios de futebol, em bares, em festas e no ambiente familiar. E o que se torna ainda mais comum é a prática dessas atitudes no ambiente escolar. Isso pode ser explicado como um reflexo da sociedade que cerca a escola e seus alunos, tornando esse problema mais amplo do que se imagina. As crianças de certa forma, acabam sendo influenciadas, sejam pela mídia, pelos amigos ou parentes a fazer o mesmo. Cria-se uma imagem positiva sobre essas práticas, sendo interpretadas como “maneiras” e “legais”. E aqueles que não fazem o mesmo, são tachados de bobos e covardes. Todas as escolas apresentam casos de agressividade entre os alunos. Não importa se são colégios públicos ou colégios particulares, a violência juvenil está sempre presente, seja por atos de danos ao patrimônio, ou por xingamentos aos docentes, entre outros. Em contra partida a essa realidade, estão as doutrinas e filosofias das artes marciais que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, pregam a não-violência e o auto-controle. A prática das artes marciais é vista como uma oportunidade que o individuo tem de agredir seu próximo. Isso pode ser atribuído à influência da mídia sobre as pessoas, divulgando filmes e desenhos animados que trazem essa mensagem errônea. Porém, ao adentrar em uma modalidade de arte marcial, o aluno praticante pode conhecer um mundo completamente diferente, com normas rígidas de conduta e disciplina, que auxiliam na formação moral do individuo. Assim como proposto nos PCN’s – Educação Física (BRASIL, 1998), a prática de lutas é caracterizada por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. A agressividade na escola Como definição inicial ao termo agressividade, consideramos agressividade uma forma de conduta com o objetivo de ferir alguém física e psicologicamente (DE SOUZA, s/d). Também Laplanche (1981, apud ANDERLE, VALSECHI e VEIT, 2007), define agressividade como uma tendência ou conjunto delas, onde se atualizam em condutas reais ou fantasiosas, direcionadas com a finalidade de danificar a outra pessoa, a humilhá-la e etc. A agressividade já pode ser considerada como um problema de saúde pública, de acordo com Lopes Neto (2005). Como nos mostra o Mapa de Violência 2010 (NOVA ESCOLA, 2010), entre 1997 e 2007, o número de homicídios envolvendo jovens entre 14 e 16 anos subiu cerca de 30%. De acordo com Monroe (NOVA ESCOLA, 2010), uma das causas da agressividade em adolescentes está nas mudanças fisiológicas decorridas da passagem da infância para adolescência. Essa passagem faz com que a serotonina (neurotransmissor responsável pelo bem-estar) seja reduzida pela metade, causando irritabilidade e dificuldades dos adolescentes em se sentir satisfeitos – marcas dessa fase. Entre outras causas da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes estão as características culturais de nossa sociedade e seus problemas; o crescimento desordenado das cidades; a desestruturação da família; a mídia; os professores autoritários; a prática de desportos de rendimento, a competição exacerbada, a prática de jogos passando, também, pelas dificuldades que a criança tem de se adaptar a determinado contexto social. (ANDERLE, VALSECHI & VEIT, 2007; FEIJÓ, 1992; LISBOA, s/d; LIPPELT, 2004; NOVA ESCOLA, 2010; SCHREIBER, SCOPEL & ANDRADE, 2005). Porém a agressividade em doses moderadas faz parte do ser humano, estando presente em nossa vida e impulsionando-nos para o domínio do conhecimento sobre o mundo e para crescimento pessoal. A agressividade possui certos benefícios, sendo essencial para nossa sobrevivência, desenvolvimento, adaptação e defesa. (DE SOUZA, s/d; LUCON & SCHWARTZ, 2003). De acordo com Lima (1999), existe uma diferenciação entre agressividade e violência. A autora ressalta que a agressividade significa certa determinação direcionada a realizar uma tarefa, sendo assim, com o sentido diferente de sermos violentos para realizar a mesma tarefa. Ao citar Morais (1995), Lima (1999) esclarece que a agressividade está ligada ao instinto de sobrevivência que leva o animal à busca de alimento, água e segurança. Esse instinto é biológico sendo propriamente de animais – animais irracionais. No entanto a violência está relacionada a uma intencionalidade, exigindo assim a inteligência. Sendo assim, os animais irracionais jamais serão violentos, porém ferozes. Artes marciais e agressividade Para compreendermos as Artes Marciais em sua totalidade, devemos remontar ao seu significado etimológico. O termo marcial vem do latim martiale (natural de Marte, o deus da Guerra para os romanos) e significa entre outras definições, “próprio da guerra” ou “relativo a guerreiros”. Enquanto arte é a habilidade do homem, natural ou adquirida, de pôr em prática uma idéia. O binômio de arte marcial deve, então, ser entendido como a capacidade de se praticar e dominar os ensinamentos guerreiros com fins próprios para a obtenção de determinados resultados. Atualmente, o termo arte marcial é sinônimo de luta, defesa pessoal e até agressão, porém, no início dos tempos para as artes marciais, não era bem assim que se definia essa prática. As artes marciais eram utilizadas pelos monges, primeiramente, para manter o corpo saudável e a mente sã. A sua utilização para a defesa pessoal era somente usada quando não se tinha outra opção. Hoje não é isso que se vê, pelo menos na mídia que mostra jovens lutadores praticando atos de violência, sendo que estes deveriam ser exemplos de boa conduta. A autoridade do professor e a arte marcial propriamente dita não são relacionadas à manifestação de comportamento agressivo em seus praticantes. A agressividade estaria relacionada à importância que os professores de lutas dão a competição exacerbada (TRULSON, 1983 apud AMADERA, 2009). Este fato comprova o posicionamento de Feijó (1992) com relação à competição e as artes marciais, pois de acordo como autor as regras oficiais das artes marciais demonstram uma filosofia de cooperação, em vez de competição. Os autores Trulson (1983, apud AMADERA, 2009) e Mesquita (s/d) fazem uma crítica negativa aos clubes e academias onde se treinam artes marciais. As artes marciais nestes espaços, na verdade, são lutas de caráter competitivo, que enaltecem o valor das vitórias, denegrindo os valores morais da filosofia marcial. Trulson (1983) nos dá um alerta: o problema da propagação de academias de artes marciais ditas modernas. Pois as artes marciais modernas, que na verdade são lutas de caráter competitivo, possuem um potencial de aumentar o comportamento agressivo em adolescentes e, ao mesmo tempo, desenvolver traços negativos da personalidade, principalmente àqueles com certa tendência à delinquência. De acordo com Mesquita (s/d), as lutas ministradas em instituições de ensino deverão atender aos aspectos formativos e educativos prioritariamente. Segundo Feijó (1992), as competições de Jiu-Jitsu, Judô e Karatê diferenciam-se pela falta de agressividade. As características como nobreza, respeito mútuo, obediência às regras e aos mestres, segundo o autor, são sempre demonstradas pelos atletas de lutas marciais. As Artes Marciais são caracterizadas por utilizar da competição interna em seus treinamentos e campeonatos. O desafio está em vencer a “guerra interior” que é travada contra seus próprios desequilíbrios e desarmonias (atitudes de violência). (LIMA, 1999; FEIJÓ, 1992). ADOLESCÊNCIA De acordo com Formiga et all (2008), os jovens apresentam características biopsicossociais, sendo tais características obtém uma tendência à espontaneidade, passando a descarregar, quase que normalmente, seus impulsos agressivos direta ou indiretamente. Sendo assim, os jovens indicam-se vulneráveis e suscetíveis às influencias vindas do meio social. Logo procuram fora da família aspectos que almejam incorporar a sua realidade pessoal com os quais precisam lidar que constitui uma parte do seu “eu”, porém nem sempre esse “eu” encontra-se integrado a personalidade e a sociedade. Esses jovens procuram se auto-afirmar e também a se identificar, podendo assim, compreender a sua rebeldia e revolta por meio das manifestações agressivas, permeando a abstração que ele mesmo faz e desenvolve de si mesmo acerca dos atributos, capacidades, objetos e atividades que tem e deseja alcançar. METODOLOGIA Esta pesquisa é caracterizada como Direta de Campo, onde se faz a busca de dados diretamente da fonte (adolescentes praticantes de artes marciais) possibilitando conhecer a realidade na prática. O método de abordagem utilizado será o método indutivo, pois, através do apontamento de fatos e dados particulares ou singulares podemos chegar a conclusões gerais, constatando teorias e leis universais. (MATTOS, ROSSETTO JÚNIOR & BLECHER, 2008). Para a obtenção de dados para este estudo foi utilizado um Formulário semi-estruturado com 15 questões para os adolescentes que praticam artes marciais. As respostas do Formulário foram catalogadas de acordo com o número de palavras-chaves utilizadas pelos entrevistados e o número de ocorrência dessas palavras-chaves. Assim foi possível atribuir mais objetividade ao estudo, além de atribuir de modo quantitativo conceitos abstratos como violência e agressão. Quando os adolescentes foram perguntados sobre o que é violência de acordo com suas percepções, as respostas foram várias. Observando a Quadro 5.1, encontramos os conceitos dados pelos adolescentes à violência. Apenas um adolescente não soube responder a essa pergunta. QUADRO 5.1 Obtiveram-se também respostas mais elaboradas sobre a violência, como: é o forte subjugando o fraco pela força. é um dos grandes problemas do Brasil. Uma coisa muito ruim, não deveria existir no mundo Quando perguntados sobre a incidência de agressão nas aulas de Educação Física, 14 alunos (93,3%) disseram que já perceberam a ocorrência de agressões físicas ou verbais nas aulas, como mostra a Quadro 5.2. QUADRO 5.2 Todos os adolescentes entrevistados alegaram que as agressões, físicas e verbais, ocorrem nos jogos de futebol (100%) e vôlei (6%). Porém não é apenas dentro do jogo que ocorre as agressões, também ocorrem após o mesmo, principalmente pela equipe que perdeu a partida. A sexta questão do Formulário fala da mudança de comportamento após começar a treinar artes marciais. Dentre os entrevistados, 13 adolescentes (86,6%) disseram que houve mudanças comportamentais e elas estão expressas na Quadro 5.3. QUADRO 5.3 Dentre os adolescentes entrevistados, o que chamou a atenção do pesquisador, na resposta desta questão, fora a fala de um adolescente praticante de Taekwondo, Ele relatou que todos a sua volta, professores da escola, pais, inspetores notaram a mudança repentina em seu comportamento. “(.) passei a ter mais autocontrole, a me concentrar e me comportar melhor dentro e fora da escola. Alguns até achavam que eu estava doente, porque no dia não estava mais ‘encebando’ a aula da professora (.)”. Sobre as atitudes que tomam durante o Jogo ou quando percebem atitudes de agressividade, dois (13,3%) dos adolescentes responderam que de vez em quando participam de tais agressões. Esses dois adolescentes são praticantes de Jiu-jitsu e um deles tem 1 mês de treinamento, enquanto o outro possui 6 meses. Do restante dos entrevistados, segue a Quadro 5.4, onde se encontra as respostas. QUADRO 5.4 Dois alunos disseram que não participam mais do futebol nas aulas de Educação Física, pois ainda se consideram “estourados”, “pavio-curto”, preferindo apenas as atividades físicas e jogos com menos confrontação, como o vôlei. Isso mostra que os mesmos já possuem um conhecimento de si mesmos e de seus próprios limites. Quando abordados sobre se já agrediram algum colega nas aulas de Educação Física depois que entraram na arte marcial que pratica, 4 adolescentes (26,6%) disseram que sim. Deste grupo, um adolescente disse que a atitude tomada por ele foi “sem querer” e depois pediu desculpas; e um outro adolescente disse que agiu por impulso. As atitudes dos outros dois adolescentes foram: um disse que chutou e brigou, e o outro disse que deu uma cotovelada. Ambos também são praticantes de Jiu-jitsu e têm menos de um mês de prática da arte marcial. E quando abordados se já foram agredidos nas aulas de Educação Física depois que entraram para a arte marcial que pratica, 7 adolescentes (46,6%) disseram que não. Um adolescente (6,6%) respondeu sim e que reagiu negativamente. Este disse que fora xingado e revidou o xingamento. Do restante que responderam “sim”, suas atitudes estão na Quadro 5.5: QUADRO 5.5 CONCLUSÃO No que diz respeito aos resultados pôde se ver que o momento em que mais ocorre a manifestação de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física é durante o Jogo, assim como está na Revisão da Literatura deste estudo (LIPPELT, 2004). Durante a composição deste estudo a concepção de agressividade portada pelo autor fora alterada com o passar do tempo através da leitura e análise de artigos, dissertações e teses. Visto que a agressividade é natural do ser humano e o auxilia na vida, a agressividade adicionada a uma intencionalidade é que devemos nos preocupar em nossa sociedade, pois a partir daí não é mais considerada agressividade, e sim violência. (MORAIS, 1995 apud LIMA, 1999). De acordo com os resultados obtidos conclui-se que as artes marciais podem auxiliar na redução de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de Educação Física escolar, principalmente na prática de jogos, onde se observou a grande incidência de tais manifestações. Pois os adolescentes entrevistados se mostraram, em sua maioria, capazes de se autocontrolar e de não agir/reagir agressivamente diante de uma situação de conflito. No entanto se faz necessário a realização de estudos mais complexos e longitudinais sobre a relação entre prática de artes marciais e controle da agressividade, visto seus benefícios na formação de cidadãos. 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Quais são as concepções de artes marciais e de lutas?

Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field – A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional. Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.

  1. A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva.
  2. Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam.

Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional. Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen. Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education.

Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge. From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse ARTIGOS ORIGINAIS Artes Marciais e Lutas: uma análise da produção de saberes no campo discursivo da Educação Física brasileira 1 1,

  1. O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).
  2. Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field Artes Marciales y Luchas: un análisis de la producción de conocimiento en el campo discursivo de la Educación Física brasileño Ms.

Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves I ; Dra. Méri Rosane Santos da Silva II I Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: química da vida e saúde, Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] II Instituto de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] Endereço para correspondência RESUMO A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional.

  1. Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.
  2. A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva.

Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam. Palavras chave: Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico.

ABSTRACT Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education. Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge. From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Keywords: Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse.

RESUMEN La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional. Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

  1. De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen.
  2. Palabras clave: Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia.
  3. CONSTRUINDO O OBJETO DE PESQUISA Os diferentes significados atribuídos às Artes Marciais e às Lutas têm possibilitado sua circulação e apropriação por várias esferas da sociedade.

Atualmente, podemos considerá-las atividade de lazer, exercício que visa o aumento da aptidão física, defesa pessoal, prática esportiva, além de serem constantemente associadas a um estilo de vida e orientadas por determinados valores culturais. Essas práticas, 2 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

  1. Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam.
  2. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem.
  3. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

como objeto de significação, ganham cada vez mais espaço em academias de ginástica, clubes esportivos, escolas, entre outros ambientes, tornando-se suscetíveis a um “complexo e indeterminado processo de transformação” (SILVA, 2003, p.20), o que possibilita a elas que se manifestem imbricadas em diferentes contextos sociais.

No que diz respeito ao conhecimento produzido sobre elas no universo acadêmico, especificamente através da Educação Física, a situação não é diferente. São elas entendidas tanto como uma atividade milenar, atrelada a determinadas orientações filosóficas e religiosas, quanto uma atividade física e esportiva, apropriada por práticas escolares e não-escolares.

Na tentativa de delimitar os significados dessas práticas corporais, estudos como o de Correia e Franchini (2010) indicam a possibilidade de nomeá-las de três maneiras diferentes: 3 3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.

Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores. (1) Artes Marciais, (2) Luta e (3) Modalidades Esportivas de Combate. No mesmo sentido, Gomes et al,

(2010) também sugerem definições que, por sua vez, delimitam as Artes Marciais ou Lutas a uma concepção esportiva. Assim, elas aparecem assumindo múltiplos significados. No que concerne à atribuição e produção de sentidos, é possível afirmar que este tema aparece de forma variada de acordo com as bases epistemológicas que se propõem discuti-lo.

Logo, encontramos maneiras diferentes de nomear uma mesma prática, bem como práticas diferentes reconhecidas pelo mesmo nome. Com isso, falar sobre elas nos afasta de definições acabadas. Artes Marciais e Lutas, por exemplo, são termos muitas vezes utilizados sem que se suspeite ou problematize o que, de fato, nomeiam.

Diante disso, proponho neste artigo indicar um modo de pensar sobre essas práticas que escape das formas pelas quais estão sendo predominantemente pensadas e produzidas pelos discursos reiterados por textos acadêmicos nacionais atualmente. Em outras palavras, lanço um olhar de suspeita ao assunto a fim de problematizar a multiplicidade de sentidos atribuídos.

  1. Para isso, inspirando-me em Foucault (2008, p.158), realizo um primeiro movimento que implica o esforço de um “tríplice deslocamento” em relação ao objeto de análise.
  2. Três cuidados que aqui assumo, como: (1) descentrar-me das tentativas de definições prontas acerca do tema; (2) deslocar-me de bases epistemológicas que fixam essa discussão, sob determinados aspectos, e (3) recusar-me a adotar o conhecimento produzido sobre essa temática de forma naturalizada, como algo instituído e aceito, acima de qualquer suspeita.

Com isso, a questão norteadora deste artigo toma forma e o que se torna interessante aqui é perceber de que maneira esse tema é entendido, de modo a se constituir em um objeto de saber (FOUCAULT, 2010). Objeto que a Educação Física dedica-se a relacionar, classificar e nomear, tecendo uma rede de conhecimentos sobre ele à luz de um discurso científico.

Ou melhor, como estas práticas aparecem no universo acadêmico e científico a partir do que se fala sobre elas? Como o movimento de produção do conhecimento constitui um saber pertinente aos domínios da Educação Física? Indo mais adiante, diria que se deslocar dos pensamentos instituídos sobre as Artes Marciais e as Lutas indica outro movimento que me leva a reconhecer na linguagem, 4 4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira. a possibilidade de entendê-las como produtos de conceitos, juízos e verdades fabricados tanto por seus adeptos ou acadêmicos quanto por aqueles que não foram interpelados por elas.

Através da linguagem, enquanto “objeto de nosso saber e matéria-prima de nossas ações” (LAROSSA, 2001, p.70), nos expressamos, nos comunicamos, damos sentido às coisas. É dessa forma que atribuímos e assumimos significados que nos permitem um entendimento plural das Artes Marciais e das Lutas. Nessa perspectiva, tomando a linguagem não apenas como um conjunto de signos, palavras ou frases, mas assumindo-a em sua função enunciativa (FOUCAULT, 2010), foram analisados 26 artigos que discutem o tema a partir de diferentes perspectivas de pensamentos que constituem a Educação Física brasileira.

O material empírico é proveniente de cinco periódicos nacionais que tratam de temas pertinentes a uma abordagem ligada às Ciências Humanas como: Motrivivência, Motriz, Movimento, Pensar a Prática e Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). A seleção dos artigos foi realizada a partir da temática abordada.

Assim, a busca se deu a partir dos títulos e resumos de todas as edições dos periódicos delimitados, a fim de encontrar textos que se dedicaram a discutir as Artes Marciais e as Lutas como tema central. Tendo em vista as possibilidades de discussões, dedico-me a problematizar as concepções produzidas pelo universo científico acerca dessas práticas, restringindo-me àquelas reconhecidas por seus vínculos culturais com o extremo oriente.5 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.

Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise. Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.

Para isso, opero com a noção de análise discursiva, assumindo como movimento de pesquisa a descrição de dispersões enunciativas na busca de diversas possibilidades de se ativar um tema e produzir diferentes maneiras de se pensar sobre ele (FOUCAULT, 2010). Assim, a análise realizada exigiu um trato do corpus empírico como um conjunto de elementos enunciativos.

Os textos selecionados são peças, formações discursivas que constituem e acionam um discurso acerca das Artes Marciais e das Lutas, e sua relação com a Educação Física brasileira. São enunciados 6 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

que ativam manifestações de um saber, produzindo determinadas maneiras de pensar e conceituar assuntos pertinentes à determinada área de conhecimento (VEIGA-NETO, 2007). ARTES MARCIAIS OU LUTAS? TECENDO UM CAMPO DE BATALHA A partir dos artigos delimitados para a análise, foi possível ensaiar alguns pensamentos sobre as práticas discursivas 7 7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

  • Que sustentam e significam as Artes Marciais ou Lutas como objeto de pesquisa.
  • Nas publicações, elas aparecem tanto como assunto central de discussão quanto como cenário para abordar outros assuntos, dentre os quais gênero, educação física escolar, atividade física e treinamento desportivo.
  • No que diz respeito às discussões estabelecidas nos textos, os argumentos sustentados por seus autores indicam a existência de um campo de disputa tensionado entre dois conjuntos de formações discursivas, que constituem a noção de Artes Marciais distinguindo-a da concepção de Lutas.

Isto é, um campo discursivo, “um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois, por uma posição enunciativa em uma dada região” (MAINGUENEAU, 1997, p.116). Com base nos 26 artigos analisados, são marcantes as tentativas de definir uma classificação que dê conta de fixar determinado modo de nomear e dar sentido a essas práticas corporais.

Alguns as assumem enquanto Artes Marciais, outros tratam como Lutas, sem mencionar outras formas esporádicas de classificá-las como Modalidades Esportivas de Combate ou, até mesmo, Jogos de Lutas. Mas que diferença isso implica? Do ponto de vista acadêmico parece que a utilização de diferentes termos para falar de atividades tão parecidas está associada à ênfase que se deseja dar à perspectiva pela qual elas são discutidas.

Assim, analisá-las por um viés pedagógico, por exemplo, implicaria classificá-las e nomeá-las diferentemente de quando são abordadas em uma perspectiva esportiva de alto-rendimento. Contudo, é importante destacar que esta disputa nem sempre se configurou dessa forma, movimentando diferentes concepções nos domínios da Educação Física.

Podemos dizer que essas práticas passam a constituir um saber pertinente ao universo acadêmico, principalmente, a partir do momento que são entendidas como práticas esportivas, caracterizadas por passarem por um possível processo de esportivização, que converte ou transforma essas práticas em esporte, 8 8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

através da apropriação dos códigos que orientam esse fenômeno (GONZÁLEZ, 2005). Especificamente, é através do estabelecimento da proposta de regulamentação da profissão de Educação Física 9 9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.

que essas práticas passam a compor um campo de disputa por sua legitimidade. Como tema de pesquisa, elas começam a constituir um assunto passível de ser conhecido, relacionado e nomeado de formas e em lugares determinados. As diversas maneiras de entendê-las e executá-las passam a constituir um conhecimento pertinente a diferentes perspectivas de ciência acionadas pelo funcionamento da Educação Física.

