Artigo 1 Rei Do Camarote?
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Quem é o rei do camarote?
Capa balada – Alexander de Almeida (Fernando Moraes/) Publicidade Quando uma pessoa vira personagem de uma capa de VEJA SÃO PAULO, é comum que sua vida mude bastante depois que a revista começa a circular. Afinal, são cerca de 300 000 exemplares impressos por semana e perto de 1 milhão de leitores, além de quase 2 milhões de visitantes únicos no site da publicação a cada trinta dias.
Poucas reportagens, entretanto, se comparam à dos reis dos camarotes, da qual Alexander Augusto de Almeida, de 39 anos, é o perfilado principal. + Os sultões dos camarotes: frequentadores chegam a gastar 50 000 reais por noite em boates No caso dessa capa, a repercussão foi potencializada por um vídeo produzido pela equipe de VEJA SÃO PAULO, no qual ele, em seu apartamento na Zona Leste, fala sobre os dez mandamentos de um rei do camarote.
Em cinco dias, o vídeo alcançou quase quatro milhões de visualizações, virou meme em todo tipo de site e foi aproveitado por mais de vinte empresas, que lançaram campanhas inspiradas em bordões retirados da entrevista de Alexander. O empresário ganhou também uma fanpage no Facebook com mais de 173 000 fãs e o termo “rei do camarote” foi tuitado 90 181 vezes.
Sua conta de Instagram saltou de 800 para 4 500 seguidores. No domingo (3), Alexander resolveu encerrá-la, assim como o perfil do Facebook. “Não aguentava mais ser zoado”, explicou ele ao repórter João Batista Jr., autor da matéria de capa, em uma longa troca de mensagens por celular. Em meio a toda essa repercussão, surgiram também boatos na internet, como muitas vezes acontece em situações semelhantes, de que a história poderia não ser verídica.
Segundo uma dessas versões, Alexander teria sido um personagem inventado pelo programa Pânico, Em matéria veiculada na terça (5), a produção do programa negou a informação. Não teria como fazer diferente. A versão mentirosa ganhou força na manhã da própria terça, com uma entrevista da Rádio Bandeirantes na qual o jornalista iniciou a conversa com Alexander falando o seguinte: “Confesso que até hoje eu tenho dúvida se você existe de verdade”.
- Antes disso, disse: “Será que ele chama Alexander mesmo? Será que ele é empresário mesmo?”.
- O empresário respondeu: “Foi uma brincadeira que vai ser usada posteriormente.
- Não é real.
- Daqui a uns dias vai ser divulgado para o público.” A revista não foi procurada pela emissora para comentar tal absurdo.
Pautado para cobrir os hábitos dos paulistanos que mais gastam em camarotes de casas noturnas, fenômeno que cresce na cidade, o repórter João Batista Jr. realizou mais de trinta entrevistas durante dois meses. Foi pessoalmente a seis das casas noturnas mais caras de São Paulo: Pink Elephant, Ballroom, Provocateur, Disco, Royal e Wood’s,
- Ele também esteve na festa The 400 Club.
- Logo no início dessa apuração, o nome de Alexander foi um dos mais citados por hostesses, barmen, donos e frequentadores de boates como um dos fregueses que mais esbanjam nesses locais.
- Em vídeo: os dez mandamentos do rei do camarote Continua após a publicidade O repórter esteve com ele em três baladas diferentes: Pink Elephant, Provocateur e Ballroom.
Nesta última, na madrugada do dia 19 de outubro, Alexander gastou cerca de 50 000 reais. Na ocasião, pediu sessenta garrafas de champanhe Perrier-Jouet, cinco garrafas de champanhe Cristal (só não encomendou mais porque a casa não tinha mais produtos disponíveis em seu estoque), seis garrafas de vodca Absolut Flex, uma garrafa de uísque Royal Salute e incontáveis latas de Red Bull. Alexander de almeida () A repercussão da reportagem e do vídeo que retrataram seus hábitos o deixou assustado. “Tem muita gente me ligando para criticar, comprei ontem mesmo dois carros blindados, pois estou com medo de sequestro”, contou na manhã de domingo.
Também tenho medo da Receita Federal vir atrás de mim”. Proprietário da Organização e Assessoria em Despachos 3A Ltda., registrada em 4 de abril de 2010 na Junta Comercial do Estado de São Paulo, Alexander queixou-se também da reação de alguns de seus clientes. “O Pan diz que irá me descredenciar”, afirmou, referindo-se ao ex-banco Panamericano.
Procurado por VEJA SÃO PAULO, o banco não quis falar sobre o assunto. A empresa de Alexander, A 3A, é especializada em administrar para alguns bancos a frota de veículos recuperados de pessoas inadimplentes. Entre outros serviços, ela atualiza a documentação, retira os automóveis dos antigos proprietários e guarda a frota em pátios de São Paulo até a realização do leilão judicial.
- É em nome da 3A que Alexander registrou a sua Ferrari 458, ano 2012, cuja placa começa com a letra F.
- Ela foi comprada da Auto Rosso Comércio de Veículos, uma concessionária de importados da Avenida Europa.
- Na segunda passada (4), Alexander contou a Diógenes Muniz, editor de vídeos da VEJA SÃO PAULO, que estava pensando em contratar uma assessoria para lidar com o assédio da imprensa.
“Já procurei a 9Nine, do Ronaldo, para tratar disso”, disse. “Eles falaram para eu desaparecer, sumir do mapa.” Em nota oficial, a 9Nine, especializada em marketing esportivo e conhecida por ter o craque Ronaldo entre seus sócios, confirma a conversa, mas diz que o contato não foi adiante, pois a empresa trabalha exclusivamente com artistas e atletas.
Alexander também lamentou a Diógenes que não poderia ir a uma festa na noite da mesma segunda no Pikadeiro, em Moema, por causa do assédio que sofreria no local. “Vários amigos do Pânico vão estar lá”, disse. “Já implorei para eles não me zoarem no programa.” Antes de aparecer nas páginas da revista, Alexander já era uma figura bem conhecida na vida noturna da cidade.
Em abril, por exemplo, apareceu numa festa da Ferrari realizada no hotel Unique e aproveitou para fazer fotos ao lado da modelo Carol Prado. No Instagram e no Facebook, postou dezenas de fotos mostrando cenas de sua vida de baladeiro. Portanto, sim, Alexander existe.
- Mais do que isso, é um exemplo de um tipo que vem se proliferando nas casas noturnas paulistanas.
- Foi retratado nas páginas de VEJA SÃO PAULO, sem qualquer tipo de julgamento, por ter um comportamento que é comum entre um grupo de pessoas – por mais ultrajante que isso possa soar para alguns.
- O fato de ter gente gastando 50 000 reais em uma noitada é notícia – apesar de alguns jornalistas não entenderem ou fingirem que não entendem.
É assim desde sempre. Em 1943, por exemplo, ficou famosa a reportagem do lendário jornalista Joel Silveira sobre as festa das famílias quatrocentonas de São Paulo, publicada em o Diário da Noite, Alexander é mais um personagem retratado nos 28 anos de circulação de VEJA SÃO PAULO, que dedica suas páginas aos mais variados e relevantes temas da cidade: dos buracos de rua aos problemas de segurança, do desempenho dos prefeitos a campanhas como a despoluição dos nossos rios, do respeito ao meio ambiente a questões ligadas à diversidade, da discussão em torno das soluções para o trânsito à história da cidade, passando pelo que a capital oferece de melhor nas áreas de gastronomia e entretenimento – sem esquecer, é claro, dos personagens que chamam a atenção na cena paulistana.
agrega valor Alexander de Almeida alexander de almeida vida apos a fama Gente Rei do Camarote
Quem é o reis dos camarotes?
Capa balada – Alexander de Almeida (Fernando Moraes/) Publicidade Quando uma pessoa vira personagem de uma capa de VEJA SÃO PAULO, é comum que sua vida mude bastante depois que a revista começa a circular. Afinal, são cerca de 300 000 exemplares impressos por semana e perto de 1 milhão de leitores, além de quase 2 milhões de visitantes únicos no site da publicação a cada trinta dias.
- Poucas reportagens, entretanto, se comparam à dos reis dos camarotes, da qual Alexander Augusto de Almeida, de 39 anos, é o perfilado principal.
- Os sultões dos camarotes: frequentadores chegam a gastar 50 000 reais por noite em boates No caso dessa capa, a repercussão foi potencializada por um vídeo produzido pela equipe de VEJA SÃO PAULO, no qual ele, em seu apartamento na Zona Leste, fala sobre os dez mandamentos de um rei do camarote.
Em cinco dias, o vídeo alcançou quase quatro milhões de visualizações, virou meme em todo tipo de site e foi aproveitado por mais de vinte empresas, que lançaram campanhas inspiradas em bordões retirados da entrevista de Alexander. O empresário ganhou também uma fanpage no Facebook com mais de 173 000 fãs e o termo “rei do camarote” foi tuitado 90 181 vezes.