Através da análise, a operação de descrever a forma como essas práticas são tratadas, no que concerne ao conhecimento que é produzido sobre elas, implicou na diferenciação entre o que se apropria por Artes Marciais e o que é considerado Lutas. Termos que, aparentemente, significam a mesma prática exercem tensionamentos contrários nesse campo de batalha.

A maneira pela qual são tratadas indica a formação de dois espaços discursivos. Dois pontos concorrentes: o das Artes Marciais e o das Lutas. Para Maingueneau (1997, p.117), o espaço discursivo “delimita um subconjunto do campo discursivo, ligando pelo menos duas formações discursivas que, supõe-se, mantêm relações privilegiadas, cruciais para a compreensão dos discursos considerados”.

De acordo com o autor, a determinação desses subconjuntos se dá pela impossibilidade de apreender um campo discursivo em sua totalidade. No caso das Artes Marciais e das Lutas, os subconjuntos se caracterizam por concepções opostas aplicados a uma mesma prática, e/ou semelhantes, mas que mesmo em disputa, são produtivas para constituição do tema.

A partir dos textos analisados, nomear certas práticas por Artes Marciais enfatiza determinada noção geográfica, moral e cultural do que entendemos por Oriente. Uma ideia que se aproxima do que Foucault (2009, p.17) reconhece por origem e se caracteriza pela busca de uma “essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade cuidadosamente recolhida em si mesma, sua forma imóvel e anterior a tudo o que é externo, acidental, sucessivo”.

Os enunciados que constituem essa concepção podem ser aproximados de uma noção orientalista, como considera Edward Said (2007).10 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente. Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo.

Assim, os artigos interpelados por essa noção, apontam para a valorização do “Oriental” como sinônimo do que é exótico, misterioso, profundo e seminal. De acordo com Said (2007, p.274) “a palavra Oriente possui uma grande ressonância cultural no Ocidente”.

E é exatamente neste ” Oriente ” cultural que o conjunto de formações discursivas ativa a noção de Artes Marciais, reforçando a ideia de que são práticas vinculadas a determinados valores morais que produzem uma conduta específica, um estilo de vida que “envolve o sujeito em outras dimensões de sua existência dentro e fora da área de luta” (RODRIGUES, 2009, p.649).

Assim, elas se caracterizam por valorizar determinadas verdades, esforçando-se para recolher nelas mesmas uma origem exata, anterior a tudo que é externo. Dentro dessa concepção, podemos recortar alguns exemplos que nos ajudam a entender como se constitui o que podemos reconhecer por Artes Marciais.

Rios (2005), na tentativa de resgatar e sistematizar a história do taekwondo, considera que essa modalidade, ao passar por um processo de esportivização iniciado em 1960, perdeu alguns elementos que a caracterizava como Arte Marcial, salientando que o: praticante de arte marcial desenvolvia técnicas que, se numa situação real de luta precisasse usá-las, derrubaria o oponente em poucos segundos.

Para a apropriação dessas técnicas era necessário longo tempo, tempo que não era mais disponível, já que o novo estilo reservava este para o treinamento de técnicas permitidas nas competições (RIOS, 2005, p.50). É possível perceber que o olhar lançado pelo autor é orientado por um aspecto saudosista, tendendo a desqualificar outros entendimentos possíveis atribuídos a ela.

Não distante disso, Yonezawa (2010, p.248) tece um elogio “filosófico e ético à prática do combate em relação à noção de luta”, ao considerar que elas atravessaram diversas mutações até adquirirem seu formato atual e culminarem em uma “transformação das Artes Marciais no que hoje se chama de técnicas de luta”.

O autor utiliza a expressão “máquina de guerra”, com base na filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, para se referir à cultura filosófica e espiritualista das Artes Marciais, enquanto máquina produtora de determinados sentidos, atrelados a um modo de pensar que está além da sua redução em sistemas de luta, tendo como meta apenas o confronto bélico: Assim, trazemos aqui a noção de combate como distinguível ética, política e filosoficamente desta prática estetizada da luta.

Como forma também de combate, esboçamos aqui um conceito de combate que possa trazer nova potência às Artes Marciais, talvez, de modo a avivar um pouco de sua força enquanto máquina de guerra (YONEZAWA, 2010, p.35). No mesmo sentido, outros artigos referentes a diversas modalidades como o karatê-Do (LAGE ; GONÇALVES JUNIOR, 2007), o kendo (RODRIGUES, 2009) e o judô (DRIGO, 2009) também são assim caracterizados.

Sem ferir as singularidades do modo com que cada texto evoca o tema, percebe-se que há uma noção de preservação que os atravessa. Transmitem a ideia da existência de uma essência (boa) que deveria ser preservada e que se perdeu com a transformação ou associação dessas práticas corporais a outros sentidos até então distintos, como é o caso do esporte.

  • Considerando alguns trechos dos textos analisados, sem julgar suas consistências teóricas, é possível dizer que esses artigos potencializam a ideia de que essas práticas não podem ser desassociadas dos aspectos que as caracterizam como Artes Marciais.
  • No entanto, essa não é a única forma de significá-las.

No outro extremo deste tensionamento, está um espaço discursivo que podemos reconhecer por Lutas, constituído por rupturas com a noção estritamente orientalista, ele permite um entendimento mais amplo dessas práticas. Através dele, elas aparecem não só reconhecidas por seus vínculos culturais com o oriente, mas, também, inseridas em outros contextos sociais.

  • É assim que 20 dos 26 textos analisados as tratam, descentrando a noção essencialista das Artes Marciais a fim de discuti-las como modalidades esportivas, atividade física ou conteúdo da educação formal.
  • Se num extremo há uma preservação de uma prática original, no outro, está uma concepção que as possibilita serem interpeladas por outros discursos como o da ciência, da saúde, do lazer e do universo esportivo.

Nesse sentido, essas práticas passam a assumir outras configurações que ainda mantêm uma relação mimética com as tradições orientais (ELIAS; DUNNING, 1992), 11 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

mas que as permitem serem entendidas e discutidas fora do orientalismo. Essa perspectiva sugere a aceitação de outras formas de concebê-las, praticá-las e inventá-las, sem a preocupação de preservar suas essências. As rupturas que constituem essas práticas corporais em sua diversidade de significações são aceitas e muitas vezes desejadas.

Referir-se a essas práticas sob essa ótica implica reconhecer nelas, principalmente, um formato esportivo. Hoje, por exemplo, conseguimos diferenciá-las – Judô, Karatê, Taekwondo, entre outras – a partir da visibilidade esportiva que assumem. Esporte este que não restringe a prática ao formato institucionalizado, mas que a possibilita ser apropriada de diversas maneiras e em lugares diferentes.

  1. Na diferenciação estabelecida por essas duas noções, é notável que os artigos que constituem o discurso das Lutas não se restringem a considerar essas práticas corporais apenas por um viés cultural.
  2. Em muitos casos, ao utilizar essa expressão, deixa-se de enfatizar o caráter disciplinador, ritualístico e tradicional da cultura Oriental, para associá-la a aspectos pedagógicos, esportivos e relacionados à qualidade de vida.

É a partir desse entendimento que muitos autores assumem discuti-las sob aspectos variados como: educacional; 12 12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al., 2010;) tema pertinente a ser discutido por currículos (TRUSZ; NUNES, 2007) e pesquisas acadêmicas 13 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

  • CORREIA; FRANCHINI, 2010); gênero (FERRETTI; KNIJNIK, 2007); e rendimento esportivo (SILVA; CARVALHO, 2002; CÉSAR et al, 2002).
  • Ainda nesta perspectiva, dentro da concepção das Lutas, também é possível identificar alguns artigos que desenvolvem argumentos radicalmente contra as concepções essencialistas.

Fett e Fett (2009) contestam os dogmatismos que permeiam a formação do professor e dos lutadores. Os autores reconhecem que essas práticas assumiram um formato esportivo que exige conhecimentos científicos, que estão além das limitações impostas pelas tradições das Artes Marciais.

Outros autores corroboram a mesma noção quando reivindicam que a falta de literatura específica e a visão retrógrada de que Judô se treina apenas no dojo acabou por deixar técnicos e atletas sem referencial teórico e prático de métodos mais específicos e sua forma de aplicação (MORAES, apud AZEVEDO et al,, 2004, p.74).

Como é possível observar, essas pesquisas assumem as práticas corporais de Karatê e de Judô como modalidades esportivas institucionalizadas. E, diferentemente dos artigos anteriores, os aspectos culturais atrelados a essas Lutas são colocados em suspeita quanto à funcionalidade, quando objetiva seu desenvolvimento técnico.

  • Diante disso, é interessante ressaltar que, por mais que alguns artigos não se preocupem em distinguir o uso dos termos Arte Marcial e Lutas, o “tom” no qual esses termos são utilizados implica em diferenciá-los.
  • Na tentativa de estabelecer possíveis definições entre o que seria uma ou outra, o conhecimento que é produzido acerca do assunto constitui um campo de disputa quanto à significação dessas práticas.

O sentido que orienta os argumentos encontrados é sempre perpassado por essas duas concepções (de Arte Marcial ou de Lutas) que configuram um campo de batalha discursivo. Porém, isso não significa, a partir da análise, enquadrar cada texto em um dos extremos dessa disputa, mas sim perceber que são eles, através de seus argumentos, que produzem e condicionam este campo que gera saberes e produz “vontade de verdade” (FOUCAULT, 2009, p.16), que constituem tanto os sujeitos pertencentes a elas quanto aqueles que não são interpelados por tais práticas.

  • ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Encerro este artigo – comparando-o ao ato de ensaiar – sem pretensão de esgotar o assunto.
  • Como diria Larrosa (2003, p.13) sobre o ensaio: “o ensaísta inicia no meio e termina no meio”.
  • Ensaiar não no sentido de treinar para algo, mas de exercitar os movimentos de pensamentos que me são possibilitados a partir das condições do cenário que envolve a temática abordada.

Sem apresentar grandes conclusões, o que tentei aqui foi desestabilizar a discussão acerca dessas práticas corporais que aos poucos constituem um campo de saber pertinente à Educação Física. Perceber as Artes Marciais e as Lutas enquanto dois espaços discursivos, produtivos e em disputa está longe de querer fixar verdades sobre elas, mas sim dar visibilidade para a emergência de outras práticas de significações que as constituem em diferentes espaços sociais, como é o caso do próprio espaço acadêmico.

  • Dentre as duas formações discursivas tensionadoras, podemos destacar o primeiro subconjunto por valorizar seus aspectos preservacionistas, que caracterizam uma noção orientalista e possibilitam reconhecer determinadas práticas por Artes Marciais.
  • Já o segundo subconjunto, está atrelado a outros significados que nos permitem reconhecê-las como Lutas e associá-las a práticas de lazer, educacionais, atividades físicas e esportivas.

Ao reconhecer a dimensão que a discussão sobre este tema assume nos textos acadêmicos, é possível suspeitar que a diversidade de significações não se restrinja à disputa de legitimidade entre as concepções apresentadas. Além de dar visibilidade às Artes Marciais e às Lutas, os artigos apresentam outras formas de olhá-las e as constituem enquanto um saber passível de ser apropriado por diferentes perspectivas do universo científico.

Dessa forma, considerar as Artes Marciais e as Lutas como formações discursivas em concorrência indica a ativação de um campo de batalha discursivo no qual essas práticas corporais são constituídas. Através do conhecimento produzido sobre elas, essas práticas se constituem enquanto objeto de saber de modo que possam ser medidas, avaliadas, equiparadas de diferentes maneiras e aos poucos produzem verdades que se consolidam e orientam não só o que se pode falar e de onde se falar, como também os modos de agir e de pensar sobre o assunto.

Diante disso, esse artigo não trata de estabelecer classificações nem tentar determinar qual a maneira mais correta de tratar este tema. O objetivo central foi o de lançar um olhar e analisar a produção de conhecimento que atravessa a temática das Artes Marciais e das Lutas, decalcando-a em uma rede de significados, sem desconsiderar suas disputas e tensões, mas, atentando para os efeitos que elas produzem na constituição dessas práticas corporais na contemporaneidade.

Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 Recebido em: 30 maio 2011 Aprovado em: 18 abr.2012 1, O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado). 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas. Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.

4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

  1. Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira.
  2. 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.
  3. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados. 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais. Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais.

Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade. 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo. 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al,, 2010;) 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

APÊNDICE

AZEVEDO, P. et al Sistematização da preparação física do judoca Mário Sabino: um estudo de caso do ano de 2003. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.26, n.1, p.73-86, set.2004. CAZETTO, F. Lutas e artes marciais na escola: “das brigas aos jogos com regras”, de Jean-Claude Olivier. Motrivivência, Florianópolis, ano 20, n.31, p.251-255, dez.2008. CÉSAR, M. et al Avaliação da intensidade de esforço da luta de caratê por meio da monitorização da freqüência cardíaca. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.1, p.73-81, set.2002. CORDEIRO JUNIOR, O. Em busca da construção de uma proposta teórico-metodológica para o ensino do judô escolar. Pensar a Prática, Goiânia, v.3, p.97-105, jul./jun.1999/2000. CORREIA, W. R; FRANCHINI, E. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz, Rio Claro, v.16, n.1, p.1-9, jan./mar.2010. DRIGO, A. Lutas e escolas de ofício: analisando o judô brasileiro. Motriz, Rio Claro, v.15, n.2, p.396-406, abr./jun.2009. ELIAS. N; DUNNING, E. A busca da excitação Lisboa: Difel, 1992. FERRETTI, M.; KNIJNIK, J. Mulheres podem praticar lutas? um estudo sobre as representações sociais de lutadoras universitárias. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.1, p.57-80, jan./abr.2007. FETT, C.; FETT, W. Filosofia, ciência e a formação do profissional de artes marciais. Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.173-184 jan./mar.2009. FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008. FOUCAULT, M. Microfísica do poder Rio de Janeiro: Graal, 2009. FOUCAULT, M. A ordem do discurso : aula inaugural no Còllege de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 2009. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. GOMES, M. et al Ensino das lutas: dos princípios condicionais aos grupos situacionais. Movimento, Porto Alegre, v.16, n.2, p.207-227, abr./jun.2010. GONÇALVES JUNIOR, L; DRIGO, A. A já regulamentada profissão Educação Física e as artes marciais. Motriz, Rio Claro, v.7, n.2, p.131-132, jul./dez.2001. GONZÁLEZ.F. Esportivização. In: GONZÁLEZ, F.; FENSTERSEIFER, P. Dicionário Crítico de Educação Física Ijuí: Ed. da Unijuí, 2005.p.170-174. LAGE, V.; GONÇALVES JUNIOR, L. Karatê-do como própria vida. Motriz, Rio Claro, v.13, n.1, p.33-42, jan./mar.2007. LARROSA, J. Lenguaje y educación. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.16, p.68-80, jan./abr.2001. LARROSA, J. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.28, n.2, p.101-115, jan./dez.2003. LOPES, L; TAVARES, O. A prática pedagógica dos mestres de caratê da grande vitória (ES). Pensar a Prática, Goiânia, v.11, n.1, p.91-97, jan./jul.2008. MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso 3. ed. Campinas: Pontes, 1997. NASCIMENTO, P. Organização e trato pedagógico do conteúdo de lutas na Educação Física escolar. Motrivivência, Florianópolis, ano 20, n.31, p.36-49, dez.2008. NASCIMENTO, P.; ALMEIDA, L. A tematização das lutas na Educação Física Escolar: restrições e possibilidades. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.3, p.91-110, set./dez.2007. RIOS, G. O processo de esportivização do taekwondo. Pensar a Prática, Goiânia, v.8, n.1, p.37-54, jan./jun.2005. RODRIGUES, R. Fazer kendo e pensar a educação do corpo. Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.648-656, jul./set.2009. SAID, E. Orientalismo : o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SILVA, M.; CARVALHO, M. Análise da suplementação nutricional dos atletas da seleção brasiliense de karatê. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.1, p.127-137, set.2002. SILVA, T. O currículo como fetiche : a prática e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. SILVEIRA JÚNIOR.E.R.; CARDOSO, C.L. Qigong: uma contribuição para a Educação Física escolar. Motrivivência, Florianópolis, ano 16, n.23, p.83-101, dez.2004. TRUSZ, R.; NUNES, A. A evolução dos esportes de combate no currículo do Curso de Educação Física da UFRGS. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.1, p.179-204, jan./abr.2007. VEIGA-NETO, A. Foucault e a educação 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. YONEZAWA, F. Algo se move: um elogio filosófico-ético à prática do combate como arte e educação. Motriz, Rio Claro, v.16, n.2, p.348-358, abr./jun.2010.

Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 1, O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

  1. Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam.
  2. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem.
  3. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.
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Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

  1. Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira.5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.
  2. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Publicação nesta coleção 24 Jan 2014 Data do Fascículo Set 2013

Recebido 30 Maio 2011 Aceito 18 Abr 2012

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Qual a diferença entre artes marciais e lutas orientais?

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura Las artes marciales y el desarrollo humano. Una revisión de la literatura The martial arts and human development. Literature review

*Discente do Curso de Medicinada Universidade Estácio de Sá da cidade do Rio de Janeiro**Doutora em Psicologia pela UFSC. Professora Adjuntada Universidade Federal do Sul da Bahia(Brasil)

Filipe Lustosa Lacrose* Sandra Adriana Neves Nunes**
Resumo

O ser humano constrói sua identidade e subjetividade enquanto desempenha suas atividades de transformação da natureza, bem como através de suas produções socioculturais. Este artigo, com foco nas artes marciais como produto humano, objetivou elencar efeitos positivos citados na literatura marcial e no senso comum decorrentes da prática deste tipo de esporte como, por exemplo, o aumento do autocontrole, do equilíbrio mental, da autoconfiança, da persistência e reflexos e em seguida, comparou estes resultados aos encontrados pela literatura científica,

Deste modo, o presente estudo buscou revisar publicações acadêmicas sobre o tema e analisar possíveis explicações para as supostas conseqüências benéficas das artes marciais sobre o desenvolvimento humano, tanto em seus aspectos físicos quanto psíquicos. Inicialmente foi feita uma definição conceitual acerca do assunto arte marcial, seguida da apresentação dos principais achados científicos obtidos através de uma revisão de literatura nas bases de dados do SciELO, PePSIC e Scholar Google.

Por fim, conclui-se que, apesar dos poucos trabalhos investigativos sobre os efeitos positivos das artes marciais para o desenvolvimento físico e psíquico de seus adeptos, há indicativos de que sua prática pode trazer diversas contribuições para a personalidade dos praticantes, no que toca às esferas cognitiva, afetiva, motivacional, física e social.

  • Unitermos : Arte marcial.
  • Revisão de literatura.
  • Desenvolvimento físico e psíquico.
  • Abstract The human being construct their identity and subjectivity while performing their activities of transformation of nature, as well as through their socio-cultural productions.
  • This article, focusing on martial arts as a human product, aimed to list positive effects reported in the literature martial and common sense arising from the practice of this kind of sport, eg, increased self-control, mental balance, self-confidence, persistence and reflections and then compared these results to those found in the scientific literature.

Thus, this study sought to review academic publications on the subject and to examine possible explanations for the supposed beneficial effects of martial arts on human development, both in their physical and psychic aspects. Initially a conceptual definition was made ​​on the subject martial art, then the presentation of the main scientific findings obtained through a review of literature in SciELO, PePSIC and Google Scholar databases.

Finally, it is concluded that, despite the few studies about the positive effects of martial arts to the physical and psychological development, there are indications that its practice can bring different contributions to personality practitioners, regarding to cognitive, affective, motivational, physical and social aspects.

Keywords : Martial arts. Literature review. Physical and mental development. Recepção: 27/10/2014 – Aceitação: 11/01/2015 EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015.1. Introdução O homem constitui-se e diferencia-se dos demais animais pela natureza de sua atividade no mundo.

  1. Esse traço característico da ação prática na realidade percebida entre os homens e os outros animais tem um reflexo importante no processo de construção da subjetividade e da identidade humana: o “quem sou” está relacionado ou intimamente ligado ao “o que faço”.
  2. Assim, ao referir-se ao termo atividade, não se deve considerar simplesmente o trabalho/profissão, mas sim a qualquer ação motivada pelas necessidades históricas humanas e que é orientada de forma consciente e destinada à transformação da natureza pelo homem e a, conseqüente, transformação de si próprio nesse processo (MARX, 2004).

Por isso, Leontiev (1978) afirma que a atividade humana resulta de um longo processo de desenvolvimento sócio-histórico e é internalizada pelo indivíduo, constituindo sua consciência e formando sua personalidade. Podem-se citar como exemplos destas atividades as artes plásticas, a literatura, a música, a ciência, a guerra e, também, as práticas esportivas.

No que diz respeito à atividade física do homem, mais precisamente aos esportes, nota-se que sua prática pode contribuir positivamente de várias maneiras na vida das pessoas, desde o ponto de vista biológico, social e até psíquico, propiciando bem-estar emocional (PIERON, 2004). Dentre os mais variados esportes, coloca-se em evidência uma modalidade denominada artes marciais, pelos efeitos positivos que podem exercer sobre a saúde física e mental, na medida em parecem promover desenvolvimento pessoal, especialmente de crianças e adolescentes (FEITOSA; NAKASSU; FLAMINO; ARRUDA, 2011; QUINTÃO; NOVACOSKI, 2013; KIM, DATTILO e HEO, 2011).

Santos (2004, p.7-8) elucida os efeitos das artes marciais sobre o desenvolvimento psicológico, ao tratar do judô, da seguinte maneira: quando Jigoro Kano criou o judô ele definiu objetivos para esta arte, que não se limitavam a questões práticas, mas sim um judô que fosse trabalhado como forma de desenvolver o caráter, a moral, autodomínio, autoconhecimento, respeito mútuo, entre outros.

Ainda que na literatura marcial e no senso comum sejam amplamente divulgados os efeitos positivos sobre o indivíduo que pratica artes marciais, como por exemplo, a melhoria do autocontrole, do equilíbrio mental, da autoconfiança, da persistência e até dos reflexos e coordenação motora, na literatura científica ainda há poucos trabalhos que atestam essa associação.