- Sua conta de Instagram saltou de 800 para 4 500 seguidores.
- No domingo (3), Alexander resolveu encerrá-la, assim como o perfil do Facebook.
- Não aguentava mais ser zoado”, explicou ele ao repórter João Batista Jr., autor da matéria de capa, em uma longa troca de mensagens por celular.
- Em meio a toda essa repercussão, surgiram também boatos na internet, como muitas vezes acontece em situações semelhantes, de que a história poderia não ser verídica.
Segundo uma dessas versões, Alexander teria sido um personagem inventado pelo programa Pânico, Em matéria veiculada na terça (5), a produção do programa negou a informação. Não teria como fazer diferente. A versão mentirosa ganhou força na manhã da própria terça, com uma entrevista da Rádio Bandeirantes na qual o jornalista iniciou a conversa com Alexander falando o seguinte: “Confesso que até hoje eu tenho dúvida se você existe de verdade”.
Antes disso, disse: “Será que ele chama Alexander mesmo? Será que ele é empresário mesmo?”. O empresário respondeu: “Foi uma brincadeira que vai ser usada posteriormente. Não é real. Daqui a uns dias vai ser divulgado para o público.” A revista não foi procurada pela emissora para comentar tal absurdo.
Pautado para cobrir os hábitos dos paulistanos que mais gastam em camarotes de casas noturnas, fenômeno que cresce na cidade, o repórter João Batista Jr. realizou mais de trinta entrevistas durante dois meses. Foi pessoalmente a seis das casas noturnas mais caras de São Paulo: Pink Elephant, Ballroom, Provocateur, Disco, Royal e Wood’s,
- Ele também esteve na festa The 400 Club.
- Logo no início dessa apuração, o nome de Alexander foi um dos mais citados por hostesses, barmen, donos e frequentadores de boates como um dos fregueses que mais esbanjam nesses locais.
- Em vídeo: os dez mandamentos do rei do camarote Continua após a publicidade O repórter esteve com ele em três baladas diferentes: Pink Elephant, Provocateur e Ballroom.
Nesta última, na madrugada do dia 19 de outubro, Alexander gastou cerca de 50 000 reais. Na ocasião, pediu sessenta garrafas de champanhe Perrier-Jouet, cinco garrafas de champanhe Cristal (só não encomendou mais porque a casa não tinha mais produtos disponíveis em seu estoque), seis garrafas de vodca Absolut Flex, uma garrafa de uísque Royal Salute e incontáveis latas de Red Bull. Alexander de almeida () A repercussão da reportagem e do vídeo que retrataram seus hábitos o deixou assustado. “Tem muita gente me ligando para criticar, comprei ontem mesmo dois carros blindados, pois estou com medo de sequestro”, contou na manhã de domingo.
- Também tenho medo da Receita Federal vir atrás de mim”.
- Proprietário da Organização e Assessoria em Despachos 3A Ltda., registrada em 4 de abril de 2010 na Junta Comercial do Estado de São Paulo, Alexander queixou-se também da reação de alguns de seus clientes.
- O Pan diz que irá me descredenciar”, afirmou, referindo-se ao ex-banco Panamericano.
Procurado por VEJA SÃO PAULO, o banco não quis falar sobre o assunto. A empresa de Alexander, A 3A, é especializada em administrar para alguns bancos a frota de veículos recuperados de pessoas inadimplentes. Entre outros serviços, ela atualiza a documentação, retira os automóveis dos antigos proprietários e guarda a frota em pátios de São Paulo até a realização do leilão judicial.
É em nome da 3A que Alexander registrou a sua Ferrari 458, ano 2012, cuja placa começa com a letra F. Ela foi comprada da Auto Rosso Comércio de Veículos, uma concessionária de importados da Avenida Europa. Na segunda passada (4), Alexander contou a Diógenes Muniz, editor de vídeos da VEJA SÃO PAULO, que estava pensando em contratar uma assessoria para lidar com o assédio da imprensa.
“Já procurei a 9Nine, do Ronaldo, para tratar disso”, disse. “Eles falaram para eu desaparecer, sumir do mapa.” Em nota oficial, a 9Nine, especializada em marketing esportivo e conhecida por ter o craque Ronaldo entre seus sócios, confirma a conversa, mas diz que o contato não foi adiante, pois a empresa trabalha exclusivamente com artistas e atletas.
- Alexander também lamentou a Diógenes que não poderia ir a uma festa na noite da mesma segunda no Pikadeiro, em Moema, por causa do assédio que sofreria no local.
- Vários amigos do Pânico vão estar lá”, disse.
- Já implorei para eles não me zoarem no programa.” Antes de aparecer nas páginas da revista, Alexander já era uma figura bem conhecida na vida noturna da cidade.
Em abril, por exemplo, apareceu numa festa da Ferrari realizada no hotel Unique e aproveitou para fazer fotos ao lado da modelo Carol Prado. No Instagram e no Facebook, postou dezenas de fotos mostrando cenas de sua vida de baladeiro. Portanto, sim, Alexander existe.
Mais do que isso, é um exemplo de um tipo que vem se proliferando nas casas noturnas paulistanas. Foi retratado nas páginas de VEJA SÃO PAULO, sem qualquer tipo de julgamento, por ter um comportamento que é comum entre um grupo de pessoas – por mais ultrajante que isso possa soar para alguns. O fato de ter gente gastando 50 000 reais em uma noitada é notícia – apesar de alguns jornalistas não entenderem ou fingirem que não entendem.
É assim desde sempre. Em 1943, por exemplo, ficou famosa a reportagem do lendário jornalista Joel Silveira sobre as festa das famílias quatrocentonas de São Paulo, publicada em o Diário da Noite, Alexander é mais um personagem retratado nos 28 anos de circulação de VEJA SÃO PAULO, que dedica suas páginas aos mais variados e relevantes temas da cidade: dos buracos de rua aos problemas de segurança, do desempenho dos prefeitos a campanhas como a despoluição dos nossos rios, do respeito ao meio ambiente a questões ligadas à diversidade, da discussão em torno das soluções para o trânsito à história da cidade, passando pelo que a capital oferece de melhor nas áreas de gastronomia e entretenimento – sem esquecer, é claro, dos personagens que chamam a atenção na cena paulistana.
agrega valor Alexander de Almeida alexander de almeida vida apos a fama Gente Rei do Camarote
Quais são os Dez Mandamentos do “rei do Camarote do dreito simplifier”?
Os 10 mandamentos do “Rei do Camarote” (do Direito) GEN Jurídico
— Artigo publicado no — Por Lenio Luiz Streck* A civilização do espetáculo
Fizemos um Programa Direito e Literatura sobre o livro de Vargas Llosa, A Civilização do Espetáculo, que denuncia a vulgarização da cultura, a “literatura light” que propaga o conformismo, a complacência e a autossatisfação. O retrato que Llosa apresenta cabe como uma luva ao que se pratica no Brasil em termos de jornalismo, ensino e práticas jurídicas.
Já falei sobre isso e volto ao tema, em face da contingência representada pelo aparecimento dos 10 Mandamentos do Rei do Camarote, campeão de cliques nas redes sociais (embora, ao que consta, tenha sido também ele fake — o que é congruente: um fake fazendo coisas fake! Bingo!). Pouco importa. Trata-se, agora, de um “fake” necessariamente útil.
É “como se fosse” (digo isso a partir de Hans Vahinger, com sua filosofia do als ob – como se). Refiro-me, como sabe toda a gente, ao vídeo, produzido pela Veja São Paulo, no qual um empresário prescreve os, Trata-se de um conjunto de dicas (os tais mandamentos) a serem seguidas por aqueles que queiram fazer parte da turma que recebe um, como direi, tratamento diferenciado no universo das casas noturnas paulistanas.
Então, em ritmo de #ficaadica, logo ficamos sabendo que devemos nos vestir com roupas de grife, que devemos ter um carro potente, que devemos pagar por um camarote (é que, na pista, seríamos apenas mais um), que devemos nos fazer acompanhar de belas mulheres (do contrário, seria como comprar um Boeing e entregá-lo a um piloto de teco-teco), de celebridades (as tais que agregam valor ao camarote) e tal.
Creio, à distância, que as tais prescrições não fiquem circunscritas à noite paulistana. Hão de ser universalizáveis. Quer tornar-se um rei do camarote? Já sabe como. Aliás, essa deve ser uma das razões pelas quais o tal vídeo tornou-se campeão de visualizações.
- As pessoas foram atrás não só em busca de diversão ou por curiosidade (confesso que, no meu caso, fui tomado por aquele sentimento de vergonha alheia): elas queriam é aprender, mesmo que o tal Alexander nem exista Afinal, é “como se” Sou liberal com relação a valores individuais.