Para preencher essa lacuna, este artigo visa a analisar as contribuições teóricas produzidas sobre o tema em duas bases de dados importantes da Psicologia: a SciELO (base de dados nacionais) e a PePSIC (base de dados latino-americana), além da ferramenta de busca Scholar Google,

  1. Mais especificamente, o presente estudo visa identificar publicações e analisar suas possíveis contribuições para o esclarecimento dos efeitos positivos das artes marciais sobre o desenvolvimento humano, em seus aspectos físicos e psíquicos.
  2. Para atender aos objetivos, inicialmente será apresentada uma revisão teórica com a finalidade de conceituar as artes marciais, diferenciá-las de esportes de combate e apresentar as doutrinas que as regem, de modo a compreender como os efeitos positivos dessa atividade esportiva são defendidos na literatura marcial.

Em seguida, serão apresentados os principais resultados da revisão de literatura, com o intuito de sistematizar os principais achados de estudos empíricos e de revisão que tratam dos efeitos das artes marciais sobre o desenvolvimento psíquico e físico dos sujeitos que a praticam.

  • Finalmente, será tecida uma breve conclusão sobre esses achados de modo a identificar avanços e limites, que poderão nortear futuros estudos.2.
  • Metodologia Esse é um estudo de revisão bibliográfica sobre artes marciais e suas implicações para o desenvolvimento físico e psíquico humano.
  • Fachin (2006) afirma que a pesquisa bibliográfica é, por excelência, uma fonte inesgotável de informações, pois auxilia na atividade intelectual e contribui para o conhecimento cultural em todas as formas do saber.

O estudo foi realizado em três momentos: primeiramente, foi conduzido um levantamento de publicações de mestres de artes marciais, bem como sites e/ou documentação que tratavam das doutrinas que regem as diversas artes marciais, buscando identificar suas relações com os aspectos psicológicos, especialmente no que diz respeito à formação moral do caráter (um elemento da personalidade) do praticante.

  • Em seguida, foi conduzido uma pesquisa bibliográfica nas duas principais bases de dados de psicologia brasileiras (SciELO e PePSIC) e também na ferramenta de busca Scholar Google, entrando-se com as expressões “artes marciais” and “saúde mental” and “saúde física”.
  • Não foi feita delimitação de datas para a pesquisa.

Finalmente, uma vez que foram identificados poucos estudos, foi feita a leitura na integra de seu conteúdo e sintetizado suas principais conclusões.3. Arte Marcial e seus efeitos sobre o desenvolvimento psicológico humano. Revisão da literatura marcial Com origens históricas antiquíssimas, etimologicamente falando, a “Arte Marcial” quer dizer “Arte Militar” – marcial refere-se a Marte, deus romano da guerra – e são técnicas de combate com ou sem armas (ÁRIES, 1998).

  • Devido a suas distantes origens cronológicas e, também, ao fato de que muitos dos ensinamentos eram passados verbalmente, com ausência quase que total de registros escritos, suas gêneses históricas reais são envoltas de mitos e lendas (ÁRIES, 1998).
  • Segundo Áries (1998), muitas pessoas acreditam que artes marciais são as lutas orientais praticadas cotidianamente em academias.

Entretanto, para o mesmo autor, também existem definições melhor creditadas, que as conceituam como diferentes métodos de defesa pessoal e técnicas militares a serviço dos povos para defesa da pátria e de seus bens. Desta forma, não basta ser uma técnica de combate ou defesa pessoal para ser considerada arte marcial, é necessário também que tenha sido utilizada historicamente como método ou recurso de defesa de uma nação ou comunidade (ÁRIES, 1998).

  1. No oriente, influências advindas da filosofia e de religiões como o budismo, taoismo, xintoísmo e confucionismo estão intimamente arraigadas na cultura e igualmente ligadas às artes marciais.
  2. Tal junção visava preparar o sujeito física e espiritualmente, e objetivavam, deste modo, seu aprimoramento como ser humano de uma forma mais ampla (LEE, 2007).

Para Áries (1998, p.17) tais “artes têm a intenção de servir como meio de autoanálise e aprimoramento do caráter, levando o praticante a uma maior compreensão das forças que regem o universo”. Os esportes de combate, por sua vez, são definidos como práticas desportivas com competições e regras estabelecidas, podendo ou não ser utilizados como técnica de defesa pessoal ou de aperfeiçoamento físico, mas não visam contribuir para o amadurecimento e aperfeiçoamento do indivíduo (ÀRIES, 1998).

Diante do exposto, pode-se afirmar que, conforme Áries (1998), o Karatê, o Judô, o Jiu-Jitsu e o Aikidô, por exemplo, podem ser considerados artes marciais da mesma forma que a Capoeira brasileira, visto que os escravos existentes em todo o Brasil, além de desenvolvê-la, utilizaram-na para sua própria defesa e incorporaram nela seus elementos culturais.

Na mesma linha de raciocínio, exemplificativamente, o boxe, o kickboxe e o MMA (do inglês mixed martial arts ; artes marciais mistas), para o mesmo autor, não podem ser considerados artes marciais pelos mesmos fatores: além de não terem sido ensinados sistematicamente nas forças armadas de uma nação, não têm a intenção de desenvolver aspectos espirituais e de auto-aperfeiçoamento nos praticantes.

  • Importante observar que, como a competitividade é bastante disseminada no mundo atual, principalmente na parte ocidental, muitas artes marciais têm sido ensinadas somente como esportes de combate.
  • Torna-se comum, assim, encontrar escolas que ensinam as mesmas técnicas marciais, porém com um enfoque doutrinário diferente do original (ÁRIES, 1998).

As artes marciais, como enfatizado antes, são permeadas por inúmeros aspectos, entre eles os religiosos e filosóficos. Sábios do passado, como o fundador do Taoísmo, Lao Tsé, e outros, como os do oráculo grego de Delfos afirmavam o que, para muitos, são considerados axiomas filosóficos clássicos.

Era dito por eles, Lao Tsé e no Oráculo de Delfos, respectivamente: Aquele que conhece os outros é sábio, aquele que conhece a si mesmo é iluminado. Aquele que vence o outro é potente, aquele que vence a si mesmo é forte. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses. (ÀRIES, 1998, p.18 e p.36) Da mesma forma, Gichin Funakoshi orientava seus discípulos (através de máximas dentro dos seus vinte ensinamentos) para que cada um “Conheça a si próprio antes de julgar os outros” (FUNAKOSHI, 2005).

Ao analisar essas sentenças e sabendo de doutrinas que influenciaram tais artes, é notória a importância do autoconhecimento, autocontrole e autoconfiança, não só para os karatecas, mas para todo artista marcial. Estes aspectos seriam passados para os aprendizes ao experimentarem a prática, pois só assim, diante da necessidade de sobrevivência, tais ensinamentos surtiriam efeito.

De acordo com Feijó (1992), a prática de Jiu-Jitsu, Judô e Karatê são marcadas pelas características como nobreza, obediência ao mestre e às regras, respeito mútuo, e são reconhecidas por enfatizar a competição interna. Isso significa que o maior desafio do atleta ou do praticante está em vencer uma “guerra interior” que é travada contra os desequilíbrios e desarmonias pessoais, o que auxilia no autocontrole e no combate à agressividade (FEIJÓ, 1992; PACHECO, 2012).

Destarte, autoconhecer-se finda em melhores relações internas e externas. O auto-aperfeiçoamento propagado neste campo da atividade humana pode ser evidenciado na afirmação de Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido, quando ensinava aos seus discípulos que “a essência do aikido não está no combate aos outros, mas na luta consigo próprio.” (ÁRIES, 1998, p.163), e de igual maneira no ensinamento de mestre Funakoshi (2005), cuja máxima enunciava “não pense em vencer, pense em não ser vencido”.

  1. O mundo das artes marciais é bastante empírico, isto é, o indivíduo vai se conhecendo e aprendendo, principalmente a partir de suas experiências.
  2. Será através da experimentação prática que ele irá ganhando provas dos fundamentos ensinados e, principalmente, de sua própria capacidade, gerando deste modo confiança em si mesmo.

Não existe material publicado para referência, mas uma máxima oral comum em academias de artes marciais japonesas diz que “Sem a prática, não há prova. Sem a prova, não há confiança. Sem a confiança, não há respeito”. Como é possível constatar, muitas artes marciais defendem o autoconhecimento como um pilar bastante importante na construção do praticante.

  1. A guisa de exemplo, alude-se a um conjunto de pensamentos que ficou conhecido popularmente como “os mandamentos do judô”, ensinamentos que Jigoro Kano – seu fundador – transmitia aos seus alunos e que, como explica Virgílio (1986), orientam a sua prática.
  2. Entre eles, neste contexto, pode-se destacar o “conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar” (VIRGÍLIO, 1986) e, ainda, novamente pode-se fazer menção a Gichin Funakoshi (2005) quando em seus ensinamentos afirmava: “Conheça a si próprio antes de julgar os outros”.

Ao provar a autoconfiança e autoconhecimento, o indivíduo se autoavalia e, tomando noção do seu valor, pressupõe-se que tem possibilidades de adquirir o autorrespeito e, ao menos em tese, sabendo da sua importância desenvolveria a estima e o respeito ao próximo.

  1. Praticamente em todas as modalidades deste esporte as atividades se iniciam e terminam com cumprimentos.
  2. De acordo com o site do Instituto Takemussu (1996), centro oficial de divulgação do Aikido Tradicional no Brasil, Morihei Ueshiba (fundador desta arte) educava que o “Aikido começa e termina com respeito”.

Gishin Funakoshi (2005) tinha como mandamento o “respeito acima de tudo” e como ensinamento “não se esqueça que o karatê inicia-se e termina com saudação”, e Jigoro Kano (2008) também enfatizava bastante as reverências. Este, por sua vez, explicava isso como uma indicação, um sinal de respeito com o colega, principalmente por ele “emprestar” seu corpo para o seu treino.

  1. Da mesma forma que na existência cotidiana, no mundo marcial dificilmente se vencem obstáculos sem o desenvolvimento de estratégias.
  2. E no calor da batalha, vence aquele que consegue o autocontrole para manter-se equilibrado a ponto de desenvolver tais táticas.
  3. Muitos comparam um combate marcial a um jogo de xadrez, no qual a pessoa tem sempre que estar um passo à frente do seu oponente para vencê-lo.

A diferença é que a integridade física também está em jogo, uma variável que força (estimula) o desenvolvimento de um grande equilíbrio mental em situações estressantes. Morihei Ueshiba instruía que “o estado interior deve ser como um grande e calmo mar” (ÁRIES, 1998, p.163), e mestre Funakoshi (2005) tinha como ensinamento que o karateca deveria “evitar o descontrole do equilíbrio mental”.

Finalmente, é importante discorrer que diversos mestres recomendavam que as artes marciais não deveriam limitar-se somente à academia e, principalmente, que somente surtiriam seu real efeito nos praticantes se seus princípios fossem aliados a vida cotidiana. Como último exemplo, faz-se referência mais uma vez a dois grandes educadores e expoentes do meio artístico marcial, o mestre Funakoshi (2005), que ensinava como um mandamento acerca de sua modalidade que “o Karatê dará frutos quando associado à vida cotidiana”, e o mestre Kano (2008), que via o judô como uma ferramenta para ensinar e aprimorar o uso da energia mental e física das pessoas, e tinha como propósito principal ajudar a pessoa a se aperfeiçoar – nos aspectos físicos, intelectuais e morais – com a finalidade de que, através disso, este pudesse contribuir com a sociedade.4.

Relações entre a prática de artes marciais e desenvolvimento psíquico e físico: revisão da literatura científica Gondim (2006), ao analisar a indicação do Judô pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura), entende que esse é um dos esportes mais aconselhados na fase que envolve da infância até os quatorze anos de idade, pois: permite mediante o jogo e a diversão, conjugar fatores essenciais para o desenvolvimento do indivíduo, como por exemplo, a coordenação de movimentos, a psicomotricidade, o equilíbrio, a expressão corporal e a situação espacial (percepção cinestésica).

  • GONDIM, 2006, p.4).
  • Diversas pesquisas mostram como a prática de artes marciais pode ser bastante produtiva desde a tenra infância, especialmente em termos de psicomotricidade.
  • Um estudo comparativo realizado por Violan et al.
  • 1997), entre garotos de 8 a 13 anos de idade, sem treinos em artes marciais, mas que iniciaram e praticaram Karatê durante seis meses, contrastados com meninos que praticaram pelo mesmo período de tempo outros esportes recreativos, teve como resultado que os testes de avaliação e comparação entre os grupos expôs significativos ganhos em flexibilidade, força e equilíbrio para o grupo praticante de karatê.

Estes três componentes são básicos na educação física e muito importantes na prevenção de lesões esportivas em tempos futuros. Outros estudos com crianças e artes marciais comparadas a jogos e esportes recreativos foram realizados. Sekulic et al. (2006) pesquisaram e concluiuram que o treino de Judô é mais efetivo para o desenvolvimento físico do que esportes recreativos.

Foi comparado o desenvolvimento físico de meninos de 7 anos de idade após 9 meses de prática destas modalidades esportivas, e a análise da variação dos resultados mostrou que ambas produziram contribuições para a coordenação motora, flexibilidade, velocidade, enrijecimento muscular, altura e peso corporal.

Entretanto, os submetidos ao treino de judô demonstraram significativamente melhores resultados em agilidade, flexibilidade e enrijecimento da musculatura abdominal. Portanto, a prática deste esporte permitiu às crianças melhorarem suas capacidades físicas em comparação a outros esportes e jogos não especializados.

Num estudo qualitativo, conduzido com pais de crianças que praticam judô, Feitosa, Nakassu e Flamino (2011), concluem que há uma série de indicadores psicossociais que aparecem no discurso dos entrevistados, quando falam sobre como esse esporte pode contribuir para a formação educativa de seus filhos (diferenciação entre lutar e brigar, aspecto de respeito, aspectos de concentração, aumento de autoconfiança, crença na importância formativa, contribuição no aspecto emocional e aspecto de superação).

Outra pesquisa realizada por Palermo et al. (2006) com crianças que apresentavam distúrbios comportamentais discordantes como desobediência, transtorno de oposição e desafio, transtorno de conduta e transtorno do déficit de atenção\hiperatividade, teve como objetivo verificar a eficácia do karatê como intervenção no ajuste destes comportamentos.

Os pesquisadores tiveram como resultado justamente que a arte marcial, quando bem ensinada, pode ser proveitosa no auxilio dos programas que visam à redução da externalização destes comportamentos problemáticos. Palermo et al. (2006) concluiram também que as crianças submetidas à prática do karatê apresentaram melhoras em casa, na academia e na escola, em contraste com as que não receberam este tipo de intervenção.

E ainda que, quando tradicionalmente e metodologicamente ensinado e praticado, o karatê conduz à melhoria de aspectos como autoconfiança, autocontrole, concentração, atenção dirigida e administração de habilidades, da mesma forma que estimula habilidades sociais e respeito mútuo.

Vale lembrar, que as artes marciais na condição de atividades físicas praticadas regularmente – devido a questões fisiológicas e metabólicas – têm impacto positivo sobre a vida das pessoas, desde a saúde (como redução dos níveis de ansiedade, depressão moderada, estresse e prevenção de doenças), e também promovendo mais energia e vigor físico, atitudes positivas em relação ao trabalho e, conseqüentemente, melhor convívio social (PIERON, 2004).

No que tange ao relacionamento das artes marciais e o estresse é pertinente comentar acerca de uma pesquisa realizada por Szabo e Parkin (2001). Eles avaliaram o impacto psicológico da privação de treino em atletas graduados em karatê de ambos os sexos durante uma semana.

Ao final, eles puderam notar consideráveis aumentos na raiva, depressão, tensão, emoções negativas e total distúrbio no humor. E ainda, modestas, mas significativas quedas em emoções positivas e vigor, sem encontrar diferenças nos resultados entre homens e mulheres. Szabo e Parkin (2001), desta forma, concluíram que, ao menos nos praticantes avançados de karatê, altos distúrbios de humor surgem após a abstinência de uma semana de treino, independente do gênero do praticante.

Embora este estudo tenha sido desenvolvimento somente com karatecas e exista na literatura científica uma grande lacuna de trabalhos com outras modalidades de artes marciais, seria um erro pensar que tais resultados se limitariam somente a esta arte, pois as demais compartilham elementos em comum, como muitos princípios, técnicas e metodologia bastante similares.5.

Conclusão Os resultados encontrados permitem concluir que, apesar da escassez de estudos que investigam os efeitos positivos das artes marciais sobre o desenvolvimento físico e psíquico de seus praticantes, parece haver alguma evidência de que a prática de artes marciais pode trazer como conseqüência diversas contribuições positivas para a personalidade dos praticantes, no que toca às esferas cognitiva, afetiva, motivacional, física e social do indivíduo.

De modo geral, algumas características psicológicas percebidas nos praticantes de artes marciais coincidem com aquelas apontadas na literatura marcial: aumento da concentração, aumento de autoconfiança e do autocontrole, desenvolvimento habilidades sociais e respeito mútuo, exatamente os aspectos preconizados por muitos mestres, a exemplo de Gichin Funakoshi.

Ainda no que diz respeito aos aspectos psicológicos, estudos têm indicado o efeito positivo na redução dos níveis de ansiedade, da depressão, do estresse e na prevenção de doenças. Para além das características psicológicas, os estudos científicos apontam para melhorias no aspecto psicomotor e físico, especialmente de crianças e adolescentes, tais como, melhoras na coordenação de movimentos, no equilíbrio, na expressão corporal e na situação espacial, ganhos em flexibilidade, força, enrijecimento muscular, altura, peso corporal e agilidade.

Até o momento, os estudos publicados centram-se mais na fase da infância e adolescência e com amostras pequenas. Dada a escassez de pesquisas e a importância que as artes marciais parecem ter sobre o desenvolvimento físico e mental saudável dos indivíduos, novos trabalhos, especialmente empíricos e com amostras mais numerosas e variadas, incluindo indivíduos de outras faixas etárias são necessários, principalmente no momento atual, no qual as artes marciais ganham cada vez mais popularidade e destaque na mídia e sociedade do Brasil e do mundo.

ÁRIES, Marcos Antônio. A origem das artes marciais: O seu Simbolismo Como Veículo de Iluminação, Itabuna: Gráfica Colorpress, 1998. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia.5. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2006. FEIJÓ, Olavo Guimarães, Corpo e Movimento: uma psicologia para o esporte, Rio de Janeiro. Shape.1992. FEITOSA, C. A; NAKASSU, T.; FLAMINO, F.; ARRUDA, E.O. O judô escolar enquanto prática formativa. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 153, 2011. FUNAKOSHI, Gichin. Os vinte princípios fundamentais do Karatê: o legado espiritual do mestre, São Paulo; Cultrix, 2005. GONDIM. Denis Foster. Aspectos metodológicos aplicados ao ensino do judô para crianças. Recife-Pe, Escola superior de Educação Física (ESEF-UPE). Artigo de conclusão de curso.2006. INSTITUTO TAKEMUSSU. Perguntas mais freqüentes por quem está interessado em começar a treinar aikido.1996. Disponível em: http://www.aikikai.org.br/site.php?pagina=pag_faq.php. Acesso: 12/08/2011. KANO, Jigoro. Energia Mental e Física: Escritos do fundador do Judô. Tradução: Wagner Bull. São Paulo: Pensamento, 2008. KIM, J.; DATTILO, J.; HEO, J. Taekwondo Participation as Serious Leisure for Life Satisfaction and Health. Journal of Leisure Research, v.43, n.4, p.545 – 559, 2011. LEE, Bruce. Aforismos, Tradução: Claudio Salles Carina. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2007. LEONTIEV, A.N. Actividad, conciencia y personalidad. Buenos Aires, Ed. Ciencias del Hombre, 1978. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004. PACHECO, R.L. A influência da prática das artes marciais na redução da agressividade em adolescentes, nas aulas de educação física. Polêmica, v.11, n.3, 2012. PALERMO, Mark T., DI LUIGI, Massimo, DAL FORNO, Gloria, DOMINICI, Cinzia, PIERON, M. Estilo de vida, prática de atividades físicas e esportivas, qualidade de vida. Fitness & Performance Journal, v.3, n.1, p.10-17, 2004. QUINTÃO, R. L; NOVACOSKI, R.L. O judô dentro da prática escolar. EFDeportes.com, Revista Digital, 182, 2013. SANTOS, S.H.S.M.; VIEIRA, D.E.B. Características sociais do judô na escola,2004, p.7-8. http://www.fpj.com.br/artigos/2009_artigo_csje.pdf. (Acesso em 17 out.2010). SEKULIC, Damir, KRSTULOVIC, Sasa, KATIC, Ratko & OSTOJIC, Ljerka. Judo Training is More Effective for Fitness Development Than Recreational Sports for 7-Year-Old Boys. Pediatric Exercise Science, 2006, 18, 329-338. SZABO, Attila & PARKIN, Anna M. The psychological impact of training deprivation in martial artists. Psychology of Sport and Exercise 2, 2001, 187–199. VIOLAN, Mariona A., SMALL, Erick W, ZETARUK, Merrilee N. & MICHELI, Lyle J. The Effect of Karate Training on Flexibility, Muscle Strength, and Balance in 8- to 13-Year-Old Boys. Pediatric Exercise Science, 1997,9, 55-64. VIRGÍLIO, S. A arte do judô. Campinas, SP: Papirus, 1986.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires, Marzo de 2015 Lecturas: Educación Física y Deportes – ISSN 1514-3465 – © 1997-2015 Derechos reservados

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura
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Como é o mundo das artes marciais?

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura Las artes marciales y el desarrollo humano. Una revisión de la literatura The martial arts and human development. Literature review

*Discente do Curso de Medicinada Universidade Estácio de Sá da cidade do Rio de Janeiro**Doutora em Psicologia pela UFSC. Professora Adjuntada Universidade Federal do Sul da Bahia(Brasil)

Filipe Lustosa Lacrose* Sandra Adriana Neves Nunes**
Resumo

O ser humano constrói sua identidade e subjetividade enquanto desempenha suas atividades de transformação da natureza, bem como através de suas produções socioculturais. Este artigo, com foco nas artes marciais como produto humano, objetivou elencar efeitos positivos citados na literatura marcial e no senso comum decorrentes da prática deste tipo de esporte como, por exemplo, o aumento do autocontrole, do equilíbrio mental, da autoconfiança, da persistência e reflexos e em seguida, comparou estes resultados aos encontrados pela literatura científica,

  1. Deste modo, o presente estudo buscou revisar publicações acadêmicas sobre o tema e analisar possíveis explicações para as supostas conseqüências benéficas das artes marciais sobre o desenvolvimento humano, tanto em seus aspectos físicos quanto psíquicos.
  2. Inicialmente foi feita uma definição conceitual acerca do assunto arte marcial, seguida da apresentação dos principais achados científicos obtidos através de uma revisão de literatura nas bases de dados do SciELO, PePSIC e Scholar Google.