- Cada um viva como quiser.
Você pode viajar de primeira classe? Não hesite: é bem melhor do que a econômica. Faço essa ressalva desde logo para evitar mal entendidos. O que me leva a escrever sobre esse rei não é o caso em si, mas o que ele representa. E tenho a impressão que, na alma profunda do Rei do Camarote (naquele modo-de-ser meio deslumbrado, pouco reflexivo) se esconde o jurista do nosso tempo.
Deixem que eu explique isso melhor. Estou convencido de que há uma fábrica de “lumpens pós-modernos”. O “indivíduo” fruto desse processo não reivindica. Não luta. Apenas reproduz. Esse “indivíduo” age como se o mundo estivesse sempre aí, desde sempre, como no “mito do dado”. Vive no mundo das sombras. Acha que tem o mundo nas mãos só que não tem mãos.
Ele ignora até mesmo que é ignorante. Se morasse debaixo d’água, a última coisa da qual se daria conta seria a água. O que ele faz é alienar-a-sua-ação-ao-outro. Trata-se do novo homem, o que substitui o homo sapiens: É o homo simplifier ou o homo facilitator.
- Um reverteris intellectum.
- O homem da balada (jurídica).
- O rei do camarote.
- Bingo! Eis o ponto de estofo entre o Rei do Camarote e o homo simplifier do Direito.
- Juristas, estagiários, publicitários, jornalistas e jornaleiros Ninguém está livre desse novo tipo.
- Nesta pós-modernidade (sic), a linguagem se aproxima cada vez mais da imagem.
Isto é, “imagem é tudo”. Tudo vira espetáculo. O repórter não consegue falar de um assunto sem mostrar a imagem. Cola-se “palavra e coisa”. Ou seja: parte-se da premissa de que todos são imbecis e não possuem capacidade maior que a do Homer Simpson. Claro, os Homers só entendem o que é uma coisa se a coisa for mostrada.
Eis o “poder da imagem”. Não há espaço para se pensar. A enchente é contada pelo repórter quando está com água pelos joelhos. O nascimento do primeiro bebê do ano somente “pode” ser mostrado se o repórter estiver vestido de enfermeiro(a). É o que chamo de dejà vu midiático. Todo ano tem. Servem, tão somente, para encher o mundo de vazios de sentido e para afundar os Homers no seu sofá de obviedades e tornar suas vidas ainda mais alienadas.
Ali-é-nada As metáforas perdem sua função nessa sociedade do espetáculo, eis que a pretensa metaforização é mostrada “isomorficamente”. Ora, para que metaforizar uma situação se, para explicar a “explicação”, demonstra-se a metáfora? Ou seja, se o repórter quer demonstrar que um time de futebol quer jogar rápido e diz que “está voando”, por que mostrar um pássaro (voando)? Qual é, então, a função da metáfora? Hein? Há um processo de infantilização do indivíduo, como denunciado por Noam Chomsky.
Volto a Llosa. Sua leitura é lancinante. Cortante. Abre sulcos na significância ao mesmo tempo em que vai expondo a(s) insignificância(s) e as indiferenças ontológicas. Soco no estômago. Devemos refletir sobre tudo isso. Vivenciamos tempos duros de perda de sentidos (na ambiguidade da expressão). Neste novo “tempo”, há uma espécie de “proibição de anamnese dos fenômenos”.
Nesse novo “princípio”, vive-se o império dos simples, do standard, transformado em d(en)ominador comum do “real”, proporcionando, assim, um domínio soberano desse mundo de ficções. O homo simplifier (o “homo standard”, o “homo Homer”) veio para ficar.
- E pior: para ficar no camarote e ostentar.
- Se, por um lado, no mundo Homer “imagem é tudo”, não se enxerga para além dela Acho, sinceramente, que fomos derrotados.
- Os dez mandamentos do rei (homo simplifier) Nesse contexto, nada melhor do que apresentar os dez mandamentos do direito pós-moderno (na sua versão simplificada/facilitada/resumida-resumidíssima/compendiada), a serviço do homo simplifier, do rei do camarote manualístico.
Como seria o vídeo contendo esses Dez Mandamentos? Atenção, revista Veja Take 1: Os personagens são todos figurantes, afinal, não há espaço para enunciar. No máximo, reproduzir a prática do senso comum teórico. A trilha sonora: funk, funk, funk Frases soltas, performáticas e argumentos de autoridade.
- Além disso, ouve-se, também, aos berros, chavões e jargões, todos com pretensão metajurídica.
- Alguns já se tornaram memes, como o princípio da verdade real.
- Para que cumprir a lei, se podemos “buscar ela, a verdade real? “Ver-ver-ver, verdade real, au-au-au!”.
- Da mesma forma com o que acontece com os princípios ad-hoc, são os álibis retóricos que servem para o exercício da vontade de poder de quem os utiliza.
Esses clichês são manejados por quem está nos camarotes de maneira atemporal e abstrata, de modo a encobrir seu caráter de manipulação discursiva. Na pista, o caso concreto fica obnubilado em detrimento de teses. O caso concreto não tem lugar no camarote.
- Sim, o camarote é metafísico.
- O conceito assertórico desfila e dança no camarote.
- É o rei dessa pista em que não há lugar para a facticidade.
- Mas ele também é vazio de um sentido a priori, até porque não existe um sentido a priori das coisas – as coisas não têm essência.
- O voluntarismo é o DJ desse clipe.
A trilha é dele! Surge, então, o homo simplifier. Numa das mãos, um “manual-tipo-estudo-fácil-simples-resumido-em-esquemas”, claro, da última edição da estação, afinal, tem que estar na moda. Vestido impecavelmente (“imagem é tudo”, lembra?), não importa se não sabe fazer mais do que reproduzir o senso comum teórico.
Eis, assim, os dez mandamentos do “Rei do Camarote do Direito Simplifier”: Mandamento 1 : Desde estudante, desdenhe dos professores que tentem aprofundar as matérias. Faça abaixo assinado contra esse tipo de sujeito perigoso. Faça intriga contra ele. Semeie a cizânia. Diga que ele não prepara a aula. Diga que você está pagando para estudar Direito e não para ficar lendo Kelsen, Hart ou até mesmo Pontes de Miranda.
Por outro lado, mesmo sem que os tenha lido, não deixe de citar um Kelsen ou um Hart. Decore, por exemplo, a Grundnorm (norma fundamental). Cada vez que você falar em Constituição, faça charme e diga “a Grundnorm” (estará absolutamente errado, porque em Kelsen Grundnorm quer dizer outra coisa mas quem se importa? Como candidato a Rei, você estará agregando valor).
- O contexto é o de menos.
- Isso equivale a vestir-se com as melhores marcas (por exemplo, Gucci).
- Sim, você, que não os leu, é que veste a roupa.
- Nada obstante, colocar-se ao lado desses gigantes agrega valor.
- Mandamento 2 : Exija que o professor adote um livro que tenha toda a matéria (aqui você, futuro Rei, já está preparando o seu próprio mercado!).
E logo pergunte, com ar de liderança, para “se mostrar” para a classe: Isso “cai” na prova? Isso “cai” no exame de Ordem? Se ele disser que não ou que não sabe, eis um bom motivo para um abaixo-assinado contra esse intruso. O lugar dele é a pista (que vá ser mais um em meio aos choldréus); o seu, lembre-se, é o camarote.
Se possível, cobre o estudo somente com base nos esquemas mentais. Mandamento 3 : Quem quer ser o Rei do Camarote da estandadização jurídica precisa vestir os precedentes-grifes do Planalto Central. E os informativos mostram as tendências da estação e da moda. Não importa o conteúdo, se respeitam a normatividade ou não.
Norma? Só pode ser uma senhora A moda é, na ponta da língua, com eloquência, reverberar o último posicionamento desta ou daquela “grife”, deste ou daquele “estilista”. “Olha como essa última súmula cai bem”. “A nova súmula deixou a lei ar-ra-sa-da”. Blá, blá, blá Os compulsivos exercitam sua mania, por que você também não pode? Precisa decorar os informativos todas as semanas (atenção, candidato a Rei: “decorar”, aqui, é de decoreba e não de enfeitar).
Há quem os espere com ânsia “Enfim, o mais recente! Já não era sem tempo”! Isso é estar in e não out. Digo e repito: agrega valor! Não importa o que se vista (ou o que se disse), vale mais a etiqueta (de onde partiu – das grifes judiciárias). Ah: como estagiário, você pode agregar valor no local do estágio, sempre ostentando a literatura resumo-fácil e simplificada.
Carregue o livro bem à vista, para que seu chefe ateste o seu caminho em direção ao camarote Mostre que você tem tudo para chegar lá! Mandamento 4 : Depois de formado, imediatamente se atire nesse mundo das grifes jurídicas. Não se deixe contaminar por eventual mestrado em algum programa mais sofisticado.