Por fim, conclui-se que, apesar dos poucos trabalhos investigativos sobre os efeitos positivos das artes marciais para o desenvolvimento físico e psíquico de seus adeptos, há indicativos de que sua prática pode trazer diversas contribuições para a personalidade dos praticantes, no que toca às esferas cognitiva, afetiva, motivacional, física e social.

  1. Unitermos : Arte marcial.
  2. Revisão de literatura.
  3. Desenvolvimento físico e psíquico.
  4. Abstract The human being construct their identity and subjectivity while performing their activities of transformation of nature, as well as through their socio-cultural productions.
  5. This article, focusing on martial arts as a human product, aimed to list positive effects reported in the literature martial and common sense arising from the practice of this kind of sport, eg, increased self-control, mental balance, self-confidence, persistence and reflections and then compared these results to those found in the scientific literature.

Thus, this study sought to review academic publications on the subject and to examine possible explanations for the supposed beneficial effects of martial arts on human development, both in their physical and psychic aspects. Initially a conceptual definition was made ​​on the subject martial art, then the presentation of the main scientific findings obtained through a review of literature in SciELO, PePSIC and Google Scholar databases.

Finally, it is concluded that, despite the few studies about the positive effects of martial arts to the physical and psychological development, there are indications that its practice can bring different contributions to personality practitioners, regarding to cognitive, affective, motivational, physical and social aspects.

Keywords : Martial arts. Literature review. Physical and mental development. Recepção: 27/10/2014 – Aceitação: 11/01/2015 EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015.1. Introdução O homem constitui-se e diferencia-se dos demais animais pela natureza de sua atividade no mundo.

Esse traço característico da ação prática na realidade percebida entre os homens e os outros animais tem um reflexo importante no processo de construção da subjetividade e da identidade humana: o “quem sou” está relacionado ou intimamente ligado ao “o que faço”. Assim, ao referir-se ao termo atividade, não se deve considerar simplesmente o trabalho/profissão, mas sim a qualquer ação motivada pelas necessidades históricas humanas e que é orientada de forma consciente e destinada à transformação da natureza pelo homem e a, conseqüente, transformação de si próprio nesse processo (MARX, 2004).

Por isso, Leontiev (1978) afirma que a atividade humana resulta de um longo processo de desenvolvimento sócio-histórico e é internalizada pelo indivíduo, constituindo sua consciência e formando sua personalidade. Podem-se citar como exemplos destas atividades as artes plásticas, a literatura, a música, a ciência, a guerra e, também, as práticas esportivas.

  • No que diz respeito à atividade física do homem, mais precisamente aos esportes, nota-se que sua prática pode contribuir positivamente de várias maneiras na vida das pessoas, desde o ponto de vista biológico, social e até psíquico, propiciando bem-estar emocional (PIERON, 2004).
  • Dentre os mais variados esportes, coloca-se em evidência uma modalidade denominada artes marciais, pelos efeitos positivos que podem exercer sobre a saúde física e mental, na medida em parecem promover desenvolvimento pessoal, especialmente de crianças e adolescentes (FEITOSA; NAKASSU; FLAMINO; ARRUDA, 2011; QUINTÃO; NOVACOSKI, 2013; KIM, DATTILO e HEO, 2011).

Santos (2004, p.7-8) elucida os efeitos das artes marciais sobre o desenvolvimento psicológico, ao tratar do judô, da seguinte maneira: quando Jigoro Kano criou o judô ele definiu objetivos para esta arte, que não se limitavam a questões práticas, mas sim um judô que fosse trabalhado como forma de desenvolver o caráter, a moral, autodomínio, autoconhecimento, respeito mútuo, entre outros.

Ainda que na literatura marcial e no senso comum sejam amplamente divulgados os efeitos positivos sobre o indivíduo que pratica artes marciais, como por exemplo, a melhoria do autocontrole, do equilíbrio mental, da autoconfiança, da persistência e até dos reflexos e coordenação motora, na literatura científica ainda há poucos trabalhos que atestam essa associação.

Para preencher essa lacuna, este artigo visa a analisar as contribuições teóricas produzidas sobre o tema em duas bases de dados importantes da Psicologia: a SciELO (base de dados nacionais) e a PePSIC (base de dados latino-americana), além da ferramenta de busca Scholar Google,

Mais especificamente, o presente estudo visa identificar publicações e analisar suas possíveis contribuições para o esclarecimento dos efeitos positivos das artes marciais sobre o desenvolvimento humano, em seus aspectos físicos e psíquicos. Para atender aos objetivos, inicialmente será apresentada uma revisão teórica com a finalidade de conceituar as artes marciais, diferenciá-las de esportes de combate e apresentar as doutrinas que as regem, de modo a compreender como os efeitos positivos dessa atividade esportiva são defendidos na literatura marcial.

Em seguida, serão apresentados os principais resultados da revisão de literatura, com o intuito de sistematizar os principais achados de estudos empíricos e de revisão que tratam dos efeitos das artes marciais sobre o desenvolvimento psíquico e físico dos sujeitos que a praticam.

  1. Finalmente, será tecida uma breve conclusão sobre esses achados de modo a identificar avanços e limites, que poderão nortear futuros estudos.2.
  2. Metodologia Esse é um estudo de revisão bibliográfica sobre artes marciais e suas implicações para o desenvolvimento físico e psíquico humano.
  3. Fachin (2006) afirma que a pesquisa bibliográfica é, por excelência, uma fonte inesgotável de informações, pois auxilia na atividade intelectual e contribui para o conhecimento cultural em todas as formas do saber.

O estudo foi realizado em três momentos: primeiramente, foi conduzido um levantamento de publicações de mestres de artes marciais, bem como sites e/ou documentação que tratavam das doutrinas que regem as diversas artes marciais, buscando identificar suas relações com os aspectos psicológicos, especialmente no que diz respeito à formação moral do caráter (um elemento da personalidade) do praticante.

  1. Em seguida, foi conduzido uma pesquisa bibliográfica nas duas principais bases de dados de psicologia brasileiras (SciELO e PePSIC) e também na ferramenta de busca Scholar Google, entrando-se com as expressões “artes marciais” and “saúde mental” and “saúde física”.
  2. Não foi feita delimitação de datas para a pesquisa.

Finalmente, uma vez que foram identificados poucos estudos, foi feita a leitura na integra de seu conteúdo e sintetizado suas principais conclusões.3. Arte Marcial e seus efeitos sobre o desenvolvimento psicológico humano. Revisão da literatura marcial Com origens históricas antiquíssimas, etimologicamente falando, a “Arte Marcial” quer dizer “Arte Militar” – marcial refere-se a Marte, deus romano da guerra – e são técnicas de combate com ou sem armas (ÁRIES, 1998).

  • Devido a suas distantes origens cronológicas e, também, ao fato de que muitos dos ensinamentos eram passados verbalmente, com ausência quase que total de registros escritos, suas gêneses históricas reais são envoltas de mitos e lendas (ÁRIES, 1998).
  • Segundo Áries (1998), muitas pessoas acreditam que artes marciais são as lutas orientais praticadas cotidianamente em academias.

Entretanto, para o mesmo autor, também existem definições melhor creditadas, que as conceituam como diferentes métodos de defesa pessoal e técnicas militares a serviço dos povos para defesa da pátria e de seus bens. Desta forma, não basta ser uma técnica de combate ou defesa pessoal para ser considerada arte marcial, é necessário também que tenha sido utilizada historicamente como método ou recurso de defesa de uma nação ou comunidade (ÁRIES, 1998).

  1. No oriente, influências advindas da filosofia e de religiões como o budismo, taoismo, xintoísmo e confucionismo estão intimamente arraigadas na cultura e igualmente ligadas às artes marciais.
  2. Tal junção visava preparar o sujeito física e espiritualmente, e objetivavam, deste modo, seu aprimoramento como ser humano de uma forma mais ampla (LEE, 2007).

Para Áries (1998, p.17) tais “artes têm a intenção de servir como meio de autoanálise e aprimoramento do caráter, levando o praticante a uma maior compreensão das forças que regem o universo”. Os esportes de combate, por sua vez, são definidos como práticas desportivas com competições e regras estabelecidas, podendo ou não ser utilizados como técnica de defesa pessoal ou de aperfeiçoamento físico, mas não visam contribuir para o amadurecimento e aperfeiçoamento do indivíduo (ÀRIES, 1998).

Diante do exposto, pode-se afirmar que, conforme Áries (1998), o Karatê, o Judô, o Jiu-Jitsu e o Aikidô, por exemplo, podem ser considerados artes marciais da mesma forma que a Capoeira brasileira, visto que os escravos existentes em todo o Brasil, além de desenvolvê-la, utilizaram-na para sua própria defesa e incorporaram nela seus elementos culturais.

Na mesma linha de raciocínio, exemplificativamente, o boxe, o kickboxe e o MMA (do inglês mixed martial arts ; artes marciais mistas), para o mesmo autor, não podem ser considerados artes marciais pelos mesmos fatores: além de não terem sido ensinados sistematicamente nas forças armadas de uma nação, não têm a intenção de desenvolver aspectos espirituais e de auto-aperfeiçoamento nos praticantes.

Importante observar que, como a competitividade é bastante disseminada no mundo atual, principalmente na parte ocidental, muitas artes marciais têm sido ensinadas somente como esportes de combate. Torna-se comum, assim, encontrar escolas que ensinam as mesmas técnicas marciais, porém com um enfoque doutrinário diferente do original (ÁRIES, 1998).

As artes marciais, como enfatizado antes, são permeadas por inúmeros aspectos, entre eles os religiosos e filosóficos. Sábios do passado, como o fundador do Taoísmo, Lao Tsé, e outros, como os do oráculo grego de Delfos afirmavam o que, para muitos, são considerados axiomas filosóficos clássicos.

  1. Era dito por eles, Lao Tsé e no Oráculo de Delfos, respectivamente: Aquele que conhece os outros é sábio, aquele que conhece a si mesmo é iluminado.
  2. Aquele que vence o outro é potente, aquele que vence a si mesmo é forte.
  3. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.
  4. ÀRIES, 1998, p.18 e p.36) Da mesma forma, Gichin Funakoshi orientava seus discípulos (através de máximas dentro dos seus vinte ensinamentos) para que cada um “Conheça a si próprio antes de julgar os outros” (FUNAKOSHI, 2005).

Ao analisar essas sentenças e sabendo de doutrinas que influenciaram tais artes, é notória a importância do autoconhecimento, autocontrole e autoconfiança, não só para os karatecas, mas para todo artista marcial. Estes aspectos seriam passados para os aprendizes ao experimentarem a prática, pois só assim, diante da necessidade de sobrevivência, tais ensinamentos surtiriam efeito.

  • De acordo com Feijó (1992), a prática de Jiu-Jitsu, Judô e Karatê são marcadas pelas características como nobreza, obediência ao mestre e às regras, respeito mútuo, e são reconhecidas por enfatizar a competição interna.
  • Isso significa que o maior desafio do atleta ou do praticante está em vencer uma “guerra interior” que é travada contra os desequilíbrios e desarmonias pessoais, o que auxilia no autocontrole e no combate à agressividade (FEIJÓ, 1992; PACHECO, 2012).

Destarte, autoconhecer-se finda em melhores relações internas e externas. O auto-aperfeiçoamento propagado neste campo da atividade humana pode ser evidenciado na afirmação de Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido, quando ensinava aos seus discípulos que “a essência do aikido não está no combate aos outros, mas na luta consigo próprio.” (ÁRIES, 1998, p.163), e de igual maneira no ensinamento de mestre Funakoshi (2005), cuja máxima enunciava “não pense em vencer, pense em não ser vencido”.

  • O mundo das artes marciais é bastante empírico, isto é, o indivíduo vai se conhecendo e aprendendo, principalmente a partir de suas experiências.
  • Será através da experimentação prática que ele irá ganhando provas dos fundamentos ensinados e, principalmente, de sua própria capacidade, gerando deste modo confiança em si mesmo.

Não existe material publicado para referência, mas uma máxima oral comum em academias de artes marciais japonesas diz que “Sem a prática, não há prova. Sem a prova, não há confiança. Sem a confiança, não há respeito”. Como é possível constatar, muitas artes marciais defendem o autoconhecimento como um pilar bastante importante na construção do praticante.

  1. A guisa de exemplo, alude-se a um conjunto de pensamentos que ficou conhecido popularmente como “os mandamentos do judô”, ensinamentos que Jigoro Kano – seu fundador – transmitia aos seus alunos e que, como explica Virgílio (1986), orientam a sua prática.
  2. Entre eles, neste contexto, pode-se destacar o “conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar” (VIRGÍLIO, 1986) e, ainda, novamente pode-se fazer menção a Gichin Funakoshi (2005) quando em seus ensinamentos afirmava: “Conheça a si próprio antes de julgar os outros”.

Ao provar a autoconfiança e autoconhecimento, o indivíduo se autoavalia e, tomando noção do seu valor, pressupõe-se que tem possibilidades de adquirir o autorrespeito e, ao menos em tese, sabendo da sua importância desenvolveria a estima e o respeito ao próximo.

Praticamente em todas as modalidades deste esporte as atividades se iniciam e terminam com cumprimentos. De acordo com o site do Instituto Takemussu (1996), centro oficial de divulgação do Aikido Tradicional no Brasil, Morihei Ueshiba (fundador desta arte) educava que o “Aikido começa e termina com respeito”.

Gishin Funakoshi (2005) tinha como mandamento o “respeito acima de tudo” e como ensinamento “não se esqueça que o karatê inicia-se e termina com saudação”, e Jigoro Kano (2008) também enfatizava bastante as reverências. Este, por sua vez, explicava isso como uma indicação, um sinal de respeito com o colega, principalmente por ele “emprestar” seu corpo para o seu treino.

Da mesma forma que na existência cotidiana, no mundo marcial dificilmente se vencem obstáculos sem o desenvolvimento de estratégias. E no calor da batalha, vence aquele que consegue o autocontrole para manter-se equilibrado a ponto de desenvolver tais táticas. Muitos comparam um combate marcial a um jogo de xadrez, no qual a pessoa tem sempre que estar um passo à frente do seu oponente para vencê-lo.

A diferença é que a integridade física também está em jogo, uma variável que força (estimula) o desenvolvimento de um grande equilíbrio mental em situações estressantes. Morihei Ueshiba instruía que “o estado interior deve ser como um grande e calmo mar” (ÁRIES, 1998, p.163), e mestre Funakoshi (2005) tinha como ensinamento que o karateca deveria “evitar o descontrole do equilíbrio mental”.

Finalmente, é importante discorrer que diversos mestres recomendavam que as artes marciais não deveriam limitar-se somente à academia e, principalmente, que somente surtiriam seu real efeito nos praticantes se seus princípios fossem aliados a vida cotidiana. Como último exemplo, faz-se referência mais uma vez a dois grandes educadores e expoentes do meio artístico marcial, o mestre Funakoshi (2005), que ensinava como um mandamento acerca de sua modalidade que “o Karatê dará frutos quando associado à vida cotidiana”, e o mestre Kano (2008), que via o judô como uma ferramenta para ensinar e aprimorar o uso da energia mental e física das pessoas, e tinha como propósito principal ajudar a pessoa a se aperfeiçoar – nos aspectos físicos, intelectuais e morais – com a finalidade de que, através disso, este pudesse contribuir com a sociedade.4.

Relações entre a prática de artes marciais e desenvolvimento psíquico e físico: revisão da literatura científica Gondim (2006), ao analisar a indicação do Judô pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura), entende que esse é um dos esportes mais aconselhados na fase que envolve da infância até os quatorze anos de idade, pois: permite mediante o jogo e a diversão, conjugar fatores essenciais para o desenvolvimento do indivíduo, como por exemplo, a coordenação de movimentos, a psicomotricidade, o equilíbrio, a expressão corporal e a situação espacial (percepção cinestésica).

  • GONDIM, 2006, p.4).
  • Diversas pesquisas mostram como a prática de artes marciais pode ser bastante produtiva desde a tenra infância, especialmente em termos de psicomotricidade.
  • Um estudo comparativo realizado por Violan et al.
  • 1997), entre garotos de 8 a 13 anos de idade, sem treinos em artes marciais, mas que iniciaram e praticaram Karatê durante seis meses, contrastados com meninos que praticaram pelo mesmo período de tempo outros esportes recreativos, teve como resultado que os testes de avaliação e comparação entre os grupos expôs significativos ganhos em flexibilidade, força e equilíbrio para o grupo praticante de karatê.

Estes três componentes são básicos na educação física e muito importantes na prevenção de lesões esportivas em tempos futuros. Outros estudos com crianças e artes marciais comparadas a jogos e esportes recreativos foram realizados. Sekulic et al. (2006) pesquisaram e concluiuram que o treino de Judô é mais efetivo para o desenvolvimento físico do que esportes recreativos.

Foi comparado o desenvolvimento físico de meninos de 7 anos de idade após 9 meses de prática destas modalidades esportivas, e a análise da variação dos resultados mostrou que ambas produziram contribuições para a coordenação motora, flexibilidade, velocidade, enrijecimento muscular, altura e peso corporal.

Entretanto, os submetidos ao treino de judô demonstraram significativamente melhores resultados em agilidade, flexibilidade e enrijecimento da musculatura abdominal. Portanto, a prática deste esporte permitiu às crianças melhorarem suas capacidades físicas em comparação a outros esportes e jogos não especializados.

Num estudo qualitativo, conduzido com pais de crianças que praticam judô, Feitosa, Nakassu e Flamino (2011), concluem que há uma série de indicadores psicossociais que aparecem no discurso dos entrevistados, quando falam sobre como esse esporte pode contribuir para a formação educativa de seus filhos (diferenciação entre lutar e brigar, aspecto de respeito, aspectos de concentração, aumento de autoconfiança, crença na importância formativa, contribuição no aspecto emocional e aspecto de superação).

Outra pesquisa realizada por Palermo et al. (2006) com crianças que apresentavam distúrbios comportamentais discordantes como desobediência, transtorno de oposição e desafio, transtorno de conduta e transtorno do déficit de atenção\hiperatividade, teve como objetivo verificar a eficácia do karatê como intervenção no ajuste destes comportamentos.

Os pesquisadores tiveram como resultado justamente que a arte marcial, quando bem ensinada, pode ser proveitosa no auxilio dos programas que visam à redução da externalização destes comportamentos problemáticos. Palermo et al. (2006) concluiram também que as crianças submetidas à prática do karatê apresentaram melhoras em casa, na academia e na escola, em contraste com as que não receberam este tipo de intervenção.

E ainda que, quando tradicionalmente e metodologicamente ensinado e praticado, o karatê conduz à melhoria de aspectos como autoconfiança, autocontrole, concentração, atenção dirigida e administração de habilidades, da mesma forma que estimula habilidades sociais e respeito mútuo.

Vale lembrar, que as artes marciais na condição de atividades físicas praticadas regularmente – devido a questões fisiológicas e metabólicas – têm impacto positivo sobre a vida das pessoas, desde a saúde (como redução dos níveis de ansiedade, depressão moderada, estresse e prevenção de doenças), e também promovendo mais energia e vigor físico, atitudes positivas em relação ao trabalho e, conseqüentemente, melhor convívio social (PIERON, 2004).

No que tange ao relacionamento das artes marciais e o estresse é pertinente comentar acerca de uma pesquisa realizada por Szabo e Parkin (2001). Eles avaliaram o impacto psicológico da privação de treino em atletas graduados em karatê de ambos os sexos durante uma semana.

Ao final, eles puderam notar consideráveis aumentos na raiva, depressão, tensão, emoções negativas e total distúrbio no humor. E ainda, modestas, mas significativas quedas em emoções positivas e vigor, sem encontrar diferenças nos resultados entre homens e mulheres. Szabo e Parkin (2001), desta forma, concluíram que, ao menos nos praticantes avançados de karatê, altos distúrbios de humor surgem após a abstinência de uma semana de treino, independente do gênero do praticante.

Embora este estudo tenha sido desenvolvimento somente com karatecas e exista na literatura científica uma grande lacuna de trabalhos com outras modalidades de artes marciais, seria um erro pensar que tais resultados se limitariam somente a esta arte, pois as demais compartilham elementos em comum, como muitos princípios, técnicas e metodologia bastante similares.5.

Conclusão Os resultados encontrados permitem concluir que, apesar da escassez de estudos que investigam os efeitos positivos das artes marciais sobre o desenvolvimento físico e psíquico de seus praticantes, parece haver alguma evidência de que a prática de artes marciais pode trazer como conseqüência diversas contribuições positivas para a personalidade dos praticantes, no que toca às esferas cognitiva, afetiva, motivacional, física e social do indivíduo.

De modo geral, algumas características psicológicas percebidas nos praticantes de artes marciais coincidem com aquelas apontadas na literatura marcial: aumento da concentração, aumento de autoconfiança e do autocontrole, desenvolvimento habilidades sociais e respeito mútuo, exatamente os aspectos preconizados por muitos mestres, a exemplo de Gichin Funakoshi.

  1. Ainda no que diz respeito aos aspectos psicológicos, estudos têm indicado o efeito positivo na redução dos níveis de ansiedade, da depressão, do estresse e na prevenção de doenças.
  2. Para além das características psicológicas, os estudos científicos apontam para melhorias no aspecto psicomotor e físico, especialmente de crianças e adolescentes, tais como, melhoras na coordenação de movimentos, no equilíbrio, na expressão corporal e na situação espacial, ganhos em flexibilidade, força, enrijecimento muscular, altura, peso corporal e agilidade.

Até o momento, os estudos publicados centram-se mais na fase da infância e adolescência e com amostras pequenas. Dada a escassez de pesquisas e a importância que as artes marciais parecem ter sobre o desenvolvimento físico e mental saudável dos indivíduos, novos trabalhos, especialmente empíricos e com amostras mais numerosas e variadas, incluindo indivíduos de outras faixas etárias são necessários, principalmente no momento atual, no qual as artes marciais ganham cada vez mais popularidade e destaque na mídia e sociedade do Brasil e do mundo.