Se por acaso quiser fazer pós-graduação, faça um MBA ou uma especialização com cara de cursinho de preparação (que lhe dê o título de especialista fake). Mandamento 5 : Se virar palestrante, tenha sempre piadinhas prontas. Piadas simples e fáceis, é claro, porque ninguém é de ferro. Mais: caminhe no palco de um lado para outro.
10 mandamentos do rei do camarote
Sugere-se também assistir a sermões de líderes de algumas agremiações religiosas. Imite o Missionário Valdomiro. Só não diga aleluia. Atenção: “imagem é tudo”. Capriche no terno e na gravata porque os Homers se focarão nela e não no que você diz. E use um sapato bicudo, bem comprido.
Um pouco de gel no cabelo sempre é bom. Se for mulher, use tailleur. Faça branqueamento dos dentes toda semana. Agrega valor demais! Mandamento 6 : Olhe sempre o novo com o olhar velho. Ou melhor, assuma: desdenhe do novo. Afinal, o “novo” é você! Refletir dá muito trabalho. É só reproduzir enunciados performativos (ementas) ou os enunciados dos tribunais superiores.
Faça o que os “compêndios-tipo-estudo-facinho-bem-simplezinho-resumidinho” fazem. Repetem (glosam) os textos legais, os precedentes e as súmulas dos tribunais, só que invertendo os termos da oração (atenção: oração não é de reza e, sim, de “frase”). Quando falar das cláusulas pétreas, carregue na acepção de “pedra”.
Explique que a palavra “pétrea” vem de pedra. Viu? Já está apto a escrever um compêndio periguete, que é a porta de entrada do Camarote. Mandamento 7 : Por exemplo, ao falar sobre o crime de furto, você repete no texto do seu manual o que diz o artigo 155 do Código Penal, “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”.
Depois, é só explicar a mesma coisa. Você pode dizer que o furto é o ato de “subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem”. Coisa alheia é aquela que pertence a outra pessoa. Para incrementar, você também pode fazer o importante alerta de que “subtrair” é o mesmo que retirar algo e que (ponha em negrito ou sublinhado, para dar destaque!) subtrair, nesse caso, não é uma das operações matemáticas, junto com somar, multiplicar e dividir.
- Aprenda com um livro de Direito Constitucional que circula na praça: a palavra “armas,” no artigo 13 da CF, não quer dizer “armas de fogo”! Captou? Tá vendo, já ganhou umas dez linhas só nesse enchimento de linguiça.
- De grão em grão a galinha enche o papo E o pior é que você vai descobrir que os Homers adoram.
Vende. Agrega valor! Ah: Não esqueça de dizer que “cada um tem a sua verdade”. Se você não se der bem no direito, poderá ser comentarista de futebol. Mandamento 8 : Para seu livro fazer sucesso, tem que ter conceitos “tipo-twitter”: nada que a Luciana Gimenez não possa entender.
- Dê o drible semântico-performativo no leitor.
- Democracia é “dopelopá”.
- Fácil de decorar.
- Em vez de escrever sobre regras, princípios, moral, Direito etc, simplifique e diga: PriVaCoPon (princípios são valores que, em colisão, resolvem-se ponderando! — eis aí outro funk: ponde-ra-ção, ração, ção”.) E o seu leitor está apto para brilhar nas pistas! Invente princípios.
Muitos. Comece explicando que o princípio da felicidade serve para dar felicidade Deixe claro que as cláusulas gerais são cláusulas abertas para ser preenchidas pelos valores do juiz Diga que o Código Civil está dividido em duas partes: uma do legislador, outra, do juiz.
- Afinal, sentença vem de sentire (nunca deixe de lembrar esse conceito genial).
- Isso pode enfeitar bem o camarote.
- Não esqueça de frisar outros princípios (não preciso dizer quais, pois não?).
- E não esqueça, também — porque você é também um “crítico” —, de dizer que o juiz-boca-da-lei está morto.
- Dê ênfase na palavra “moortôo” E que você, como um jurista avançado, aposta nos valores “escondidos” por debaixo da lei.
E cite – sempre – a ponderação, com uma nota remetendo ao texto em alemão do Alexy. Refira que a palavra é Abwägung. É chique. E, é claro, agrega valor e pavimenta o caminho para o camarote. Mandamento 9 : Uma vez que passe em Concurso Público (ou no exame de Ordem), o candidato a Rei não necessitará mais abrir livros.