ÁRIES, Marcos Antônio. A origem das artes marciais: O seu Simbolismo Como Veículo de Iluminação, Itabuna: Gráfica Colorpress, 1998. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia.5. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2006. FEIJÓ, Olavo Guimarães, Corpo e Movimento: uma psicologia para o esporte, Rio de Janeiro. Shape.1992. FEITOSA, C. A; NAKASSU, T.; FLAMINO, F.; ARRUDA, E.O. O judô escolar enquanto prática formativa. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 153, 2011. FUNAKOSHI, Gichin. Os vinte princípios fundamentais do Karatê: o legado espiritual do mestre, São Paulo; Cultrix, 2005. GONDIM. Denis Foster. Aspectos metodológicos aplicados ao ensino do judô para crianças. Recife-Pe, Escola superior de Educação Física (ESEF-UPE). Artigo de conclusão de curso.2006. INSTITUTO TAKEMUSSU. Perguntas mais freqüentes por quem está interessado em começar a treinar aikido.1996. Disponível em: http://www.aikikai.org.br/site.php?pagina=pag_faq.php. Acesso: 12/08/2011. KANO, Jigoro. Energia Mental e Física: Escritos do fundador do Judô. Tradução: Wagner Bull. São Paulo: Pensamento, 2008. KIM, J.; DATTILO, J.; HEO, J. Taekwondo Participation as Serious Leisure for Life Satisfaction and Health. Journal of Leisure Research, v.43, n.4, p.545 – 559, 2011. LEE, Bruce. Aforismos, Tradução: Claudio Salles Carina. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2007. LEONTIEV, A.N. Actividad, conciencia y personalidad. Buenos Aires, Ed. Ciencias del Hombre, 1978. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004. PACHECO, R.L. A influência da prática das artes marciais na redução da agressividade em adolescentes, nas aulas de educação física. Polêmica, v.11, n.3, 2012. PALERMO, Mark T., DI LUIGI, Massimo, DAL FORNO, Gloria, DOMINICI, Cinzia, PIERON, M. Estilo de vida, prática de atividades físicas e esportivas, qualidade de vida. Fitness & Performance Journal, v.3, n.1, p.10-17, 2004. QUINTÃO, R. L; NOVACOSKI, R.L. O judô dentro da prática escolar. EFDeportes.com, Revista Digital, 182, 2013. SANTOS, S.H.S.M.; VIEIRA, D.E.B. Características sociais do judô na escola,2004, p.7-8. http://www.fpj.com.br/artigos/2009_artigo_csje.pdf. (Acesso em 17 out.2010). SEKULIC, Damir, KRSTULOVIC, Sasa, KATIC, Ratko & OSTOJIC, Ljerka. Judo Training is More Effective for Fitness Development Than Recreational Sports for 7-Year-Old Boys. Pediatric Exercise Science, 2006, 18, 329-338. SZABO, Attila & PARKIN, Anna M. The psychological impact of training deprivation in martial artists. Psychology of Sport and Exercise 2, 2001, 187–199. VIOLAN, Mariona A., SMALL, Erick W, ZETARUK, Merrilee N. & MICHELI, Lyle J. The Effect of Karate Training on Flexibility, Muscle Strength, and Balance in 8- to 13-Year-Old Boys. Pediatric Exercise Science, 1997,9, 55-64. VIRGÍLIO, S. A arte do judô. Campinas, SP: Papirus, 1986.

Outros artigos

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires, Marzo de 2015 Lecturas: Educación Física y Deportes – ISSN 1514-3465 – © 1997-2015 Derechos reservados

Artes marciais e desenvolvimento humano. Uma revisão de literatura
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Quais são as características das lutas marciais?

POLÊM!CA Revista Eletrônica A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DAS ARTES MARCIAIS NA REDUÇÃO DA AGRESSIVIDADE EM ADOLESCENTES, NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA RENAN LEMOS PACHECO é Graduado em Educação Física (Licenciatura) pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH (PPGEnfBio/Unirio) desde Março/2012. Resumo: Diante de um dos maiores problemas em nossa sociedade, a violência, e suas implicações dentro da escola, este estudo teve por objetivo encontrar a relação entre prática de artes marciais e redução da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de educação física escolar. Fora investigado, através de revisão da literatura existente na área, a utilização das artes marciais para a formação benéfica do caráter e da personalidade de adolescentes. Participaram deste estudo 15 adolescentes praticantes de artes marciais. Os dados foram obtidos através de um formulário semi-estruturado, com perguntas “abertas” e “fechadas”, em que poderiam fazer comentários e exemplos sobre os temas tratados. Através da análise dos resultados obtidos, pode-se verificar que é na situação do jogo em que ocorre maior incidência de manifestação de comportamento agressivo nas aulas de educação física. E a prática de artes marciais pode auxiliar na redução na ação/reação agressiva por parte dos adolescentes durante as aulas. Contribuindo, assim, para o autocontrole dos alunos e para sua formação como cidadão. Palavras chave: Agressividade, Artes Marciais, Educação Física Escolar, Adolescentes. EL PODER DE LA PRACTICA DE LAS ARTES MARCIALES EM LA REDUCIÓN DE LA AGRESSIVIDADE EM LOS JOVENES EN LAS CLASES DE EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR Resúmen: Delante de un de los mayores problemas em nuestra sociedad, a violéncia, y sus provocaciones en la escuela, há hecho de este estúdio un objetivo para encontrar la relación en la práctica de las artes marciales y la reducción de la manifestación de comportamiento agresivo en jovenes en las clases de Educación Física Escolar. Fuera indagado a travéz de la revisión de la literatura existente en el campo, la utilización de las artes marcialespara para la formación favorable de carácter y de la personalidad de los jovenes. Tuvieron participación en este aprendizaje, quinze jovenes que practican las artes marciales. Las informaciones llegaron por planilhas organizadas com las perguntas “abiertas” y “cerradas”, donde podrián hacer anotaciones y darejemplos de los assuntos cuidados. Podremos mirar la situación del juego, em que hay la mayor zuantidad de la manifestación del comportamiento agresivo em las clases de Educación Física. Y la práctica de las Artes Marciales pueden auxiliar en la redución de la acción/reación agresiva por los jovenes, haciendo la contribuición para el autocontrol de los alumnos y para la formación de cidadones Palabras Principales : Agressividad, Artes Marciales, Educación Física Escolar, Jovenes INTRODUÇÃO A violência e a agressividade são um dos temas mais vistos na mídia nos dias de hoje. Sempre se podem ver tais atitudes em estádios de futebol, em bares, em festas e no ambiente familiar. E o que se torna ainda mais comum é a prática dessas atitudes no ambiente escolar. Isso pode ser explicado como um reflexo da sociedade que cerca a escola e seus alunos, tornando esse problema mais amplo do que se imagina. As crianças de certa forma, acabam sendo influenciadas, sejam pela mídia, pelos amigos ou parentes a fazer o mesmo. Cria-se uma imagem positiva sobre essas práticas, sendo interpretadas como “maneiras” e “legais”. E aqueles que não fazem o mesmo, são tachados de bobos e covardes. Todas as escolas apresentam casos de agressividade entre os alunos. Não importa se são colégios públicos ou colégios particulares, a violência juvenil está sempre presente, seja por atos de danos ao patrimônio, ou por xingamentos aos docentes, entre outros. Em contra partida a essa realidade, estão as doutrinas e filosofias das artes marciais que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, pregam a não-violência e o auto-controle. A prática das artes marciais é vista como uma oportunidade que o individuo tem de agredir seu próximo. Isso pode ser atribuído à influência da mídia sobre as pessoas, divulgando filmes e desenhos animados que trazem essa mensagem errônea. Porém, ao adentrar em uma modalidade de arte marcial, o aluno praticante pode conhecer um mundo completamente diferente, com normas rígidas de conduta e disciplina, que auxiliam na formação moral do individuo. Assim como proposto nos PCN’s – Educação Física (BRASIL, 1998), a prática de lutas é caracterizada por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. A agressividade na escola Como definição inicial ao termo agressividade, consideramos agressividade uma forma de conduta com o objetivo de ferir alguém física e psicologicamente (DE SOUZA, s/d). Também Laplanche (1981, apud ANDERLE, VALSECHI e VEIT, 2007), define agressividade como uma tendência ou conjunto delas, onde se atualizam em condutas reais ou fantasiosas, direcionadas com a finalidade de danificar a outra pessoa, a humilhá-la e etc. A agressividade já pode ser considerada como um problema de saúde pública, de acordo com Lopes Neto (2005). Como nos mostra o Mapa de Violência 2010 (NOVA ESCOLA, 2010), entre 1997 e 2007, o número de homicídios envolvendo jovens entre 14 e 16 anos subiu cerca de 30%. De acordo com Monroe (NOVA ESCOLA, 2010), uma das causas da agressividade em adolescentes está nas mudanças fisiológicas decorridas da passagem da infância para adolescência. Essa passagem faz com que a serotonina (neurotransmissor responsável pelo bem-estar) seja reduzida pela metade, causando irritabilidade e dificuldades dos adolescentes em se sentir satisfeitos – marcas dessa fase. Entre outras causas da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes estão as características culturais de nossa sociedade e seus problemas; o crescimento desordenado das cidades; a desestruturação da família; a mídia; os professores autoritários; a prática de desportos de rendimento, a competição exacerbada, a prática de jogos passando, também, pelas dificuldades que a criança tem de se adaptar a determinado contexto social. (ANDERLE, VALSECHI & VEIT, 2007; FEIJÓ, 1992; LISBOA, s/d; LIPPELT, 2004; NOVA ESCOLA, 2010; SCHREIBER, SCOPEL & ANDRADE, 2005). Porém a agressividade em doses moderadas faz parte do ser humano, estando presente em nossa vida e impulsionando-nos para o domínio do conhecimento sobre o mundo e para crescimento pessoal. A agressividade possui certos benefícios, sendo essencial para nossa sobrevivência, desenvolvimento, adaptação e defesa. (DE SOUZA, s/d; LUCON & SCHWARTZ, 2003). De acordo com Lima (1999), existe uma diferenciação entre agressividade e violência. A autora ressalta que a agressividade significa certa determinação direcionada a realizar uma tarefa, sendo assim, com o sentido diferente de sermos violentos para realizar a mesma tarefa. Ao citar Morais (1995), Lima (1999) esclarece que a agressividade está ligada ao instinto de sobrevivência que leva o animal à busca de alimento, água e segurança. Esse instinto é biológico sendo propriamente de animais – animais irracionais. No entanto a violência está relacionada a uma intencionalidade, exigindo assim a inteligência. Sendo assim, os animais irracionais jamais serão violentos, porém ferozes. Artes marciais e agressividade Para compreendermos as Artes Marciais em sua totalidade, devemos remontar ao seu significado etimológico. O termo marcial vem do latim martiale (natural de Marte, o deus da Guerra para os romanos) e significa entre outras definições, “próprio da guerra” ou “relativo a guerreiros”. Enquanto arte é a habilidade do homem, natural ou adquirida, de pôr em prática uma idéia. O binômio de arte marcial deve, então, ser entendido como a capacidade de se praticar e dominar os ensinamentos guerreiros com fins próprios para a obtenção de determinados resultados. Atualmente, o termo arte marcial é sinônimo de luta, defesa pessoal e até agressão, porém, no início dos tempos para as artes marciais, não era bem assim que se definia essa prática. As artes marciais eram utilizadas pelos monges, primeiramente, para manter o corpo saudável e a mente sã. A sua utilização para a defesa pessoal era somente usada quando não se tinha outra opção. Hoje não é isso que se vê, pelo menos na mídia que mostra jovens lutadores praticando atos de violência, sendo que estes deveriam ser exemplos de boa conduta. A autoridade do professor e a arte marcial propriamente dita não são relacionadas à manifestação de comportamento agressivo em seus praticantes. A agressividade estaria relacionada à importância que os professores de lutas dão a competição exacerbada (TRULSON, 1983 apud AMADERA, 2009). Este fato comprova o posicionamento de Feijó (1992) com relação à competição e as artes marciais, pois de acordo como autor as regras oficiais das artes marciais demonstram uma filosofia de cooperação, em vez de competição. Os autores Trulson (1983, apud AMADERA, 2009) e Mesquita (s/d) fazem uma crítica negativa aos clubes e academias onde se treinam artes marciais. As artes marciais nestes espaços, na verdade, são lutas de caráter competitivo, que enaltecem o valor das vitórias, denegrindo os valores morais da filosofia marcial. Trulson (1983) nos dá um alerta: o problema da propagação de academias de artes marciais ditas modernas. Pois as artes marciais modernas, que na verdade são lutas de caráter competitivo, possuem um potencial de aumentar o comportamento agressivo em adolescentes e, ao mesmo tempo, desenvolver traços negativos da personalidade, principalmente àqueles com certa tendência à delinquência. De acordo com Mesquita (s/d), as lutas ministradas em instituições de ensino deverão atender aos aspectos formativos e educativos prioritariamente. Segundo Feijó (1992), as competições de Jiu-Jitsu, Judô e Karatê diferenciam-se pela falta de agressividade. As características como nobreza, respeito mútuo, obediência às regras e aos mestres, segundo o autor, são sempre demonstradas pelos atletas de lutas marciais. As Artes Marciais são caracterizadas por utilizar da competição interna em seus treinamentos e campeonatos. O desafio está em vencer a “guerra interior” que é travada contra seus próprios desequilíbrios e desarmonias (atitudes de violência). (LIMA, 1999; FEIJÓ, 1992). ADOLESCÊNCIA De acordo com Formiga et all (2008), os jovens apresentam características biopsicossociais, sendo tais características obtém uma tendência à espontaneidade, passando a descarregar, quase que normalmente, seus impulsos agressivos direta ou indiretamente. Sendo assim, os jovens indicam-se vulneráveis e suscetíveis às influencias vindas do meio social. Logo procuram fora da família aspectos que almejam incorporar a sua realidade pessoal com os quais precisam lidar que constitui uma parte do seu “eu”, porém nem sempre esse “eu” encontra-se integrado a personalidade e a sociedade. Esses jovens procuram se auto-afirmar e também a se identificar, podendo assim, compreender a sua rebeldia e revolta por meio das manifestações agressivas, permeando a abstração que ele mesmo faz e desenvolve de si mesmo acerca dos atributos, capacidades, objetos e atividades que tem e deseja alcançar. METODOLOGIA Esta pesquisa é caracterizada como Direta de Campo, onde se faz a busca de dados diretamente da fonte (adolescentes praticantes de artes marciais) possibilitando conhecer a realidade na prática. O método de abordagem utilizado será o método indutivo, pois, através do apontamento de fatos e dados particulares ou singulares podemos chegar a conclusões gerais, constatando teorias e leis universais. (MATTOS, ROSSETTO JÚNIOR & BLECHER, 2008). Para a obtenção de dados para este estudo foi utilizado um Formulário semi-estruturado com 15 questões para os adolescentes que praticam artes marciais. As respostas do Formulário foram catalogadas de acordo com o número de palavras-chaves utilizadas pelos entrevistados e o número de ocorrência dessas palavras-chaves. Assim foi possível atribuir mais objetividade ao estudo, além de atribuir de modo quantitativo conceitos abstratos como violência e agressão. Quando os adolescentes foram perguntados sobre o que é violência de acordo com suas percepções, as respostas foram várias. Observando a Quadro 5.1, encontramos os conceitos dados pelos adolescentes à violência. Apenas um adolescente não soube responder a essa pergunta. QUADRO 5.1 Obtiveram-se também respostas mais elaboradas sobre a violência, como: é o forte subjugando o fraco pela força. é um dos grandes problemas do Brasil. Uma coisa muito ruim, não deveria existir no mundo Quando perguntados sobre a incidência de agressão nas aulas de Educação Física, 14 alunos (93,3%) disseram que já perceberam a ocorrência de agressões físicas ou verbais nas aulas, como mostra a Quadro 5.2. QUADRO 5.2 Todos os adolescentes entrevistados alegaram que as agressões, físicas e verbais, ocorrem nos jogos de futebol (100%) e vôlei (6%). Porém não é apenas dentro do jogo que ocorre as agressões, também ocorrem após o mesmo, principalmente pela equipe que perdeu a partida. A sexta questão do Formulário fala da mudança de comportamento após começar a treinar artes marciais. Dentre os entrevistados, 13 adolescentes (86,6%) disseram que houve mudanças comportamentais e elas estão expressas na Quadro 5.3. QUADRO 5.3 Dentre os adolescentes entrevistados, o que chamou a atenção do pesquisador, na resposta desta questão, fora a fala de um adolescente praticante de Taekwondo, Ele relatou que todos a sua volta, professores da escola, pais, inspetores notaram a mudança repentina em seu comportamento. “(.) passei a ter mais autocontrole, a me concentrar e me comportar melhor dentro e fora da escola. Alguns até achavam que eu estava doente, porque no dia não estava mais ‘encebando’ a aula da professora (.)”. Sobre as atitudes que tomam durante o Jogo ou quando percebem atitudes de agressividade, dois (13,3%) dos adolescentes responderam que de vez em quando participam de tais agressões. Esses dois adolescentes são praticantes de Jiu-jitsu e um deles tem 1 mês de treinamento, enquanto o outro possui 6 meses. Do restante dos entrevistados, segue a Quadro 5.4, onde se encontra as respostas. QUADRO 5.4 Dois alunos disseram que não participam mais do futebol nas aulas de Educação Física, pois ainda se consideram “estourados”, “pavio-curto”, preferindo apenas as atividades físicas e jogos com menos confrontação, como o vôlei. Isso mostra que os mesmos já possuem um conhecimento de si mesmos e de seus próprios limites. Quando abordados sobre se já agrediram algum colega nas aulas de Educação Física depois que entraram na arte marcial que pratica, 4 adolescentes (26,6%) disseram que sim. Deste grupo, um adolescente disse que a atitude tomada por ele foi “sem querer” e depois pediu desculpas; e um outro adolescente disse que agiu por impulso. As atitudes dos outros dois adolescentes foram: um disse que chutou e brigou, e o outro disse que deu uma cotovelada. Ambos também são praticantes de Jiu-jitsu e têm menos de um mês de prática da arte marcial. E quando abordados se já foram agredidos nas aulas de Educação Física depois que entraram para a arte marcial que pratica, 7 adolescentes (46,6%) disseram que não. Um adolescente (6,6%) respondeu sim e que reagiu negativamente. Este disse que fora xingado e revidou o xingamento. Do restante que responderam “sim”, suas atitudes estão na Quadro 5.5: QUADRO 5.5 CONCLUSÃO No que diz respeito aos resultados pôde se ver que o momento em que mais ocorre a manifestação de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física é durante o Jogo, assim como está na Revisão da Literatura deste estudo (LIPPELT, 2004). Durante a composição deste estudo a concepção de agressividade portada pelo autor fora alterada com o passar do tempo através da leitura e análise de artigos, dissertações e teses. Visto que a agressividade é natural do ser humano e o auxilia na vida, a agressividade adicionada a uma intencionalidade é que devemos nos preocupar em nossa sociedade, pois a partir daí não é mais considerada agressividade, e sim violência. (MORAIS, 1995 apud LIMA, 1999). De acordo com os resultados obtidos conclui-se que as artes marciais podem auxiliar na redução de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de Educação Física escolar, principalmente na prática de jogos, onde se observou a grande incidência de tais manifestações. Pois os adolescentes entrevistados se mostraram, em sua maioria, capazes de se autocontrolar e de não agir/reagir agressivamente diante de uma situação de conflito. No entanto se faz necessário a realização de estudos mais complexos e longitudinais sobre a relação entre prática de artes marciais e controle da agressividade, visto seus benefícios na formação de cidadãos. 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Quais são as concepções de artes marciais e de lutas?

Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field – A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional. Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.

A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva. Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam.

Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional. Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen. Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education.

  1. Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge.
  2. From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse ARTIGOS ORIGINAIS Artes Marciais e Lutas: uma análise da produção de saberes no campo discursivo da Educação Física brasileira 1 1,

  1. O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).
  2. Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field Artes Marciales y Luchas: un análisis de la producción de conocimiento en el campo discursivo de la Educación Física brasileño Ms.

Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves I ; Dra. Méri Rosane Santos da Silva II I Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: química da vida e saúde, Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] II Instituto de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] Endereço para correspondência RESUMO A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional.

  • Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.
  • A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva.

Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam. Palavras chave: Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico.

  1. ABSTRACT Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education.
  2. Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge.
  3. From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Keywords: Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse.

RESUMEN La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional. Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen. Palabras clave: Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia. CONSTRUINDO O OBJETO DE PESQUISA Os diferentes significados atribuídos às Artes Marciais e às Lutas têm possibilitado sua circulação e apropriação por várias esferas da sociedade.

Atualmente, podemos considerá-las atividade de lazer, exercício que visa o aumento da aptidão física, defesa pessoal, prática esportiva, além de serem constantemente associadas a um estilo de vida e orientadas por determinados valores culturais. Essas práticas, 2 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

  1. Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam.
  2. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem.
  3. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

como objeto de significação, ganham cada vez mais espaço em academias de ginástica, clubes esportivos, escolas, entre outros ambientes, tornando-se suscetíveis a um “complexo e indeterminado processo de transformação” (SILVA, 2003, p.20), o que possibilita a elas que se manifestem imbricadas em diferentes contextos sociais.

No que diz respeito ao conhecimento produzido sobre elas no universo acadêmico, especificamente através da Educação Física, a situação não é diferente. São elas entendidas tanto como uma atividade milenar, atrelada a determinadas orientações filosóficas e religiosas, quanto uma atividade física e esportiva, apropriada por práticas escolares e não-escolares.

Na tentativa de delimitar os significados dessas práticas corporais, estudos como o de Correia e Franchini (2010) indicam a possibilidade de nomeá-las de três maneiras diferentes: 3 3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.

Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores. (1) Artes Marciais, (2) Luta e (3) Modalidades Esportivas de Combate. No mesmo sentido, Gomes et al,

(2010) também sugerem definições que, por sua vez, delimitam as Artes Marciais ou Lutas a uma concepção esportiva. Assim, elas aparecem assumindo múltiplos significados. No que concerne à atribuição e produção de sentidos, é possível afirmar que este tema aparece de forma variada de acordo com as bases epistemológicas que se propõem discuti-lo.

  1. Logo, encontramos maneiras diferentes de nomear uma mesma prática, bem como práticas diferentes reconhecidas pelo mesmo nome.
  2. Com isso, falar sobre elas nos afasta de definições acabadas.
  3. Artes Marciais e Lutas, por exemplo, são termos muitas vezes utilizados sem que se suspeite ou problematize o que, de fato, nomeiam.

Diante disso, proponho neste artigo indicar um modo de pensar sobre essas práticas que escape das formas pelas quais estão sendo predominantemente pensadas e produzidas pelos discursos reiterados por textos acadêmicos nacionais atualmente. Em outras palavras, lanço um olhar de suspeita ao assunto a fim de problematizar a multiplicidade de sentidos atribuídos.

Para isso, inspirando-me em Foucault (2008, p.158), realizo um primeiro movimento que implica o esforço de um “tríplice deslocamento” em relação ao objeto de análise. Três cuidados que aqui assumo, como: (1) descentrar-me das tentativas de definições prontas acerca do tema; (2) deslocar-me de bases epistemológicas que fixam essa discussão, sob determinados aspectos, e (3) recusar-me a adotar o conhecimento produzido sobre essa temática de forma naturalizada, como algo instituído e aceito, acima de qualquer suspeita.

Com isso, a questão norteadora deste artigo toma forma e o que se torna interessante aqui é perceber de que maneira esse tema é entendido, de modo a se constituir em um objeto de saber (FOUCAULT, 2010). Objeto que a Educação Física dedica-se a relacionar, classificar e nomear, tecendo uma rede de conhecimentos sobre ele à luz de um discurso científico.

Ou melhor, como estas práticas aparecem no universo acadêmico e científico a partir do que se fala sobre elas? Como o movimento de produção do conhecimento constitui um saber pertinente aos domínios da Educação Física? Indo mais adiante, diria que se deslocar dos pensamentos instituídos sobre as Artes Marciais e as Lutas indica outro movimento que me leva a reconhecer na linguagem, 4 4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira. a possibilidade de entendê-las como produtos de conceitos, juízos e verdades fabricados tanto por seus adeptos ou acadêmicos quanto por aqueles que não foram interpelados por elas.

Através da linguagem, enquanto “objeto de nosso saber e matéria-prima de nossas ações” (LAROSSA, 2001, p.70), nos expressamos, nos comunicamos, damos sentido às coisas. É dessa forma que atribuímos e assumimos significados que nos permitem um entendimento plural das Artes Marciais e das Lutas. Nessa perspectiva, tomando a linguagem não apenas como um conjunto de signos, palavras ou frases, mas assumindo-a em sua função enunciativa (FOUCAULT, 2010), foram analisados 26 artigos que discutem o tema a partir de diferentes perspectivas de pensamentos que constituem a Educação Física brasileira.

O material empírico é proveniente de cinco periódicos nacionais que tratam de temas pertinentes a uma abordagem ligada às Ciências Humanas como: Motrivivência, Motriz, Movimento, Pensar a Prática e Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). A seleção dos artigos foi realizada a partir da temática abordada.

Assim, a busca se deu a partir dos títulos e resumos de todas as edições dos periódicos delimitados, a fim de encontrar textos que se dedicaram a discutir as Artes Marciais e as Lutas como tema central. Tendo em vista as possibilidades de discussões, dedico-me a problematizar as concepções produzidas pelo universo científico acerca dessas práticas, restringindo-me àquelas reconhecidas por seus vínculos culturais com o extremo oriente.5 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.

Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise. Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.

  • Para isso, opero com a noção de análise discursiva, assumindo como movimento de pesquisa a descrição de dispersões enunciativas na busca de diversas possibilidades de se ativar um tema e produzir diferentes maneiras de se pensar sobre ele (FOUCAULT, 2010).
  • Assim, a análise realizada exigiu um trato do corpus empírico como um conjunto de elementos enunciativos.

Os textos selecionados são peças, formações discursivas que constituem e acionam um discurso acerca das Artes Marciais e das Lutas, e sua relação com a Educação Física brasileira. São enunciados 6 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

que ativam manifestações de um saber, produzindo determinadas maneiras de pensar e conceituar assuntos pertinentes à determinada área de conhecimento (VEIGA-NETO, 2007). ARTES MARCIAIS OU LUTAS? TECENDO UM CAMPO DE BATALHA A partir dos artigos delimitados para a análise, foi possível ensaiar alguns pensamentos sobre as práticas discursivas 7 7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

  • Que sustentam e significam as Artes Marciais ou Lutas como objeto de pesquisa.
  • Nas publicações, elas aparecem tanto como assunto central de discussão quanto como cenário para abordar outros assuntos, dentre os quais gênero, educação física escolar, atividade física e treinamento desportivo.
  • No que diz respeito às discussões estabelecidas nos textos, os argumentos sustentados por seus autores indicam a existência de um campo de disputa tensionado entre dois conjuntos de formações discursivas, que constituem a noção de Artes Marciais distinguindo-a da concepção de Lutas.

Isto é, um campo discursivo, “um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois, por uma posição enunciativa em uma dada região” (MAINGUENEAU, 1997, p.116). Com base nos 26 artigos analisados, são marcantes as tentativas de definir uma classificação que dê conta de fixar determinado modo de nomear e dar sentido a essas práticas corporais.

Alguns as assumem enquanto Artes Marciais, outros tratam como Lutas, sem mencionar outras formas esporádicas de classificá-las como Modalidades Esportivas de Combate ou, até mesmo, Jogos de Lutas. Mas que diferença isso implica? Do ponto de vista acadêmico parece que a utilização de diferentes termos para falar de atividades tão parecidas está associada à ênfase que se deseja dar à perspectiva pela qual elas são discutidas.

Assim, analisá-las por um viés pedagógico, por exemplo, implicaria classificá-las e nomeá-las diferentemente de quando são abordadas em uma perspectiva esportiva de alto-rendimento. Contudo, é importante destacar que esta disputa nem sempre se configurou dessa forma, movimentando diferentes concepções nos domínios da Educação Física.

Podemos dizer que essas práticas passam a constituir um saber pertinente ao universo acadêmico, principalmente, a partir do momento que são entendidas como práticas esportivas, caracterizadas por passarem por um possível processo de esportivização, que converte ou transforma essas práticas em esporte, 8 8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

através da apropriação dos códigos que orientam esse fenômeno (GONZÁLEZ, 2005). Especificamente, é através do estabelecimento da proposta de regulamentação da profissão de Educação Física 9 9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

  • Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais.
  • Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.

que essas práticas passam a compor um campo de disputa por sua legitimidade. Como tema de pesquisa, elas começam a constituir um assunto passível de ser conhecido, relacionado e nomeado de formas e em lugares determinados. As diversas maneiras de entendê-las e executá-las passam a constituir um conhecimento pertinente a diferentes perspectivas de ciência acionadas pelo funcionamento da Educação Física.

Através da análise, a operação de descrever a forma como essas práticas são tratadas, no que concerne ao conhecimento que é produzido sobre elas, implicou na diferenciação entre o que se apropria por Artes Marciais e o que é considerado Lutas. Termos que, aparentemente, significam a mesma prática exercem tensionamentos contrários nesse campo de batalha.

A maneira pela qual são tratadas indica a formação de dois espaços discursivos. Dois pontos concorrentes: o das Artes Marciais e o das Lutas. Para Maingueneau (1997, p.117), o espaço discursivo “delimita um subconjunto do campo discursivo, ligando pelo menos duas formações discursivas que, supõe-se, mantêm relações privilegiadas, cruciais para a compreensão dos discursos considerados”.

  • De acordo com o autor, a determinação desses subconjuntos se dá pela impossibilidade de apreender um campo discursivo em sua totalidade.
  • No caso das Artes Marciais e das Lutas, os subconjuntos se caracterizam por concepções opostas aplicados a uma mesma prática, e/ou semelhantes, mas que mesmo em disputa, são produtivas para constituição do tema.

A partir dos textos analisados, nomear certas práticas por Artes Marciais enfatiza determinada noção geográfica, moral e cultural do que entendemos por Oriente. Uma ideia que se aproxima do que Foucault (2009, p.17) reconhece por origem e se caracteriza pela busca de uma “essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade cuidadosamente recolhida em si mesma, sua forma imóvel e anterior a tudo o que é externo, acidental, sucessivo”.

  • Os enunciados que constituem essa concepção podem ser aproximados de uma noção orientalista, como considera Edward Said (2007).10 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.
  • Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo.

Assim, os artigos interpelados por essa noção, apontam para a valorização do “Oriental” como sinônimo do que é exótico, misterioso, profundo e seminal. De acordo com Said (2007, p.274) “a palavra Oriente possui uma grande ressonância cultural no Ocidente”.

E é exatamente neste ” Oriente ” cultural que o conjunto de formações discursivas ativa a noção de Artes Marciais, reforçando a ideia de que são práticas vinculadas a determinados valores morais que produzem uma conduta específica, um estilo de vida que “envolve o sujeito em outras dimensões de sua existência dentro e fora da área de luta” (RODRIGUES, 2009, p.649).

Assim, elas se caracterizam por valorizar determinadas verdades, esforçando-se para recolher nelas mesmas uma origem exata, anterior a tudo que é externo. Dentro dessa concepção, podemos recortar alguns exemplos que nos ajudam a entender como se constitui o que podemos reconhecer por Artes Marciais.

Rios (2005), na tentativa de resgatar e sistematizar a história do taekwondo, considera que essa modalidade, ao passar por um processo de esportivização iniciado em 1960, perdeu alguns elementos que a caracterizava como Arte Marcial, salientando que o: praticante de arte marcial desenvolvia técnicas que, se numa situação real de luta precisasse usá-las, derrubaria o oponente em poucos segundos.

Para a apropriação dessas técnicas era necessário longo tempo, tempo que não era mais disponível, já que o novo estilo reservava este para o treinamento de técnicas permitidas nas competições (RIOS, 2005, p.50). É possível perceber que o olhar lançado pelo autor é orientado por um aspecto saudosista, tendendo a desqualificar outros entendimentos possíveis atribuídos a ela.

Não distante disso, Yonezawa (2010, p.248) tece um elogio “filosófico e ético à prática do combate em relação à noção de luta”, ao considerar que elas atravessaram diversas mutações até adquirirem seu formato atual e culminarem em uma “transformação das Artes Marciais no que hoje se chama de técnicas de luta”.

O autor utiliza a expressão “máquina de guerra”, com base na filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, para se referir à cultura filosófica e espiritualista das Artes Marciais, enquanto máquina produtora de determinados sentidos, atrelados a um modo de pensar que está além da sua redução em sistemas de luta, tendo como meta apenas o confronto bélico: Assim, trazemos aqui a noção de combate como distinguível ética, política e filosoficamente desta prática estetizada da luta.

  • Como forma também de combate, esboçamos aqui um conceito de combate que possa trazer nova potência às Artes Marciais, talvez, de modo a avivar um pouco de sua força enquanto máquina de guerra (YONEZAWA, 2010, p.35).
  • No mesmo sentido, outros artigos referentes a diversas modalidades como o karatê-Do (LAGE ; GONÇALVES JUNIOR, 2007), o kendo (RODRIGUES, 2009) e o judô (DRIGO, 2009) também são assim caracterizados.

Sem ferir as singularidades do modo com que cada texto evoca o tema, percebe-se que há uma noção de preservação que os atravessa. Transmitem a ideia da existência de uma essência (boa) que deveria ser preservada e que se perdeu com a transformação ou associação dessas práticas corporais a outros sentidos até então distintos, como é o caso do esporte.

Considerando alguns trechos dos textos analisados, sem julgar suas consistências teóricas, é possível dizer que esses artigos potencializam a ideia de que essas práticas não podem ser desassociadas dos aspectos que as caracterizam como Artes Marciais. No entanto, essa não é a única forma de significá-las.

No outro extremo deste tensionamento, está um espaço discursivo que podemos reconhecer por Lutas, constituído por rupturas com a noção estritamente orientalista, ele permite um entendimento mais amplo dessas práticas. Através dele, elas aparecem não só reconhecidas por seus vínculos culturais com o oriente, mas, também, inseridas em outros contextos sociais.

É assim que 20 dos 26 textos analisados as tratam, descentrando a noção essencialista das Artes Marciais a fim de discuti-las como modalidades esportivas, atividade física ou conteúdo da educação formal. Se num extremo há uma preservação de uma prática original, no outro, está uma concepção que as possibilita serem interpeladas por outros discursos como o da ciência, da saúde, do lazer e do universo esportivo.

Nesse sentido, essas práticas passam a assumir outras configurações que ainda mantêm uma relação mimética com as tradições orientais (ELIAS; DUNNING, 1992), 11 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

mas que as permitem serem entendidas e discutidas fora do orientalismo. Essa perspectiva sugere a aceitação de outras formas de concebê-las, praticá-las e inventá-las, sem a preocupação de preservar suas essências. As rupturas que constituem essas práticas corporais em sua diversidade de significações são aceitas e muitas vezes desejadas.

Referir-se a essas práticas sob essa ótica implica reconhecer nelas, principalmente, um formato esportivo. Hoje, por exemplo, conseguimos diferenciá-las – Judô, Karatê, Taekwondo, entre outras – a partir da visibilidade esportiva que assumem. Esporte este que não restringe a prática ao formato institucionalizado, mas que a possibilita ser apropriada de diversas maneiras e em lugares diferentes.

  1. Na diferenciação estabelecida por essas duas noções, é notável que os artigos que constituem o discurso das Lutas não se restringem a considerar essas práticas corporais apenas por um viés cultural.
  2. Em muitos casos, ao utilizar essa expressão, deixa-se de enfatizar o caráter disciplinador, ritualístico e tradicional da cultura Oriental, para associá-la a aspectos pedagógicos, esportivos e relacionados à qualidade de vida.

É a partir desse entendimento que muitos autores assumem discuti-las sob aspectos variados como: educacional; 12 12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al., 2010;) tema pertinente a ser discutido por currículos (TRUSZ; NUNES, 2007) e pesquisas acadêmicas 13 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

  • CORREIA; FRANCHINI, 2010); gênero (FERRETTI; KNIJNIK, 2007); e rendimento esportivo (SILVA; CARVALHO, 2002; CÉSAR et al, 2002).
  • Ainda nesta perspectiva, dentro da concepção das Lutas, também é possível identificar alguns artigos que desenvolvem argumentos radicalmente contra as concepções essencialistas.

Fett e Fett (2009) contestam os dogmatismos que permeiam a formação do professor e dos lutadores. Os autores reconhecem que essas práticas assumiram um formato esportivo que exige conhecimentos científicos, que estão além das limitações impostas pelas tradições das Artes Marciais.

Outros autores corroboram a mesma noção quando reivindicam que a falta de literatura específica e a visão retrógrada de que Judô se treina apenas no dojo acabou por deixar técnicos e atletas sem referencial teórico e prático de métodos mais específicos e sua forma de aplicação (MORAES, apud AZEVEDO et al,, 2004, p.74).

Como é possível observar, essas pesquisas assumem as práticas corporais de Karatê e de Judô como modalidades esportivas institucionalizadas. E, diferentemente dos artigos anteriores, os aspectos culturais atrelados a essas Lutas são colocados em suspeita quanto à funcionalidade, quando objetiva seu desenvolvimento técnico.

Diante disso, é interessante ressaltar que, por mais que alguns artigos não se preocupem em distinguir o uso dos termos Arte Marcial e Lutas, o “tom” no qual esses termos são utilizados implica em diferenciá-los. Na tentativa de estabelecer possíveis definições entre o que seria uma ou outra, o conhecimento que é produzido acerca do assunto constitui um campo de disputa quanto à significação dessas práticas.

O sentido que orienta os argumentos encontrados é sempre perpassado por essas duas concepções (de Arte Marcial ou de Lutas) que configuram um campo de batalha discursivo. Porém, isso não significa, a partir da análise, enquadrar cada texto em um dos extremos dessa disputa, mas sim perceber que são eles, através de seus argumentos, que produzem e condicionam este campo que gera saberes e produz “vontade de verdade” (FOUCAULT, 2009, p.16), que constituem tanto os sujeitos pertencentes a elas quanto aqueles que não são interpelados por tais práticas.

  • ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Encerro este artigo – comparando-o ao ato de ensaiar – sem pretensão de esgotar o assunto.
  • Como diria Larrosa (2003, p.13) sobre o ensaio: “o ensaísta inicia no meio e termina no meio”.
  • Ensaiar não no sentido de treinar para algo, mas de exercitar os movimentos de pensamentos que me são possibilitados a partir das condições do cenário que envolve a temática abordada.

Sem apresentar grandes conclusões, o que tentei aqui foi desestabilizar a discussão acerca dessas práticas corporais que aos poucos constituem um campo de saber pertinente à Educação Física. Perceber as Artes Marciais e as Lutas enquanto dois espaços discursivos, produtivos e em disputa está longe de querer fixar verdades sobre elas, mas sim dar visibilidade para a emergência de outras práticas de significações que as constituem em diferentes espaços sociais, como é o caso do próprio espaço acadêmico.

  1. Dentre as duas formações discursivas tensionadoras, podemos destacar o primeiro subconjunto por valorizar seus aspectos preservacionistas, que caracterizam uma noção orientalista e possibilitam reconhecer determinadas práticas por Artes Marciais.
  2. Já o segundo subconjunto, está atrelado a outros significados que nos permitem reconhecê-las como Lutas e associá-las a práticas de lazer, educacionais, atividades físicas e esportivas.

Ao reconhecer a dimensão que a discussão sobre este tema assume nos textos acadêmicos, é possível suspeitar que a diversidade de significações não se restrinja à disputa de legitimidade entre as concepções apresentadas. Além de dar visibilidade às Artes Marciais e às Lutas, os artigos apresentam outras formas de olhá-las e as constituem enquanto um saber passível de ser apropriado por diferentes perspectivas do universo científico.

Dessa forma, considerar as Artes Marciais e as Lutas como formações discursivas em concorrência indica a ativação de um campo de batalha discursivo no qual essas práticas corporais são constituídas. Através do conhecimento produzido sobre elas, essas práticas se constituem enquanto objeto de saber de modo que possam ser medidas, avaliadas, equiparadas de diferentes maneiras e aos poucos produzem verdades que se consolidam e orientam não só o que se pode falar e de onde se falar, como também os modos de agir e de pensar sobre o assunto.

Diante disso, esse artigo não trata de estabelecer classificações nem tentar determinar qual a maneira mais correta de tratar este tema. O objetivo central foi o de lançar um olhar e analisar a produção de conhecimento que atravessa a temática das Artes Marciais e das Lutas, decalcando-a em uma rede de significados, sem desconsiderar suas disputas e tensões, mas, atentando para os efeitos que elas produzem na constituição dessas práticas corporais na contemporaneidade.

  1. Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 Recebido em: 30 maio 2011 Aprovado em: 18 abr.2012 1,
  2. O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).
  3. 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas. Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.

4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira. 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados. 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais. Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais.

Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade. 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo. 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al,, 2010;) 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

APÊNDICE

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Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 1, O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

  1. Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam.
  2. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem.
  3. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.

Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira.5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Publicação nesta coleção 24 Jan 2014 Data do Fascículo Set 2013

Recebido 30 Maio 2011 Aceito 18 Abr 2012

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Por que as artes marciais são tão importantes?