- A menos que queira escrever seus próprios livros, circunstância em que terá que copiar coisas de outros manuais ou compêndios do gênero (é Ctrl+C e Ctrl+V, o melhor método hermenêutico do Rei do Direito pós-moderno ou tweetado em drops-prêt-à-porter).
- Se for juiz ou membro do MP, poderá dizer, de boca cheia, que “primeiro decide o que fazer com o Direito da parte, para, só depois, buscar o fundamento”.
Será um teleologista. Afinal, a sociedade ungiu você para resolver seus conflitos de acordo com a sua consciência e a sua vontade. Viva a Wille zur Macht. Sempre agregando valor, é claro. Mandamento 10 : Use, em todos os momentos, a máxima de que “na prática, a teoria é bem diferente”.
Você marcará posição. Por vezes, faça brincadeiras do tipo “quer ver o ‘peso’ da Constituição?” E levante a Constituição, ameaçando jogá-la na cabeça do aluno”. Faça piadas com o garantismo. Diga que você vai “garantir a Constituição na cabeça do réu”. Os alunos gostam dos conservadores desse tipo. Como no Círculo do Giz Caucasiano (Brecht), você será o novo Azdak (aquele que sentava em cima do livrinho chamado “constituição”)! Para não esquecer: Depois de uma palestra de um “teórico”, fale mal dele em bolinhos, pelas costas.
“Orgulhe-se” em dizer que “nada entendeu” (principalmente se você estiver no exterior por conta da Viúva e assistir uma palestra de um “teórico”; levante-se e diga sobranceiro: “leio suas coisas e não entendo nada”). Isso agrega valor junto aos aprendizes-de-práticos.
- E os néscios adoram isso.
- Dirão que você, candidato a Rei do Camarote, não tem papas na língua.
- A vida seria mais fácil se não fossem os teóricos, não é? Um candidato a Rei não pode perder tempo com perfumarias, pois não? Agrega? PS : Ainda desenvolverei, em outra coluna, um 11º mandamento tratando do “camarote dos sedizentes críticos” (por exemplo, se você quer fazer carreira de crítico na “academia”, mesmo que do baixo clero, desdenhe de alguns filósofos.
Faça críticas rasas Comece dizendo que Heidegger é um existencialista. E que Gadamer é um relativista Fale mal de Dworkin. Farfalhe da tese da “resposta correta”, dizendo: como isso é possível, se não existem verdades? E acrescente: “- tudo é relativo”! Isso soma “pontos” em alguns setores.
- E você pavimentará seu caminho para o camarote.
- Também diga por aí que ninguém faz análise sobre teoria do direito no Brasil.
- Claro, só você Assim você vai longe.
- Agregando valor(es)! Pequeno reclame publicitário Na próxima segunda-feira (25/11), na Ajuris, em Porto Alegre, a partir das 10h, Ingo Sarlet, Gilmar Mendes e eu estaremos lançando o livro Comentários a Constituição do Brasil (Saraiva-Almedina).
Nós três, mais J.J. Gomes Canotilho, somos autores e organizadores, contando com a colaboração de mais de uma centena de autores. Na manhã desta quinta-feira (21/11) a obra será lançada no Rio, na FGV (Rua da Candelária, 6, das 11h às 12h30). No mesmo dia é a vez de São Paulo, na USP (Largo São Francisco, 95, a partir das 19h).
- Nos dois eventos ocorrerá palestra do professor Canotilho.
- Em Brasília, o lançamento será nesta sexta-feira (22/11) no Auditório do IDP (Via L2 Sul, SGAS Quadra 607, a partir das 19h).
- Não poderei estar no Rio, SP e Brasília por estar viajando.
- Marx dizia que o lumpesinato era uma categoria inútil.
- Eu adaptei, para dizer que o mendigo é o lumpen do proletariado e o pródigo é o lumpen da burguesia.
Hoje em dia há todo o tipo de lumpens por aí. * Lenio Luiz Streck é procurador de Justiça no Rio Grande do Sul, doutor e pós-Doutor em Direito, LEIA TAMBÉM : Os 10 mandamentos do “Rei do Camarote” (do Direito) GEN Jurídico
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Por que o Camarote é metafísico?
Sim, o camarote é metafísico. O conceito assertórico desfila e dança no camarote. É o rei dessa pista em que não há lugar para a facticidade. Mas ele também é vazio de um sentido a priori, até porque não existe um sentido a priori das coisas – as coisas não têm essência. O voluntarismo é o DJ desse clipe.
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