POLÊM!CA Revista Eletrônica A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DAS ARTES MARCIAIS NA REDUÇÃO DA AGRESSIVIDADE EM ADOLESCENTES, NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA RENAN LEMOS PACHECO é Graduado em Educação Física (Licenciatura) pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH (PPGEnfBio/Unirio) desde Março/2012. Resumo: Diante de um dos maiores problemas em nossa sociedade, a violência, e suas implicações dentro da escola, este estudo teve por objetivo encontrar a relação entre prática de artes marciais e redução da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de educação física escolar. Fora investigado, através de revisão da literatura existente na área, a utilização das artes marciais para a formação benéfica do caráter e da personalidade de adolescentes. Participaram deste estudo 15 adolescentes praticantes de artes marciais. Os dados foram obtidos através de um formulário semi-estruturado, com perguntas “abertas” e “fechadas”, em que poderiam fazer comentários e exemplos sobre os temas tratados. Através da análise dos resultados obtidos, pode-se verificar que é na situação do jogo em que ocorre maior incidência de manifestação de comportamento agressivo nas aulas de educação física. E a prática de artes marciais pode auxiliar na redução na ação/reação agressiva por parte dos adolescentes durante as aulas. Contribuindo, assim, para o autocontrole dos alunos e para sua formação como cidadão. Palavras chave: Agressividade, Artes Marciais, Educação Física Escolar, Adolescentes. EL PODER DE LA PRACTICA DE LAS ARTES MARCIALES EM LA REDUCIÓN DE LA AGRESSIVIDADE EM LOS JOVENES EN LAS CLASES DE EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR Resúmen: Delante de un de los mayores problemas em nuestra sociedad, a violéncia, y sus provocaciones en la escuela, há hecho de este estúdio un objetivo para encontrar la relación en la práctica de las artes marciales y la reducción de la manifestación de comportamiento agresivo en jovenes en las clases de Educación Física Escolar. Fuera indagado a travéz de la revisión de la literatura existente en el campo, la utilización de las artes marcialespara para la formación favorable de carácter y de la personalidad de los jovenes. Tuvieron participación en este aprendizaje, quinze jovenes que practican las artes marciales. Las informaciones llegaron por planilhas organizadas com las perguntas “abiertas” y “cerradas”, donde podrián hacer anotaciones y darejemplos de los assuntos cuidados. Podremos mirar la situación del juego, em que hay la mayor zuantidad de la manifestación del comportamiento agresivo em las clases de Educación Física. Y la práctica de las Artes Marciales pueden auxiliar en la redución de la acción/reación agresiva por los jovenes, haciendo la contribuición para el autocontrol de los alumnos y para la formación de cidadones Palabras Principales : Agressividad, Artes Marciales, Educación Física Escolar, Jovenes INTRODUÇÃO A violência e a agressividade são um dos temas mais vistos na mídia nos dias de hoje. Sempre se podem ver tais atitudes em estádios de futebol, em bares, em festas e no ambiente familiar. E o que se torna ainda mais comum é a prática dessas atitudes no ambiente escolar. Isso pode ser explicado como um reflexo da sociedade que cerca a escola e seus alunos, tornando esse problema mais amplo do que se imagina. As crianças de certa forma, acabam sendo influenciadas, sejam pela mídia, pelos amigos ou parentes a fazer o mesmo. Cria-se uma imagem positiva sobre essas práticas, sendo interpretadas como “maneiras” e “legais”. E aqueles que não fazem o mesmo, são tachados de bobos e covardes. Todas as escolas apresentam casos de agressividade entre os alunos. Não importa se são colégios públicos ou colégios particulares, a violência juvenil está sempre presente, seja por atos de danos ao patrimônio, ou por xingamentos aos docentes, entre outros. Em contra partida a essa realidade, estão as doutrinas e filosofias das artes marciais que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, pregam a não-violência e o auto-controle. A prática das artes marciais é vista como uma oportunidade que o individuo tem de agredir seu próximo. Isso pode ser atribuído à influência da mídia sobre as pessoas, divulgando filmes e desenhos animados que trazem essa mensagem errônea. Porém, ao adentrar em uma modalidade de arte marcial, o aluno praticante pode conhecer um mundo completamente diferente, com normas rígidas de conduta e disciplina, que auxiliam na formação moral do individuo. Assim como proposto nos PCN’s – Educação Física (BRASIL, 1998), a prática de lutas é caracterizada por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. A agressividade na escola Como definição inicial ao termo agressividade, consideramos agressividade uma forma de conduta com o objetivo de ferir alguém física e psicologicamente (DE SOUZA, s/d). Também Laplanche (1981, apud ANDERLE, VALSECHI e VEIT, 2007), define agressividade como uma tendência ou conjunto delas, onde se atualizam em condutas reais ou fantasiosas, direcionadas com a finalidade de danificar a outra pessoa, a humilhá-la e etc. A agressividade já pode ser considerada como um problema de saúde pública, de acordo com Lopes Neto (2005). Como nos mostra o Mapa de Violência 2010 (NOVA ESCOLA, 2010), entre 1997 e 2007, o número de homicídios envolvendo jovens entre 14 e 16 anos subiu cerca de 30%. De acordo com Monroe (NOVA ESCOLA, 2010), uma das causas da agressividade em adolescentes está nas mudanças fisiológicas decorridas da passagem da infância para adolescência. Essa passagem faz com que a serotonina (neurotransmissor responsável pelo bem-estar) seja reduzida pela metade, causando irritabilidade e dificuldades dos adolescentes em se sentir satisfeitos – marcas dessa fase. Entre outras causas da manifestação de comportamento agressivo em adolescentes estão as características culturais de nossa sociedade e seus problemas; o crescimento desordenado das cidades; a desestruturação da família; a mídia; os professores autoritários; a prática de desportos de rendimento, a competição exacerbada, a prática de jogos passando, também, pelas dificuldades que a criança tem de se adaptar a determinado contexto social. (ANDERLE, VALSECHI & VEIT, 2007; FEIJÓ, 1992; LISBOA, s/d; LIPPELT, 2004; NOVA ESCOLA, 2010; SCHREIBER, SCOPEL & ANDRADE, 2005). Porém a agressividade em doses moderadas faz parte do ser humano, estando presente em nossa vida e impulsionando-nos para o domínio do conhecimento sobre o mundo e para crescimento pessoal. A agressividade possui certos benefícios, sendo essencial para nossa sobrevivência, desenvolvimento, adaptação e defesa. (DE SOUZA, s/d; LUCON & SCHWARTZ, 2003). De acordo com Lima (1999), existe uma diferenciação entre agressividade e violência. A autora ressalta que a agressividade significa certa determinação direcionada a realizar uma tarefa, sendo assim, com o sentido diferente de sermos violentos para realizar a mesma tarefa. Ao citar Morais (1995), Lima (1999) esclarece que a agressividade está ligada ao instinto de sobrevivência que leva o animal à busca de alimento, água e segurança. Esse instinto é biológico sendo propriamente de animais – animais irracionais. No entanto a violência está relacionada a uma intencionalidade, exigindo assim a inteligência. Sendo assim, os animais irracionais jamais serão violentos, porém ferozes. Artes marciais e agressividade Para compreendermos as Artes Marciais em sua totalidade, devemos remontar ao seu significado etimológico. O termo marcial vem do latim martiale (natural de Marte, o deus da Guerra para os romanos) e significa entre outras definições, “próprio da guerra” ou “relativo a guerreiros”. Enquanto arte é a habilidade do homem, natural ou adquirida, de pôr em prática uma idéia. O binômio de arte marcial deve, então, ser entendido como a capacidade de se praticar e dominar os ensinamentos guerreiros com fins próprios para a obtenção de determinados resultados. Atualmente, o termo arte marcial é sinônimo de luta, defesa pessoal e até agressão, porém, no início dos tempos para as artes marciais, não era bem assim que se definia essa prática. As artes marciais eram utilizadas pelos monges, primeiramente, para manter o corpo saudável e a mente sã. A sua utilização para a defesa pessoal era somente usada quando não se tinha outra opção. Hoje não é isso que se vê, pelo menos na mídia que mostra jovens lutadores praticando atos de violência, sendo que estes deveriam ser exemplos de boa conduta. A autoridade do professor e a arte marcial propriamente dita não são relacionadas à manifestação de comportamento agressivo em seus praticantes. A agressividade estaria relacionada à importância que os professores de lutas dão a competição exacerbada (TRULSON, 1983 apud AMADERA, 2009). Este fato comprova o posicionamento de Feijó (1992) com relação à competição e as artes marciais, pois de acordo como autor as regras oficiais das artes marciais demonstram uma filosofia de cooperação, em vez de competição. Os autores Trulson (1983, apud AMADERA, 2009) e Mesquita (s/d) fazem uma crítica negativa aos clubes e academias onde se treinam artes marciais. As artes marciais nestes espaços, na verdade, são lutas de caráter competitivo, que enaltecem o valor das vitórias, denegrindo os valores morais da filosofia marcial. Trulson (1983) nos dá um alerta: o problema da propagação de academias de artes marciais ditas modernas. Pois as artes marciais modernas, que na verdade são lutas de caráter competitivo, possuem um potencial de aumentar o comportamento agressivo em adolescentes e, ao mesmo tempo, desenvolver traços negativos da personalidade, principalmente àqueles com certa tendência à delinquência. De acordo com Mesquita (s/d), as lutas ministradas em instituições de ensino deverão atender aos aspectos formativos e educativos prioritariamente. Segundo Feijó (1992), as competições de Jiu-Jitsu, Judô e Karatê diferenciam-se pela falta de agressividade. As características como nobreza, respeito mútuo, obediência às regras e aos mestres, segundo o autor, são sempre demonstradas pelos atletas de lutas marciais. As Artes Marciais são caracterizadas por utilizar da competição interna em seus treinamentos e campeonatos. O desafio está em vencer a “guerra interior” que é travada contra seus próprios desequilíbrios e desarmonias (atitudes de violência). (LIMA, 1999; FEIJÓ, 1992). ADOLESCÊNCIA De acordo com Formiga et all (2008), os jovens apresentam características biopsicossociais, sendo tais características obtém uma tendência à espontaneidade, passando a descarregar, quase que normalmente, seus impulsos agressivos direta ou indiretamente. Sendo assim, os jovens indicam-se vulneráveis e suscetíveis às influencias vindas do meio social. Logo procuram fora da família aspectos que almejam incorporar a sua realidade pessoal com os quais precisam lidar que constitui uma parte do seu “eu”, porém nem sempre esse “eu” encontra-se integrado a personalidade e a sociedade. Esses jovens procuram se auto-afirmar e também a se identificar, podendo assim, compreender a sua rebeldia e revolta por meio das manifestações agressivas, permeando a abstração que ele mesmo faz e desenvolve de si mesmo acerca dos atributos, capacidades, objetos e atividades que tem e deseja alcançar. METODOLOGIA Esta pesquisa é caracterizada como Direta de Campo, onde se faz a busca de dados diretamente da fonte (adolescentes praticantes de artes marciais) possibilitando conhecer a realidade na prática. O método de abordagem utilizado será o método indutivo, pois, através do apontamento de fatos e dados particulares ou singulares podemos chegar a conclusões gerais, constatando teorias e leis universais. (MATTOS, ROSSETTO JÚNIOR & BLECHER, 2008). Para a obtenção de dados para este estudo foi utilizado um Formulário semi-estruturado com 15 questões para os adolescentes que praticam artes marciais. As respostas do Formulário foram catalogadas de acordo com o número de palavras-chaves utilizadas pelos entrevistados e o número de ocorrência dessas palavras-chaves. Assim foi possível atribuir mais objetividade ao estudo, além de atribuir de modo quantitativo conceitos abstratos como violência e agressão. Quando os adolescentes foram perguntados sobre o que é violência de acordo com suas percepções, as respostas foram várias. Observando a Quadro 5.1, encontramos os conceitos dados pelos adolescentes à violência. Apenas um adolescente não soube responder a essa pergunta. QUADRO 5.1 Obtiveram-se também respostas mais elaboradas sobre a violência, como: é o forte subjugando o fraco pela força. é um dos grandes problemas do Brasil. Uma coisa muito ruim, não deveria existir no mundo Quando perguntados sobre a incidência de agressão nas aulas de Educação Física, 14 alunos (93,3%) disseram que já perceberam a ocorrência de agressões físicas ou verbais nas aulas, como mostra a Quadro 5.2. QUADRO 5.2 Todos os adolescentes entrevistados alegaram que as agressões, físicas e verbais, ocorrem nos jogos de futebol (100%) e vôlei (6%). Porém não é apenas dentro do jogo que ocorre as agressões, também ocorrem após o mesmo, principalmente pela equipe que perdeu a partida. A sexta questão do Formulário fala da mudança de comportamento após começar a treinar artes marciais. Dentre os entrevistados, 13 adolescentes (86,6%) disseram que houve mudanças comportamentais e elas estão expressas na Quadro 5.3. QUADRO 5.3 Dentre os adolescentes entrevistados, o que chamou a atenção do pesquisador, na resposta desta questão, fora a fala de um adolescente praticante de Taekwondo, Ele relatou que todos a sua volta, professores da escola, pais, inspetores notaram a mudança repentina em seu comportamento. “(.) passei a ter mais autocontrole, a me concentrar e me comportar melhor dentro e fora da escola. Alguns até achavam que eu estava doente, porque no dia não estava mais ‘encebando’ a aula da professora (.)”. Sobre as atitudes que tomam durante o Jogo ou quando percebem atitudes de agressividade, dois (13,3%) dos adolescentes responderam que de vez em quando participam de tais agressões. Esses dois adolescentes são praticantes de Jiu-jitsu e um deles tem 1 mês de treinamento, enquanto o outro possui 6 meses. Do restante dos entrevistados, segue a Quadro 5.4, onde se encontra as respostas. QUADRO 5.4 Dois alunos disseram que não participam mais do futebol nas aulas de Educação Física, pois ainda se consideram “estourados”, “pavio-curto”, preferindo apenas as atividades físicas e jogos com menos confrontação, como o vôlei. Isso mostra que os mesmos já possuem um conhecimento de si mesmos e de seus próprios limites. Quando abordados sobre se já agrediram algum colega nas aulas de Educação Física depois que entraram na arte marcial que pratica, 4 adolescentes (26,6%) disseram que sim. Deste grupo, um adolescente disse que a atitude tomada por ele foi “sem querer” e depois pediu desculpas; e um outro adolescente disse que agiu por impulso. As atitudes dos outros dois adolescentes foram: um disse que chutou e brigou, e o outro disse que deu uma cotovelada. Ambos também são praticantes de Jiu-jitsu e têm menos de um mês de prática da arte marcial. E quando abordados se já foram agredidos nas aulas de Educação Física depois que entraram para a arte marcial que pratica, 7 adolescentes (46,6%) disseram que não. Um adolescente (6,6%) respondeu sim e que reagiu negativamente. Este disse que fora xingado e revidou o xingamento. Do restante que responderam “sim”, suas atitudes estão na Quadro 5.5: QUADRO 5.5 CONCLUSÃO No que diz respeito aos resultados pôde se ver que o momento em que mais ocorre a manifestação de comportamentos agressivos nas aulas de Educação Física é durante o Jogo, assim como está na Revisão da Literatura deste estudo (LIPPELT, 2004). Durante a composição deste estudo a concepção de agressividade portada pelo autor fora alterada com o passar do tempo através da leitura e análise de artigos, dissertações e teses. Visto que a agressividade é natural do ser humano e o auxilia na vida, a agressividade adicionada a uma intencionalidade é que devemos nos preocupar em nossa sociedade, pois a partir daí não é mais considerada agressividade, e sim violência. (MORAIS, 1995 apud LIMA, 1999). De acordo com os resultados obtidos conclui-se que as artes marciais podem auxiliar na redução de comportamento agressivo em adolescentes nas aulas de Educação Física escolar, principalmente na prática de jogos, onde se observou a grande incidência de tais manifestações. Pois os adolescentes entrevistados se mostraram, em sua maioria, capazes de se autocontrolar e de não agir/reagir agressivamente diante de uma situação de conflito. No entanto se faz necessário a realização de estudos mais complexos e longitudinais sobre a relação entre prática de artes marciais e controle da agressividade, visto seus benefícios na formação de cidadãos. 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Quais são os subconjuntos das artes marciais e das lutas?

Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field – A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional. Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.

A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva. Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam.

Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional. Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen. Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education.

  1. Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge.
  2. From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse ARTIGOS ORIGINAIS Artes Marciais e Lutas: uma análise da produção de saberes no campo discursivo da Educação Física brasileira 1 1,

O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado). Fights and Martial Arts: an analysis of the production of knowledge in brazilian Physical Education discursive field Artes Marciales y Luchas: un análisis de la producción de conocimiento en el campo discursivo de la Educación Física brasileño Ms.

Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves I ; Dra. Méri Rosane Santos da Silva II I Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: química da vida e saúde, Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] II Instituto de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil) E-mail: [email protected] Endereço para correspondência RESUMO A discussão acerca das Artes Marciais e das Lutas tem aparecido com mais frequência no cenário acadêmico da Educação Física nacional.

  1. Diante disso, este estudo tem por objetivo identificar e problematizar como estas práticas são produzidas como um saber pertinente a ser abordado por essa área de conhecimento.
  2. A partir de algumas noções de análise discursiva, inspiradas no referencial teórico de Michel Foucault, pode-se dizer, através da seleção de artigos de cinco periódicos nacionais, que as concepções de Artes Marciais e de Lutas aparecem como duas formações discursivas em disputa produtiva.

Dessa forma, elas tecem um campo de batalha discursiva que constitui modos de pensar, praticar e falar dessas práticas, a partir das diferentes bases epistemológicas que as sustentam. Palavras chave: Artes marciais; lutas; campo discursivo; discurso científico.

  • ABSTRACT Discussion about the Martial Arts and Fights has appeared more frequently in the academic scenario of the national Physical Education.
  • Thus, this study aims to identify and discuss how these practices are produced as knowledge pertinent to be addressed by this area of knowledge.
  • From some notions of discursive analysis inspired by Foucault’s theoretical formulations, we may say, through the selection of articles from five national journals, the conceptions of Martial Arts and Fights appear as two discursive formations in productive dispute.

Consequently, they produce a discursive battleground as way of thinking, practicing and talking about these practices, based on the different epistemological foundations that sustain them. Keywords: Martial arts; fights; field discourse; scientific discourse.

  • RESUMEN La discusión acerca de las Artes Marciales y de las Luchas han surgido con más frecuencia en el escenario académico de la Educación Física nacional.
  • Delante de eso, este estudio tiene por objetivo identificar y problematizar cómo esas prácticas son producidas en cuanto un saber pertinente a ser abordado por esa área del conocimiento.

A partir de algunas nociones del análisis discursivo inspirado en el marco teórico de Michel Foucault se puede decir, por medio de la selección de artículos de cinco periódicos nacionales, que las concepciones de Artes Marciales y de Luchas aparecen como dos formaciones discursivas en disputa productiva.

  • De esa manera, ellas tejen un campo de batalla discursiva que constituye modos de pensar, practicar y hablar de esas prácticas, a partir de las distintas bases epistemológicas que las sostienen.
  • Palabras clave: Artes marciales; luchas; campo discursivo; discurso de la ciencia.
  • CONSTRUINDO O OBJETO DE PESQUISA Os diferentes significados atribuídos às Artes Marciais e às Lutas têm possibilitado sua circulação e apropriação por várias esferas da sociedade.

Atualmente, podemos considerá-las atividade de lazer, exercício que visa o aumento da aptidão física, defesa pessoal, prática esportiva, além de serem constantemente associadas a um estilo de vida e orientadas por determinados valores culturais. Essas práticas, 2 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

  1. Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam.
  2. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem.
  3. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

como objeto de significação, ganham cada vez mais espaço em academias de ginástica, clubes esportivos, escolas, entre outros ambientes, tornando-se suscetíveis a um “complexo e indeterminado processo de transformação” (SILVA, 2003, p.20), o que possibilita a elas que se manifestem imbricadas em diferentes contextos sociais.

  1. No que diz respeito ao conhecimento produzido sobre elas no universo acadêmico, especificamente através da Educação Física, a situação não é diferente.
  2. São elas entendidas tanto como uma atividade milenar, atrelada a determinadas orientações filosóficas e religiosas, quanto uma atividade física e esportiva, apropriada por práticas escolares e não-escolares.

Na tentativa de delimitar os significados dessas práticas corporais, estudos como o de Correia e Franchini (2010) indicam a possibilidade de nomeá-las de três maneiras diferentes: 3 3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.

  • Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.
  • 1) Artes Marciais, (2) Luta e (3) Modalidades Esportivas de Combate.
  • No mesmo sentido, Gomes et al,

(2010) também sugerem definições que, por sua vez, delimitam as Artes Marciais ou Lutas a uma concepção esportiva. Assim, elas aparecem assumindo múltiplos significados. No que concerne à atribuição e produção de sentidos, é possível afirmar que este tema aparece de forma variada de acordo com as bases epistemológicas que se propõem discuti-lo.

  1. Logo, encontramos maneiras diferentes de nomear uma mesma prática, bem como práticas diferentes reconhecidas pelo mesmo nome.
  2. Com isso, falar sobre elas nos afasta de definições acabadas.
  3. Artes Marciais e Lutas, por exemplo, são termos muitas vezes utilizados sem que se suspeite ou problematize o que, de fato, nomeiam.

Diante disso, proponho neste artigo indicar um modo de pensar sobre essas práticas que escape das formas pelas quais estão sendo predominantemente pensadas e produzidas pelos discursos reiterados por textos acadêmicos nacionais atualmente. Em outras palavras, lanço um olhar de suspeita ao assunto a fim de problematizar a multiplicidade de sentidos atribuídos.

  • Para isso, inspirando-me em Foucault (2008, p.158), realizo um primeiro movimento que implica o esforço de um “tríplice deslocamento” em relação ao objeto de análise.
  • Três cuidados que aqui assumo, como: (1) descentrar-me das tentativas de definições prontas acerca do tema; (2) deslocar-me de bases epistemológicas que fixam essa discussão, sob determinados aspectos, e (3) recusar-me a adotar o conhecimento produzido sobre essa temática de forma naturalizada, como algo instituído e aceito, acima de qualquer suspeita.

Com isso, a questão norteadora deste artigo toma forma e o que se torna interessante aqui é perceber de que maneira esse tema é entendido, de modo a se constituir em um objeto de saber (FOUCAULT, 2010). Objeto que a Educação Física dedica-se a relacionar, classificar e nomear, tecendo uma rede de conhecimentos sobre ele à luz de um discurso científico.

Ou melhor, como estas práticas aparecem no universo acadêmico e científico a partir do que se fala sobre elas? Como o movimento de produção do conhecimento constitui um saber pertinente aos domínios da Educação Física? Indo mais adiante, diria que se deslocar dos pensamentos instituídos sobre as Artes Marciais e as Lutas indica outro movimento que me leva a reconhecer na linguagem, 4 4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira. a possibilidade de entendê-las como produtos de conceitos, juízos e verdades fabricados tanto por seus adeptos ou acadêmicos quanto por aqueles que não foram interpelados por elas.

  • Através da linguagem, enquanto “objeto de nosso saber e matéria-prima de nossas ações” (LAROSSA, 2001, p.70), nos expressamos, nos comunicamos, damos sentido às coisas.
  • É dessa forma que atribuímos e assumimos significados que nos permitem um entendimento plural das Artes Marciais e das Lutas.
  • Nessa perspectiva, tomando a linguagem não apenas como um conjunto de signos, palavras ou frases, mas assumindo-a em sua função enunciativa (FOUCAULT, 2010), foram analisados 26 artigos que discutem o tema a partir de diferentes perspectivas de pensamentos que constituem a Educação Física brasileira.

O material empírico é proveniente de cinco periódicos nacionais que tratam de temas pertinentes a uma abordagem ligada às Ciências Humanas como: Motrivivência, Motriz, Movimento, Pensar a Prática e Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). A seleção dos artigos foi realizada a partir da temática abordada.

  • Assim, a busca se deu a partir dos títulos e resumos de todas as edições dos periódicos delimitados, a fim de encontrar textos que se dedicaram a discutir as Artes Marciais e as Lutas como tema central.
  • Tendo em vista as possibilidades de discussões, dedico-me a problematizar as concepções produzidas pelo universo científico acerca dessas práticas, restringindo-me àquelas reconhecidas por seus vínculos culturais com o extremo oriente.5 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.

Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise. Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.

  • Para isso, opero com a noção de análise discursiva, assumindo como movimento de pesquisa a descrição de dispersões enunciativas na busca de diversas possibilidades de se ativar um tema e produzir diferentes maneiras de se pensar sobre ele (FOUCAULT, 2010).
  • Assim, a análise realizada exigiu um trato do corpus empírico como um conjunto de elementos enunciativos.

Os textos selecionados são peças, formações discursivas que constituem e acionam um discurso acerca das Artes Marciais e das Lutas, e sua relação com a Educação Física brasileira. São enunciados 6 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

que ativam manifestações de um saber, produzindo determinadas maneiras de pensar e conceituar assuntos pertinentes à determinada área de conhecimento (VEIGA-NETO, 2007). ARTES MARCIAIS OU LUTAS? TECENDO UM CAMPO DE BATALHA A partir dos artigos delimitados para a análise, foi possível ensaiar alguns pensamentos sobre as práticas discursivas 7 7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

que sustentam e significam as Artes Marciais ou Lutas como objeto de pesquisa. Nas publicações, elas aparecem tanto como assunto central de discussão quanto como cenário para abordar outros assuntos, dentre os quais gênero, educação física escolar, atividade física e treinamento desportivo. No que diz respeito às discussões estabelecidas nos textos, os argumentos sustentados por seus autores indicam a existência de um campo de disputa tensionado entre dois conjuntos de formações discursivas, que constituem a noção de Artes Marciais distinguindo-a da concepção de Lutas.

Isto é, um campo discursivo, “um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois, por uma posição enunciativa em uma dada região” (MAINGUENEAU, 1997, p.116). Com base nos 26 artigos analisados, são marcantes as tentativas de definir uma classificação que dê conta de fixar determinado modo de nomear e dar sentido a essas práticas corporais.

  • Alguns as assumem enquanto Artes Marciais, outros tratam como Lutas, sem mencionar outras formas esporádicas de classificá-las como Modalidades Esportivas de Combate ou, até mesmo, Jogos de Lutas.
  • Mas que diferença isso implica? Do ponto de vista acadêmico parece que a utilização de diferentes termos para falar de atividades tão parecidas está associada à ênfase que se deseja dar à perspectiva pela qual elas são discutidas.

Assim, analisá-las por um viés pedagógico, por exemplo, implicaria classificá-las e nomeá-las diferentemente de quando são abordadas em uma perspectiva esportiva de alto-rendimento. Contudo, é importante destacar que esta disputa nem sempre se configurou dessa forma, movimentando diferentes concepções nos domínios da Educação Física.

Podemos dizer que essas práticas passam a constituir um saber pertinente ao universo acadêmico, principalmente, a partir do momento que são entendidas como práticas esportivas, caracterizadas por passarem por um possível processo de esportivização, que converte ou transforma essas práticas em esporte, 8 8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

através da apropriação dos códigos que orientam esse fenômeno (GONZÁLEZ, 2005). Especificamente, é através do estabelecimento da proposta de regulamentação da profissão de Educação Física 9 9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.

que essas práticas passam a compor um campo de disputa por sua legitimidade. Como tema de pesquisa, elas começam a constituir um assunto passível de ser conhecido, relacionado e nomeado de formas e em lugares determinados. As diversas maneiras de entendê-las e executá-las passam a constituir um conhecimento pertinente a diferentes perspectivas de ciência acionadas pelo funcionamento da Educação Física.

  1. Através da análise, a operação de descrever a forma como essas práticas são tratadas, no que concerne ao conhecimento que é produzido sobre elas, implicou na diferenciação entre o que se apropria por Artes Marciais e o que é considerado Lutas.
  2. Termos que, aparentemente, significam a mesma prática exercem tensionamentos contrários nesse campo de batalha.

A maneira pela qual são tratadas indica a formação de dois espaços discursivos. Dois pontos concorrentes: o das Artes Marciais e o das Lutas. Para Maingueneau (1997, p.117), o espaço discursivo “delimita um subconjunto do campo discursivo, ligando pelo menos duas formações discursivas que, supõe-se, mantêm relações privilegiadas, cruciais para a compreensão dos discursos considerados”.

  1. De acordo com o autor, a determinação desses subconjuntos se dá pela impossibilidade de apreender um campo discursivo em sua totalidade.
  2. No caso das Artes Marciais e das Lutas, os subconjuntos se caracterizam por concepções opostas aplicados a uma mesma prática, e/ou semelhantes, mas que mesmo em disputa, são produtivas para constituição do tema.

A partir dos textos analisados, nomear certas práticas por Artes Marciais enfatiza determinada noção geográfica, moral e cultural do que entendemos por Oriente. Uma ideia que se aproxima do que Foucault (2009, p.17) reconhece por origem e se caracteriza pela busca de uma “essência exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade cuidadosamente recolhida em si mesma, sua forma imóvel e anterior a tudo o que é externo, acidental, sucessivo”.

  1. Os enunciados que constituem essa concepção podem ser aproximados de uma noção orientalista, como considera Edward Said (2007).10 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.
  2. Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo.

Assim, os artigos interpelados por essa noção, apontam para a valorização do “Oriental” como sinônimo do que é exótico, misterioso, profundo e seminal. De acordo com Said (2007, p.274) “a palavra Oriente possui uma grande ressonância cultural no Ocidente”.

E é exatamente neste ” Oriente ” cultural que o conjunto de formações discursivas ativa a noção de Artes Marciais, reforçando a ideia de que são práticas vinculadas a determinados valores morais que produzem uma conduta específica, um estilo de vida que “envolve o sujeito em outras dimensões de sua existência dentro e fora da área de luta” (RODRIGUES, 2009, p.649).

Assim, elas se caracterizam por valorizar determinadas verdades, esforçando-se para recolher nelas mesmas uma origem exata, anterior a tudo que é externo. Dentro dessa concepção, podemos recortar alguns exemplos que nos ajudam a entender como se constitui o que podemos reconhecer por Artes Marciais.

Rios (2005), na tentativa de resgatar e sistematizar a história do taekwondo, considera que essa modalidade, ao passar por um processo de esportivização iniciado em 1960, perdeu alguns elementos que a caracterizava como Arte Marcial, salientando que o: praticante de arte marcial desenvolvia técnicas que, se numa situação real de luta precisasse usá-las, derrubaria o oponente em poucos segundos.

Para a apropriação dessas técnicas era necessário longo tempo, tempo que não era mais disponível, já que o novo estilo reservava este para o treinamento de técnicas permitidas nas competições (RIOS, 2005, p.50). É possível perceber que o olhar lançado pelo autor é orientado por um aspecto saudosista, tendendo a desqualificar outros entendimentos possíveis atribuídos a ela.

Não distante disso, Yonezawa (2010, p.248) tece um elogio “filosófico e ético à prática do combate em relação à noção de luta”, ao considerar que elas atravessaram diversas mutações até adquirirem seu formato atual e culminarem em uma “transformação das Artes Marciais no que hoje se chama de técnicas de luta”.

O autor utiliza a expressão “máquina de guerra”, com base na filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, para se referir à cultura filosófica e espiritualista das Artes Marciais, enquanto máquina produtora de determinados sentidos, atrelados a um modo de pensar que está além da sua redução em sistemas de luta, tendo como meta apenas o confronto bélico: Assim, trazemos aqui a noção de combate como distinguível ética, política e filosoficamente desta prática estetizada da luta.

  • Como forma também de combate, esboçamos aqui um conceito de combate que possa trazer nova potência às Artes Marciais, talvez, de modo a avivar um pouco de sua força enquanto máquina de guerra (YONEZAWA, 2010, p.35).
  • No mesmo sentido, outros artigos referentes a diversas modalidades como o karatê-Do (LAGE ; GONÇALVES JUNIOR, 2007), o kendo (RODRIGUES, 2009) e o judô (DRIGO, 2009) também são assim caracterizados.

Sem ferir as singularidades do modo com que cada texto evoca o tema, percebe-se que há uma noção de preservação que os atravessa. Transmitem a ideia da existência de uma essência (boa) que deveria ser preservada e que se perdeu com a transformação ou associação dessas práticas corporais a outros sentidos até então distintos, como é o caso do esporte.

Considerando alguns trechos dos textos analisados, sem julgar suas consistências teóricas, é possível dizer que esses artigos potencializam a ideia de que essas práticas não podem ser desassociadas dos aspectos que as caracterizam como Artes Marciais. No entanto, essa não é a única forma de significá-las.

No outro extremo deste tensionamento, está um espaço discursivo que podemos reconhecer por Lutas, constituído por rupturas com a noção estritamente orientalista, ele permite um entendimento mais amplo dessas práticas. Através dele, elas aparecem não só reconhecidas por seus vínculos culturais com o oriente, mas, também, inseridas em outros contextos sociais.

  1. É assim que 20 dos 26 textos analisados as tratam, descentrando a noção essencialista das Artes Marciais a fim de discuti-las como modalidades esportivas, atividade física ou conteúdo da educação formal.
  2. Se num extremo há uma preservação de uma prática original, no outro, está uma concepção que as possibilita serem interpeladas por outros discursos como o da ciência, da saúde, do lazer e do universo esportivo.

Nesse sentido, essas práticas passam a assumir outras configurações que ainda mantêm uma relação mimética com as tradições orientais (ELIAS; DUNNING, 1992), 11 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

mas que as permitem serem entendidas e discutidas fora do orientalismo. Essa perspectiva sugere a aceitação de outras formas de concebê-las, praticá-las e inventá-las, sem a preocupação de preservar suas essências. As rupturas que constituem essas práticas corporais em sua diversidade de significações são aceitas e muitas vezes desejadas.

Referir-se a essas práticas sob essa ótica implica reconhecer nelas, principalmente, um formato esportivo. Hoje, por exemplo, conseguimos diferenciá-las – Judô, Karatê, Taekwondo, entre outras – a partir da visibilidade esportiva que assumem. Esporte este que não restringe a prática ao formato institucionalizado, mas que a possibilita ser apropriada de diversas maneiras e em lugares diferentes.

Na diferenciação estabelecida por essas duas noções, é notável que os artigos que constituem o discurso das Lutas não se restringem a considerar essas práticas corporais apenas por um viés cultural. Em muitos casos, ao utilizar essa expressão, deixa-se de enfatizar o caráter disciplinador, ritualístico e tradicional da cultura Oriental, para associá-la a aspectos pedagógicos, esportivos e relacionados à qualidade de vida.

É a partir desse entendimento que muitos autores assumem discuti-las sob aspectos variados como: educacional; 12 12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al., 2010;) tema pertinente a ser discutido por currículos (TRUSZ; NUNES, 2007) e pesquisas acadêmicas 13 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

CORREIA; FRANCHINI, 2010); gênero (FERRETTI; KNIJNIK, 2007); e rendimento esportivo (SILVA; CARVALHO, 2002; CÉSAR et al, 2002). Ainda nesta perspectiva, dentro da concepção das Lutas, também é possível identificar alguns artigos que desenvolvem argumentos radicalmente contra as concepções essencialistas.

Fett e Fett (2009) contestam os dogmatismos que permeiam a formação do professor e dos lutadores. Os autores reconhecem que essas práticas assumiram um formato esportivo que exige conhecimentos científicos, que estão além das limitações impostas pelas tradições das Artes Marciais.

Outros autores corroboram a mesma noção quando reivindicam que a falta de literatura específica e a visão retrógrada de que Judô se treina apenas no dojo acabou por deixar técnicos e atletas sem referencial teórico e prático de métodos mais específicos e sua forma de aplicação (MORAES, apud AZEVEDO et al,, 2004, p.74).

Como é possível observar, essas pesquisas assumem as práticas corporais de Karatê e de Judô como modalidades esportivas institucionalizadas. E, diferentemente dos artigos anteriores, os aspectos culturais atrelados a essas Lutas são colocados em suspeita quanto à funcionalidade, quando objetiva seu desenvolvimento técnico.

Diante disso, é interessante ressaltar que, por mais que alguns artigos não se preocupem em distinguir o uso dos termos Arte Marcial e Lutas, o “tom” no qual esses termos são utilizados implica em diferenciá-los. Na tentativa de estabelecer possíveis definições entre o que seria uma ou outra, o conhecimento que é produzido acerca do assunto constitui um campo de disputa quanto à significação dessas práticas.

O sentido que orienta os argumentos encontrados é sempre perpassado por essas duas concepções (de Arte Marcial ou de Lutas) que configuram um campo de batalha discursivo. Porém, isso não significa, a partir da análise, enquadrar cada texto em um dos extremos dessa disputa, mas sim perceber que são eles, através de seus argumentos, que produzem e condicionam este campo que gera saberes e produz “vontade de verdade” (FOUCAULT, 2009, p.16), que constituem tanto os sujeitos pertencentes a elas quanto aqueles que não são interpelados por tais práticas.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Encerro este artigo – comparando-o ao ato de ensaiar – sem pretensão de esgotar o assunto. Como diria Larrosa (2003, p.13) sobre o ensaio: “o ensaísta inicia no meio e termina no meio”. Ensaiar não no sentido de treinar para algo, mas de exercitar os movimentos de pensamentos que me são possibilitados a partir das condições do cenário que envolve a temática abordada.

Sem apresentar grandes conclusões, o que tentei aqui foi desestabilizar a discussão acerca dessas práticas corporais que aos poucos constituem um campo de saber pertinente à Educação Física. Perceber as Artes Marciais e as Lutas enquanto dois espaços discursivos, produtivos e em disputa está longe de querer fixar verdades sobre elas, mas sim dar visibilidade para a emergência de outras práticas de significações que as constituem em diferentes espaços sociais, como é o caso do próprio espaço acadêmico.

Dentre as duas formações discursivas tensionadoras, podemos destacar o primeiro subconjunto por valorizar seus aspectos preservacionistas, que caracterizam uma noção orientalista e possibilitam reconhecer determinadas práticas por Artes Marciais. Já o segundo subconjunto, está atrelado a outros significados que nos permitem reconhecê-las como Lutas e associá-las a práticas de lazer, educacionais, atividades físicas e esportivas.

Ao reconhecer a dimensão que a discussão sobre este tema assume nos textos acadêmicos, é possível suspeitar que a diversidade de significações não se restrinja à disputa de legitimidade entre as concepções apresentadas. Além de dar visibilidade às Artes Marciais e às Lutas, os artigos apresentam outras formas de olhá-las e as constituem enquanto um saber passível de ser apropriado por diferentes perspectivas do universo científico.

Dessa forma, considerar as Artes Marciais e as Lutas como formações discursivas em concorrência indica a ativação de um campo de batalha discursivo no qual essas práticas corporais são constituídas. Através do conhecimento produzido sobre elas, essas práticas se constituem enquanto objeto de saber de modo que possam ser medidas, avaliadas, equiparadas de diferentes maneiras e aos poucos produzem verdades que se consolidam e orientam não só o que se pode falar e de onde se falar, como também os modos de agir e de pensar sobre o assunto.

Diante disso, esse artigo não trata de estabelecer classificações nem tentar determinar qual a maneira mais correta de tratar este tema. O objetivo central foi o de lançar um olhar e analisar a produção de conhecimento que atravessa a temática das Artes Marciais e das Lutas, decalcando-a em uma rede de significados, sem desconsiderar suas disputas e tensões, mas, atentando para os efeitos que elas produzem na constituição dessas práticas corporais na contemporaneidade.

  • Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 Recebido em: 30 maio 2011 Aprovado em: 18 abr.2012 1,
  • O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).
  • 2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.

3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas. Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.

4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

  1. Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira.
  2. 5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental.
  3. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados. 6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).

7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.

8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.

9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais. Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais.

  1. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.
  2. 10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Assim, o autor considera que a cultura ao atuar dinamicamente com a lógica política, econômica e militar fez do Oriente um lugar variado e complicado que fomentou o Orientalismo enquanto campo de estudo. 11 Utilizo “relação mimética” com base em Elias e Dunning (1992), por entender a mimésis como sendo um dos elementos que, por meio de um processo civilizador ou de constituição da modernidade, possibilita a existência dessa manifestação sociocultural que denominamos desporto e que, de acordo com alguns textos analisados, torna pertinente sua aproximação do que no discorrer deste trabalho podemos entender por Artes Marciais ou Lutas.

12 Enquanto conteúdo da educação física escolar (CORDEIRO JUNIOR, 1999; SILVEIRA JÚNIOR; CARDOSO, QIGONG, 2004; NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007; NASCIMENTO, 2008; CAZETTO, 2008; LOPES; TAVARES, 2008; GOMES et al,, 2010;) 13 Algumas pesquisas demonstram a preocupação em formalizar o conhecimento sobre as Lutas, organizando currículos específicos para que esse conhecimento seja transmitido pela educação formal.

APÊNDICE

AZEVEDO, P. et al Sistematização da preparação física do judoca Mário Sabino: um estudo de caso do ano de 2003. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.26, n.1, p.73-86, set.2004. CAZETTO, F. Lutas e artes marciais na escola: “das brigas aos jogos com regras”, de Jean-Claude Olivier. Motrivivência, Florianópolis, ano 20, n.31, p.251-255, dez.2008. CÉSAR, M. et al Avaliação da intensidade de esforço da luta de caratê por meio da monitorização da freqüência cardíaca. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.1, p.73-81, set.2002. CORDEIRO JUNIOR, O. Em busca da construção de uma proposta teórico-metodológica para o ensino do judô escolar. Pensar a Prática, Goiânia, v.3, p.97-105, jul./jun.1999/2000. CORREIA, W. R; FRANCHINI, E. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz, Rio Claro, v.16, n.1, p.1-9, jan./mar.2010. DRIGO, A. Lutas e escolas de ofício: analisando o judô brasileiro. Motriz, Rio Claro, v.15, n.2, p.396-406, abr./jun.2009. ELIAS. N; DUNNING, E. A busca da excitação Lisboa: Difel, 1992. FERRETTI, M.; KNIJNIK, J. Mulheres podem praticar lutas? um estudo sobre as representações sociais de lutadoras universitárias. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.1, p.57-80, jan./abr.2007. FETT, C.; FETT, W. Filosofia, ciência e a formação do profissional de artes marciais. Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.173-184 jan./mar.2009. FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008. FOUCAULT, M. Microfísica do poder Rio de Janeiro: Graal, 2009. FOUCAULT, M. A ordem do discurso : aula inaugural no Còllege de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Loyola, 2009. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. GOMES, M. et al Ensino das lutas: dos princípios condicionais aos grupos situacionais. Movimento, Porto Alegre, v.16, n.2, p.207-227, abr./jun.2010. GONÇALVES JUNIOR, L; DRIGO, A. A já regulamentada profissão Educação Física e as artes marciais. Motriz, Rio Claro, v.7, n.2, p.131-132, jul./dez.2001. GONZÁLEZ.F. Esportivização. In: GONZÁLEZ, F.; FENSTERSEIFER, P. Dicionário Crítico de Educação Física Ijuí: Ed. da Unijuí, 2005.p.170-174. LAGE, V.; GONÇALVES JUNIOR, L. Karatê-do como própria vida. Motriz, Rio Claro, v.13, n.1, p.33-42, jan./mar.2007. LARROSA, J. Lenguaje y educación. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.16, p.68-80, jan./abr.2001. LARROSA, J. O ensaio e a escrita acadêmica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.28, n.2, p.101-115, jan./dez.2003. LOPES, L; TAVARES, O. A prática pedagógica dos mestres de caratê da grande vitória (ES). Pensar a Prática, Goiânia, v.11, n.1, p.91-97, jan./jul.2008. MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso 3. ed. Campinas: Pontes, 1997. NASCIMENTO, P. Organização e trato pedagógico do conteúdo de lutas na Educação Física escolar. Motrivivência, Florianópolis, ano 20, n.31, p.36-49, dez.2008. NASCIMENTO, P.; ALMEIDA, L. A tematização das lutas na Educação Física Escolar: restrições e possibilidades. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.3, p.91-110, set./dez.2007. RIOS, G. O processo de esportivização do taekwondo. Pensar a Prática, Goiânia, v.8, n.1, p.37-54, jan./jun.2005. RODRIGUES, R. Fazer kendo e pensar a educação do corpo. Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.648-656, jul./set.2009. SAID, E. Orientalismo : o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SILVA, M.; CARVALHO, M. Análise da suplementação nutricional dos atletas da seleção brasiliense de karatê. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.24, n.1, p.127-137, set.2002. SILVA, T. O currículo como fetiche : a prática e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. SILVEIRA JÚNIOR.E.R.; CARDOSO, C.L. Qigong: uma contribuição para a Educação Física escolar. Motrivivência, Florianópolis, ano 16, n.23, p.83-101, dez.2004. TRUSZ, R.; NUNES, A. A evolução dos esportes de combate no currículo do Curso de Educação Física da UFRGS. Movimento, Porto Alegre, v.13, n.1, p.179-204, jan./abr.2007. VEIGA-NETO, A. Foucault e a educação 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. YONEZAWA, F. Algo se move: um elogio filosófico-ético à prática do combate como arte e educação. Motriz, Rio Claro, v.16, n.2, p.348-358, abr./jun.2010.

Endereço para correspondência: Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves Rua Forte Santana, n.712 Parque Residencial Coelho, Rio Grande/RS CEP:96202-180 1, O presente trabalho contou com o financiamento da CAPES (modalidade bolsa de mestrado).2 A utilização do termo práticas será utilizada como sinônimo de Artes Marciais e de Lutas.

Porém, ele não se restringe apenas a fazer referência aos movimentos corporais que as caracterizam. Mais que isso, ele remete ao entendimento de que Artes Marciais e Lutas são práticas produzidas e produtoras de sentido no funcionamento da linguagem. Nesse sentido, a própria produção acadêmica sobre o assunto se constitui como uma prática que ativa a produção dessas formações discursivas.3 As três definições propostas por Correia e Franchini (2010) parecem bem demarcadas, porém, considerarei apenas os dois primeiros termos, (1) artes marciais e (2) lutas, para discutir a tensão que eles exercem num espaço de significação dessas práticas.

Isso não quer dizer que o terceiro termo apontado, (3) modalidades esportivas de combate, seja excluído, apenas considero que o significado atribuído a este, já esteja imbricado no segundo termo utilizado pelos autores.4 Sem restringi-la a sua forma verbal, mas considerando-a em sua multiplicidade, Larrosa (2001), a partir das hipóteses nietzscheanas, aponta a linguagem como um dos produtos do instinto de conservação da vida humana, ou seja, uma forma de expressar e constituir os modos particulares de vida em sociedade.

Através dela, se consolida o que mais adiante deve ser entendido como verdade e contrastado do que é mentira.5 Para evitar possíveis equívocos, considero para este trabalho apenas as práticas de Artes Marciais e de Lutas provenientes de uma cultura extremo oriental. Reconheço a existência de práticas ligadas a outras culturas – ocidentais e do oriente médio – e por ter consciência de suas diferenças, assumo apenas as do extremo oriente como objeto de análise.

Desse modo, restrinjo esta análise às discussões acerca das práticas reconhecidas como: Karatê, Taekwondo, Judô e Kendo, por se tratar de modalidades presentes nos artigos selecionados.6 É importante ressaltar que a noção de enunciado, de acordo com Foucault (2010), não se restringe a frases ou parágrafos.

Por mais que o material empírico analisado neste estudo tenha sido composto por artigos acadêmicos, eles assim foram considerados pela função enunciativa que exercem, ou seja, “uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (p.98).7 De acordo com Foucault (2010, p.133), práticas discursivas trata-se de um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”.8 Importante ressaltar que o significado esportivo que me refiro diz respeito à definição de esporte enquanto prática motora/corporal que González e Fensterseifer (2005) caracterizam por seus aspectos como: comparação de desempenho e igualdade entre adversários, asseguradas por um quadro de regras normalmente estabelecido por instituições responsáveis por promover e homogeneizar determinada prática.9 De acordo com Gonçalves Junior e Drigo (2001), a partir da legislação que regulamenta a profissão de educação física inicia-se um embate pela disputa de quem possui competência para discutir e promover a prática dessas manifestações corporais.

Formalmente, este campo de disputa é configurado pelo tensionamento entre o Conselho Federal de Educação Física e as Confederações Brasileiras de Lutas e Artes Marciais. Neste artigo não me dedicarei a esta discussão, apenas reconheço como sendo um acontecimento importante que possibilita a essas práticas serem reconhecidas de maneiras diversas na contemporaneidade.10 Edward Said (2007) chama por Orientalismo o interesse – principalmente econômico – europeu e depois americano em estudar o Leste: o Oriente.

Publicação nesta coleção 24 Jan 2014 Data do Fascículo Set 2013

Recebido 30 Maio 2011 Aceito 18 Abr 2012

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